Golpe baixo

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Adormecemos ali mesmo, no grande sofá da sala, em frente a lareira ao calor do fogo e de nossos desejos.

Quando acordei, e ela não estava mais ali.

Não demorou a aparecer com um robe vermelho, vindo até mim sorrindo.

- Bom dia, minha vida.

Me deu a mão, delicadamente me vestiu um robe amarelo.

Me puxou, me dando um abraço e beijando os meus lábios. Logo começamos fazer amor novamente, não nos preocupando com o horário e nem com os funcionários, pois sabíamos que eles não iriam aparecer tão cedo.

Assim que nos saciamos, e recuperamos o folego novamente.

- Vamos tomar café, amor.

Dando a mão a ela, Rafa me levou para até a varanda, onde a paisagem da propriedade poderia ser apreciada em sua total plenitude. A mesa estava linda com rosas vermelhas, doces, frutas, velas vermelhas acesas com cheiro de rosas.

Fiquei tão feliz com o carinho e cuidado dela. Mesmo não sendo boa na cozinha, ela tinha se esforçado para preparar o nosso café da manhã.

Tomamos café sorrindo e conversando mais uma vez sobre os nossos projetos. Eu amava essa troca que tínhamos. Ela era a minha melhor amiga, minha namorada, esposa e mãe da minha filha. Eu não poderia estar mais feliz.

- A Bianca quase estragou o lançamento, uma de suas publicações acabou aparecendo, sem que ela notasse, uma das peças da nova coleção. O que gerou especulações negativas, mas a maioria positiva sobre o que esta por vir. Com isso a expectativa para o lançamento ficou maior.

- Mais atrapalhada que ela, só a Mari.

Rimos juntas.

- Falando nelas, estamos devendo um jantar. – Rafa revirou os olhos. – Bianca passou a viagem inteira enchendo o meu saco sobre isso. Que estava sentindo saudade do seu tempero. Se não fosse a equipe que estava sempre próximo a gente, eu teria voado no pescoço dela.

- Você está cansada de saber que ela só faz isso para te provocar, não é?

- E consegue sempre. – Se inclinando e depositando um beijo rápido em meus lábios, disse. – Sou ciumenta, lide com isso.

- Até parece que não sei.

- E não sou a única, não é?

- Quem disse que eu sou ciumenta? – Me levantei.

- A Titchela, admita. Somos duas ciumentas descaradas. – Ela levantou, me abraçando por trás.

- Fale por você. – Disse, ainda com ela me abraçando. Andamos assim de volta para o interior da casa.

Ela me deu um beijo no pescoço, e no mesmo instante uma corrente elétrica percorreu todo o meu corpo.

Por mais que eu amasse estar com ela, desfrutando a sua companhia. Tinha um compromisso, almoçar com a sua avó. Tinha prometido que passaríamos o sábado em sua companhia, a antecipação da ida da Soso a tranquilizou, pois era mais uma garantia que iriamos. As ultimas semanas estava sendo corrido, então estávamos em débito com ela.

- Nem comece. – A alertei. – Precisamos nos preparar, logo vamos pegar a estrada. Sua avó está nos esperando, e te garanto que tem uma mini furacão muito ansiosa por nossa chegada. Por mais que ela ame a brisa, passar uma noite longe da gente é mais do que o suficiente para que ela acredite que já foi o suficiente estar com a bisa e voltar para casa.

- E eu estou louca pra esmagar ela com todo o meu amor. Morrendo de saudade daquela pestinha.

- Ei! Minha princesinha é um anjo. – Reclamei.

- Assim como você era quando pequena, e olhe que ela só tem seis anos. Imagino o que ela irá aprontar quando chegar aos dez. Espero que não faça metade do que você aprontava e ainda me obrigada a ir junto.

- Nossa. Até aparece que você não gostava.

- Nunca gostei de me colocar em perigo. Subir em arvores, na minha antiga condição era algo que eu só fazia por um único motivo.

- Diversão?

- Claro que não.

- E qual era, então?

- Fascinação por uma mini furacão de cabelos castanhos. Mesmo não entendendo naquela época, não conhecendo o verdadeiro nome, eu sabia que o que eu sentia por ela era grande. E por isso era capaz de topar qualquer loucura, só pelo fato de estar ao seu lado.

Eu me virei, a encarando.

Eu sentia uma pontada ao escutar ela falando sobre o passado, quando não fazia ideia do amor que ela sentia por mim. Já tínhamos conversado várias vezes sobre isso, mas não diminuía o aperto em meu peito. Ela tinha passado por muita coisa calada, e uma delas era me ver apaixonada pelo próprio irmão enquanto guardava para si o que sentia por mim. Por mais que o nosso primeiro beijo na adolescência tenha sido uma com a outra, eu nunca imaginei que ela guardava esse segredo consigo.

Levei uma das mãos até a lateral do seu rosto.

- Eu amo muito você. Sabe disso, não é? – Ela assentiu com um leve aceno. – Você é a calmaria desse furacão aqui.

Coloquei meus lábios sobre o dela, que os entreabriu me dando espaço para aprofundar mais o beijo. Ela passou a me provocar, gentilmente mordendo os meus lábios antes de lambê-los com o deslize de sua língua.

Me afasto, rompendo o contato.

- Banho. Carro. Estrada. Filha. Avó. Almoço. – Falo pausadamente, enquanto me afasto dela.

- Temos tempo. – Ela resmunga, ainda parada.

- Não temos. – Digo indo em direção a escada.

Ela logo vem atrás de mim, me alcançando no meio da escada.

- E assim diz que está com saudade. – Reclama.

- E estou, mas deixa de safadeza. É assim que você diz amar sua filha e avó? – Rebato.

Ela me fuzila com o olhar.

- Golpe baixo.

Não consigo conter a gargalhada que estava presa em minha garganta. Por mais que a Rafa fosse louca por mim, eu sabia o quanto ela era pela Soso. Era só menciona-la que Rafa ficava toda boba e derretida. 

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