Mão de alguém que ele confia

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·         Perspectiva de Renato

Se me perguntassem o que mais me deixou sem chão desde que acordei do coma, eu ficaria em duvida entre dois momentos. Eu não saberia dizer se foi quando descobrir a quantidade de tempo que permaneci dormindo e tudo o que perdi em decorrência desse tempo, ou se foi semanas atrás ao descobrir que a minha própria irmã havia se casado com a garota que eu amo.

Rafaella e eu sempre fomos melhores amigos, além de propriamente irmãos. Sempre sentir uma necessidade de protege-la, ainda mais vendo a forma exagerada que a nossa mãe a tratava. Minha última lembrança de antes do acidente era o seu rosto feliz me contando sobre sua suspeita sobre a Sofia. Ela mais do que qualquer pessoa sabia o quanto eu queria corrigir o meu erro de ter afastado a Gizelly de mim. Ela foi a testemunha de que naquela noite fatídica eu estava mais do que disposto a lutar pelo perdão de Gizelly e ouvir de sua boca que a Sofia também era minha, que era fruto do nosso amor.

Então pensando bem, o que me deixou sem chão não só ao acordar, mas em todos os anos da minha existência foi descobrir que a minha irmã havia se casado com a garota que eu amava, tomando o meu lugar não somente em sua vida, mas também na vida da minha filha.

E o fato de ter recebido varias de suas visitas, de lhe contar como eu estava animado para conhecer minha filha e ainda assim ela ter me escondido a verdade me destroçou. Eu não conseguiria olhar para ela, não enquanto eu ainda estivesse no chão, onde ela me colocou.

Rejeitar suas visitas também estava sendo doloroso para mim, pois apesar de tudo eu a amo. Ela é parte de mim, parte do que sou. Mesmo me traindo desta forma, ainda assim eu sinto sua falta.

Já faz algum tempo que Gizelly se despediu levando Sofia consigo e deixando para trás um ipad.

Ele ainda continua em meu colo. O encaro sem ter coragem de abrir a pagina que ela pediu para que eu olhasse.

- Filho, olha o que eu achei na floricultura aqui do lado. – Ouço minha mãe dizer ao entrar no quarto, me tirando da imersão dos meus pensamentos.

Ela está com um vazo de orquídeas azuis em suas mãos

- Lindas, mãe.

- As orquídeas de todas as flores ela é a soberana. – Diz a colocando na mesinha a minha frente. -  E sabe por que? Porque apesar dessa aparência dela frágil, delicada, ela é a mais forte de todas. Ela só precisa de um pequeno apoio para pegar um pouquinho de sol. Porque nem da terra que ela se nutre, nem da arvore que ela fica pendura ela precisa.

Eu apenas encaro a flor em minha frente, tentando focar nas palavras ditas por ela, mas minha mente me trai voltando as ultimas palavras ditas por Gizelly, me incentivando a dar uma olhada no conteúdo do tablet.

- Que aparelho é esse em sua mão, Tato? – Minha mãe se dar conta dele em meu colo.

- Ah, eu pedir para a Gizelly trazer, para me ajudar a passar o tempo aqui, sabe? – Digo o guardando na gaveta da escrivaninha.

- Para ajudar passar o tempo? Se você está com tempo sobrando, a gente aproveita e faz os exercícios.

- Ah não, mãe. Hoje eu estou indisposto, não dá.

- Renato você não está indisposto não. Eu vejo as suas fichas todos os dias e lá não consta nada.

- O quer? – Eu realmente não acredito no que eu acabei de escutar.

- É. – Ela afirma com a cabeça.

Eu não posso acreditar que, assim como quando eu não passava de um adolescente, minha mãe continua a querer controlar meus horários de exercícios. Antes era os treinos do tênis, agora são meus horários de fisioterapia. Ela só pode estar de brincadeira.

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