Encaro a escrivaninha ao lado da cama, me inclinando finalmente tomo coragem e pego o aparelho e abro o link. Sou direcionado a um blog. Sinto como se o meu coração estivesse prestes a saltar pela minha garganta a fora."Enquanto você dormia" Era o titulo que ela havia escolhido, o que me fez abrir um sorriso irônico ao me lembrar de onde provavelmente encontrou referência para a escolha do mesmo, além de também servir para descrever a nossa situação.
Quando Rafaella estava na casa dos seus três, quatorze anos, não lembro muito bem a sua idade, mas enfim, lembro que ela passou um longo tempo viciada em um filme de romance. Sim, o título em português do filme era: Enquanto você dormia.
Em todas as oportunidades de nos juntarmos para a nossa costumeira maratona de filmes, onde comíamos besteiras escondidos da nossa mãe. Ela, Giselly e eu fazíamos um sorteio para saber quem iria escolher o filme da vez, e todas as vezes que Rafaella era a ganhadora, ela passou um bom tempo escolhendo um único filme, esse.
De tanto assisti-lo lembro muito bem sobre a história. Lucy, a personagem principal, possua uma vida simples, e tão rotineira em seu trabalho e em seu pequeno apartamento que nas idas e vindas de passageiros na estação de trem a qual ela trabalhava, Lucy acaba se apaixonando por Peter, mas sem ser correspondida. Até que um certo dia se encontram de uma forma não adequada para a situação. Peter cai nos trilhos, ela o salva, mas ele acaba entrando em coma. Lucy acaba se aproveitando da situação para se passar como a noiva dele, mas enquanto Peter dormia, seu irmão parece, o Jack, que desperta um certo interesse em Lucy. A história se divide entre os irmãos, provocando uma situação difícil onde Lucy precisará se decidir.
Que ironia, não é?
A final, assim como "Peter", eu também fiquei em coma e fui "trocado" pela minha própria irmã.
Gizelly havia se apaixonada por Rafaella enquanto eu estava dormindo, a vida tinha passado e eu havia perdido muita coisa durante esse tempo, uma delas o crescimento e desenvolvimento da minha filha. Sim, eu tinha uma filha linda e encantadora com a garota, não, ela não é mais uma garota. Eu as vezes consigo esquecer que não somos mais jovens adolescentes inconsequentes, agora somos adultos. Ela cheia de responsabilidades, dona de sua empresa e próprio nariz, eu? Eu continuou sendo eu, mas ao mesmo tempo não sei quem sou. Quando dormir tinha apenas dezoito anos, acordei tendo quase vinte e cinco. Não me tornei um tenista mundialmente conhecido, famoso pelas minhas inúmeras vitorias. Tão pouco me tornei um grande empresário como elas. Eu simplesmente acordei tendo que lidar que se passaram seis anos em minha vida e que tudo o que eu sabia e conhecia não existem mais.
Ao fechar meus olhos, tento não me deixar ser tomado por esses pensamentos. Tento não deixar com que minha raiva ao descobrir que minha irmã havia se casado com a mulher que amo volte a tomar conta de mim.
Ao soltar um longo suspiro, sinto um pouco de alivio em meu peito comprimido.
Volto a encarar o aparelho em minha frente, as fotos de fases diferentes da vida da Sofia na tela.
Ao começar a ler a introdução, já não aguento mais segurar as lagrimas, e as mesmas começas a rolar como cascatas pelo meu rosto.
Os textos começavam como se fossem nadados pela própria Sofia, ela relatando suas experiências, aventuras e desafios. Falando de como aprendeu a andar, comer. De como foi estar doente. Ao final, era na visão da Rafaella que o relato da fase da Sofia a qual estava sendo descrita era finalizado.
Encaro uma imagem da Sofia ainda neném, clico nela e começo a ler a descrição
"Tato, meu irmãozinho. Vim para a casa da vovó, para ela poder cuidar de mim. Eu continuou com febre, é o quinto dia já. Sem ver a Soso, com a Gi sozinha, coitada, tendo que se virar sozinha. Mas mesmo assim, de algum modo estou tranquila. Não pode existir nesse mundo uma mãe melhor para Soso. Não que ela saiba tudo, ao contrário, tem tanta coisa que ela não sabe. Toda hora liga, ou manda mensagem para a vovó, querendo saber como dar a sopa, como tratar assadura...A vovó vem nos ajudando a saber como cuidar da pequena. Quando você acordar também vai precisar do curso intensivo dado por ela, tenha certeza disso. Criança não é tão simples como fazem parecer. A Gi foi muito guerreira ao tomar a decisão de assumir a filha, de ir contra o pai e tomar as rédeas das vidas delas. Mesmo sem saber tanta coisa, ela sabe o principal, que é amar a filha. Acima de tudo e se comprometer com esse amor."
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...