· Perspectiva da Gizelly
Saímos logo depois do café para levar a Soso no parque, como havíamos prometido. Ela adorava quando fazíamos esse programa, exceto por uma coisa, os palhaços. Era a única coisa que ela não gostava no parque, mas o resto ela adorava. Sempre queria andar em todos os brinquedos, principalmente na roda gigante e na montanha russa. O que deixava a Rafa com medo, sempre tentava argumentar com ela que ainda era um bebê para estar andando em brinquedos como aquele, o que nada adiantava.
- Eu não sou um bebê, tenho quase sete. – Reclamou.
Eu rir, mas parei no mesmo instante quando a Rafa me olhou atravessando o olhar.
- Esse brinquedo é muito perigoso, meu amor. Podemos ir no carrossel, será mais divertido. – Rafaella tentou argumentar.
- Não é não. – Ela me encarou. – Mamãe, porque não deixamos a mama ir no carrossel enquanto andamos na montanha russa? A senhora gosta de ir lá, assim como eu. Já a mama é muito medrosa e acha um brinquedo bobo mais divertido que a montanha russa, como pode?
Minha filha poderia não parecer comigo fisicamente, mas ninguém teria duvida que ela saiu de mim, sua alma era igual a minha. Mesmo tão pequena, possuía uma coragem enorme dentro de si.
- Como pode? – Eu repeti a pergunta cruzando os braços na frente do peito, fingindo estar zangada com a Rafa.
O que só fez ela me olhar realmente brava por estar dando apoio a Soso ao invés de tentar persuadi-la a desistir.
- Você é um caso sério, Gizelly. – Ela me fuzilou, depois olhou para a Soso, o seu olhar se suavizou no mesmo instante. – A mama só é mais responsável que a mamãe, isso não é ser medrosa. Só não quero que você se machuque, entende?
- Eu entendo, mama, mas já fomos na montanha outras vezes. Eu tenho idade para brincar nela, e é mais seguro que o carrossel chato. Na montanha tem aqueles negócios que prende a gente, já no carrossel não. Então não precisa ter medo, não vai acontecer nada.
Eu levei uma das mãos a minha boca, a tapando. Não queria que a Rafa me visse rindo.
- Eu seguro forte em sua mão quando sentir medo, você vai se sentir melhor. – Completou Soso.
- Bem forte?
Ela fez que sim com a cabeça, depois completou:
- Bem forte.
- Eu também vou está lá, não vou deixar nada acontecer com as duas. – Disse sorrindo.
O rosto de Rafa se iluminou, esbanjando um sorriso que me deixava sem ar. Ele se aproximou de mim, falando de um modo que só eu pudesse ouvir disse:
- Você me paga. – O modo que ela disse essas três palavras fez o meu corpo se arrepiar.
- Será um prazer. – Respondi usando o mesmo tom.
- Vamos! Vamos! – Sofia começou a pular empolgada chamando nossa atenção.
Rimos com sua animação, pegando uma em cada mão da Soso, partimos rumo ao brinquedo.
Depois de uma manhã divertida no parque, fomos caminhando por um dos lados da extensão de três quarteirões e dobramos uma esquina. Sofia caminhava um pouco a nossa frente, segurando uma girafa de pelúcia, a qual Rafa e tão pouco eu, conseguimos ganhar na barraquinha de tiros. Tive que convencer o rapaz em vendê-la, o que a princípio ele se recusou, mas logo foi vencido. Seguíamos de perto, com alerta ligado.
- Ela está cada vez mais parecida com você, já estou com medo quando ela começar a querer subir aquelas árvores como você fazia. – Rafa suspirou, apertando ainda mais a minha mão enquanto encarava a Sofia a nossa frente.
- Você acha mesmo que ela já não faz isso?
Ela olhou para mim, com espanto.
- Gizelly Bicalho, não me diga que...
Eu comecei a rir e ganhei um tapa em meu ombro de advertência. O que me fez rir ainda mais alto a ponto de chamar a atenção da nossa filha, que antes andava distraída a nossa frente.
- Do que a mamãe está rindo?
- Sua mãe é uma palhaça. – Rafaella respondeu zangada comigo.
Soso estreitou os olhos para mim.
- Eu não gosto de palhaços.
O que me fez parar de rir. E antes que eu explicasse, Rafa fez isso.
- Não é esse tipo de palhaço, meu amor. Vem aqui. – Soso obedeceu, e ela segurou sua mão. – Sua mãe é uma boba que rir de coisas bobas.
Escolhemos um restaurante que tinha um dos melhores cardápios da região, esperamos um pouco até uma mesa da calçada ser desocupada. Ela era perfeita. Sombreada, com uma vista do chafariz no meio da praça. Pedir bebidas para todas: dois sucos de maça e um de laranja.
- A um lindo dia com minha linda família. – Disse, erguendo a bebida para um brinde.
Brindamos com um toque de nossos copos.
Era maravilhoso presenciar a troca que existia entre aquelas que me mostraram o que realmente é o amor, ficar observando as duas tinha virado uma das minhas coisas preferidas a fazer. Elas conversavam sobre a escolinha da Soso, Rafa perguntou como foi sua rotina quando enquanto ela estava longe. Sofia estava lhe dando cada detalhe enquanto Rafa lhe dava total atenção.
- Eu quero um cachorrinho de presente. – Elas chegaram ao assunto do aniversário da Soso. – Já tenho idade para ter um.
- Ainda não sei se é uma boa ideia, vai acabar sobrando para mim. – Reclamei.
- Não mamãe, eu cuido direitinho.
- Você não faz ideia no trabalho que um filhote dar, ainda acho que não é a hora.
- Gi, prometemos que iria dar um filhote no aniversário dela, não podemos voltar atrás agora. Ela prometeu que vai cuidar, não é Soso?
Eu a fuzilei com os olhos, aquela safada estava contra mim de propósito. A vingança por eu ter ficado do lado da nossa filha mais cedo tinha vindo, não da forma que eu pensei que seria. Na cama, é claro.
- Sim, prometo de coração.
- Depois vemos isso, tem muito tempo até lá. – Não iria cair na armadilha de decidir qualquer coisa naquele momento, não com a Rafa a favor da Soso.
- Vamos fazer assim, eu te levo para escolher um filhotinho um dia antes do seu aniversário, deixamos a mamãe em casa e aproveitamos para ter um dia só nosso. Está bem assim? Daqui ate lá você vai aprender algumas coisas sobre os cuidados que o filhote precisa. Combinado?
- Combinado! – Soso disse batendo palminhas animada.
E ela ganhou essa, eu não poderia acabar com a felicidade delas. O brilho no olhar que as duas compartilhavam ao falar fez o meu coração derreter. Sim, eu aceitaria qualquer animal em minha casa só para não acabar com a felicidade daquelas duas.
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...