Alguns minutos depois eu já estava de pé no corredor me despedindo dela. Enquanto caminhava em direção ao estacionamento procurei pelo meu celular, o encontrei lotado de ligações perdidas de Gizelly e mensagens dela perguntando sobre mim. Sabia que iria encontra-la furiosa por não ter respondido as suas chamadas, mas isto não se comparava ao que eu iria encontrar da parte da Sofia, isso fez o meu coração se contrair.
Pelo horário elas já estavam em casa, ou assim esperava.
O caminho de volta pareceu mais longo do que o normal, minha ansiedade em chegar e me desculpar com elas tornava a distância ainda mais sofrida.
Por todo trajeto de volta para a casa que transformamos em nosso lar, pensei nelas, no quanto elas tinham me feito feliz. Os seis anos ao lado delas tinham sido os melhores da minha vida, cada momento que compartilhamos tinha marcado o meu coração profundamente. Lembrei das fases que a Soso passou, pensei também nas que ela ainda tinha pela frente. A tristeza voltou a machucar o meu coração ao lembrar do quanto ela estava empolgada com a apresentação desta manhã, a qual eu tinha prometido que não faltaria. E olha só, não cumprir com minha promessa. Sentir vontade de chorar novamente.
Tinha quebrado uma promessa para a minha princesinha e não sabia como se tinha conserto.
Ao estacionar o carro fiquei feliz em encontrar o da Gizelly, ela estava em casa. Agora me restava ter coragem para lhe contar tudo, eu iria precisar.
Assim que passei pela porta pude ouvir os risos e a melodia que vinha da cozinha, só poderia ser elas. Caminhei de forma cautelosa, o medo ficando mais forte a cada passo que eu dava na direção delas. Pensei que encontraria um ambiente tenso, e repleto de irritabilidade por conta do meu sumiço, mas a cena que eu fraguei era o oposto. Minhas meninas estavam rindo enquanto dançavam felizes pela cozinha, estava uma bagunça organizada. Sentir como se meu coração fosse explodir de tanto amor por aqueles dois seres. Elas ainda não notaram a minha presença, aproveitei para guardar aquele momento em minha memória. As observando se divertirem no ritmo da música.
Quando a música chegou ao fim, resolvi alertá-las da minha presença.
- Mas que cheiro maravilhoso é esse? – Falei, apoiada no batente da porta que dava acesso a cozinha as pegando de surpresa.
Elas pararam os seus movimentos no mesmo instante, o sorriso que carregavam indo embora. Me arrependi de ter as interrompido imediatamente, congelei sem saber o que fazer. Gizelly e Sofia me encararam, a tristeza tomou conta dos olhos das duas, me despedaçando por completo.
- Desculpe, não queria atrapalhar a dança de vocês. – Me apressei em se desculpar. – Eu sinto muito por não ter ido...
As outras coisas que tinha planejado dizer para elas foram interrompidas quando Sofia correu para os meus braços e enrolou as suas mãozinhas nas minhas laterais, agarrando-se como se eu fosse desaparecer a qualquer momento.
- Mama, você voltou para mim. – Disse com a voz abafada. – A mamãe disse que você tinha motivos para não aparecer, mas eu fiquei triste mesmo assim. Você prometeu que iria me ver.
Eu olhei para Gizelly, que também me encarava com os braços cruzados a frente do corpo, sabia que ela estava irritada por não ter retornado suas ligações. Não queria imaginar o que ela sentiria quando descobrisse o motivo.
- É, meu amor, prometi. – Disse alisando os seus cabelos sem tirar os olhos de Gizelly.
- Meu coração ficou muito triste, assim como o da mamãe.
Eu tinha provocado isso.
Tinha lhe provocado este medo nela, o medo de que não iria não estar mais por perto quando ela precisasse. Me inclinei para que pudesse depositar um beijo no alto da sua cabeça.
Peguei o seu rostinho com as mãos e o levantei para que ela me encarasse.
- Perdoa a mama. Nunca mais irei fazer algo que deixe as minhas meninas tristes – Assim eu esperava. – Vamos nos sentar um pouco, preciso ter uma conversa com vocês.
A peguei no colo e ela envolveu as pernas em minha cintura e os bracinhos em volta do meu pescoço. Eu amava tê-la ali, pertinho de mim, onde eu sentia que podia protegê-la de tudo e todos.
- Vamos? – Chamei quase em um sussurro Gizelly, a encarando com um olhar de súplica.
Ela ainda não tinha dito uma palavra, apenas me seguiu para a sala de estar onde nos sentamos no sofá. Sofia em meu colo e ela ao meu lado, agradeci por não se manter distante, precisava dela ao alcance das minhas mãos.
- Eu amo muito as duas. Vocês é e sempre serão o meu mundo, preciso que saibam disto. – Iniciei.
- Amor. – Gizelly suspirou, falando pela primeira vez. – Eu sei.
Sentir coragem para esticar a minha mão e capturar a dela, a tocando. Sentir uma corrente elétrica correr por todo o corpo assim que ocorreu o contato, como acontecia toda vez e esperava que isso nunca chegasse ao fim. Tanto o toque quanto a corrente que ele provocava.
- Também amamos muito você, mama. – Soso disse, com sua voz doce.
Sentir minha garganta se contrair, as lágrimas queimando escondidas no fundo dos meus olhos.
- Eu... – Engasguei.
- Você está me assustando, Rafa. – O seu semblante estava carregado de preocupação, e a mágoa já não estava mais em seu olhar. – O que estar acontecendo?
Eu precisava de uma vez por todas contar para elas que o Tato tinha acordado e que esse era o motivo de ter as abandonado aquela manhã, mas quanto mais eu tentava mais o medo de perdê-las assim que proferisse aquelas palavras me dominava, fazendo com que eu travasse.
Respirei fundo, tentando trazer o máximo de oxigênios para os meus pulmões, o prendendo ate que eles ardessem e reclamassem para que eu liberasse o ar. O soltei, tomando coragem para fazer o mesmo com a notícia de uma vez por todas.
- Eu estou assustadíssima, estou com muito medo de perder vocês, mas estou disposta a correr o risco se isso trazer felicidade para vocês. Pois vê-las felizes é o que mais importa para mim. Sei que tudo irá mudar de hoje em diante, mas não me importo, não se vocês estiverem bem e quero que se lembrem disso. – Comecei a falar de forma disparada, enquanto tentava ir direto ao ponto, mas parecia que quanto mais eu falava menos conseguiria fazer o que pretendia. – Eu amo tanto vocês três, tanto. Vocês são a minha família e sempre será, não importa o que aconteça...
- Vocês três? – Gizelly me interrompeu. – Não estou entendo nada do que você está dizendo. Não quero ser indelicada, e eu sei o quanto você nos ama e tudo mais. Mas eu só quero saber o motivo de você não ter comparecido a apresentação da sua filha e ter sumido por toda a manhã. Então se for para ficar me enrolando, acho melhor eu voltar para a cozinha e me certificar de que o almoço não queime.
Gizelly fez menção de se levantar, eu continuei segurando a sua mão. O que fez com que ela ficasse parada a minha frente.
- Não briga, mamãe. – Pediu Sofia.
- Sua mãe não está brigando. – Disse antes de que Gizelly disse mais alguma coisa. – Não estou enrolando, ou estou. – Admitir sem saber ao certo o que estava fazendo. – Eu só quero me certificar de que aconteça o que acontecer eu sempre irei amar vocês.
- Ok! – Ela disse de forma ríspida.
Eu a tinha deixado novamente irritada.
- A mama não foi assistir a sua apresentação porque recebeu uma ligação muito importante do hospital onde o Papai Tato está internado. – Disse intercalando o olhar entre uma Gizelly brava e uma Sofia triste. – Eu precisei ir até para ver o seu pai, minha pequena. E você não adivinha a boa notícia que sua mama tem para dar a vocês. – Era agora ou nunca, respirei fundo e finalmente disse aquelas palavras. – Ele acordou.
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O que vocês fariam, e como se sentiriam, se estivessem no lugar da Rafa?
Desta vez voltei bem rapido, não foi?!
Beijos e até breve:*
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...