A festa que minha mãe organizou, como imaginei, a maioria dos convidados era do pessoal do tênis e patrocinadores. Algumas com filhos da minha idade, ou próximo a ela. As meninas eram as únicas que eu conhecia com idade próxima a minha, o que eu agradeci.
Tive que participar de algumas conversas chatas com pessoas que eu não tinha nenhuma intimidade e do longo ritual de apertos de mãos e sorrisos falsos que tive que distribuir as pessoas que a minha mãe me obrigou a cumprimentar.
Não que eu tivesse medo dela, mas não queria contrariá-la. Não depois da conversa de ontem em seu quarto. Então decidir fazer tudo o que ela mandava.
A festa mais parecia um encontro de pessoas chatas por metro quadrado, do que a comemoração do meu aniversário. Minha vontade era fugir dali, mas minha mãe me mataria se fizesse isso. Tive que suportar calado e fingir que estava tudo mil maravilhas.
A Rafa apareceu do nada, me dando um abraço de lado.
- Parabéns, maninho.
Eu a amava mais do que tudo, e estava mais do que agradecido por tê-la ali, e principalmente por ser seu irmão.
Gizelly apareceu logo em seguida, se colocando ao seu lado.
- Essa festa tá um saco. – Disse Gizelly revirando os olhos.
Não nos falamos depois da volta para casa ontem, ainda mais depois do que rolou na clareira e da interferência da minha mãe.
- Eu estou achando até legal. – Rafa disse, se soltando do abraço.
Gizelly e eu encaramos a Rafa.
- Você está tirando com a minha cara, não é? – Gi parecia irritada, mas eu sabia que não era com a Rafa, e nem com o que ela tinha acabado de dizer. – Isso aqui tá um porre. Certo foi meu pai, inventou uma viagem para fugir disso tudo.
- Queria poder fugir também. – Disse, mais para mim do que para elas.
- O filhinho da mamãe fazer algo imprudente? Acho que não. – Disse Gizelly me encarando.
- Não sei o que você pensa que sou.
- Um pau mandado da sua mãe?
Neste momento desconfiei de que o motivo da sua raiva seria eu.
- Não sou "pau mandado", apenas sei o que devo ou não fazer. Ao contrário de você que age como se suas atitudes não tivessem consequências. – No mesmo instante que rebati, o arrependimento pelo que disse tomou conta de mim. A última coisa que eu queria era a magoa-la, ainda mais reproduzindo o que minha mãe sempre falava para ela.
- E depois diz que não é pau mandado. – Disse ela de forma acida.
- Gi, Tato, por favor. – Rafa suplicou com uma voz melosa. – Eu só quero ter um dia legal com vocês, não vamos transformar isso numa merda de dia. Ontem conseguimos sair sem problema do flagrante que a mãe nos deu, então vamos comemorar e curtir o dia, mesmo não sendo como vocês desejam. Nem tudo é como a gente deseja, infelizmente ou felizmente. Onde está a Thais?
- Sua querida mãe decidiu dá a ela folga, ou seja, mante a Thais longe da "incrível festinha" que ela organizou.
Gizelly usou os dedos para fazer as aspas no ar.
- Foi legal da parte dela me salvar, minha mãe estava pronta para vim com tudo para cima de mim, quando você saiu correndo. – Rafa disse entrelaçando os dedos.
Eu só sair atrás da Gizelly por saber que ela estava bem ao lado da Thais, que chegou logo após o tapa. E eu agradeci por isso. Minha mãe estaria em uma encrenca sem tamanho se a Thais tivesse presenciado e convencido a Gizelly a contar para o pai sobre o que tinha acontecido. Por mais que não achasse certo o que minha mãe fez, eu não queria que isso lhe causasse problemas.
- Eu não a deixaria fazer nada contigo. – Disse meio sem jeito.
- Com todo respeito, sua mãe é uma tremenda prepotente.
- Pre o que? – Rafaella perguntou, e me deu vontade de rir, mas tive que me controlar.
Gizelly não estava para piadas, e eu não queria causar confusão chamando atenção da minha mãe. Ela levou a mão no rosto, demonstrando impaciência, mas mesmo assim explicou.
- Prepotente. Ela adora abusar da autoridade, ainda mais em cima de quem ela acha que não pode se defender. Não é porque ela é sua mãe que deve te tratar dessa forma, tão pouco a mim.
- Gi, ela não deveria ter te batido. – Rafa lamentou.
Automaticamente, Gizelly levou a mão ao rosto. Como se ainda estivesse sentido o tapa que levou.
Eu não queria trazer a noite passada novamente à tona, ainda mais quando sabia que iria acabar em um possível desentendimento entre mim e Gizelly. Como sempre acontecia quando eu tentava mostrar a ela que as atitudes da minha mãe era procurando fazer o melhor para nós. Então decidir ficar em silêncio.
- Meu pé está doendo. – Rafa reclamou quebrando o clima tenso que ficou.
- Você não deveria estar usando esses saltos, uma babaquice você fazer isso sabendo que ainda não está liberada. Vai acabar jogando todo o tratamento no lixo.
- Aviso isso a sua mãe. – Disse Gizelly de forma acida.
- A mãe insistiu que eu usasse, disse que eu já estou "mocinha" para aparecer de tênis em eventos como esse. Eu avisei que ainda não estava liberada, mas ela me ouve?
- Vamos tirar isso dos seus pés. – Eu peguei em sua mão e comecei a puxá-la para dentro da casa. Gizelly vindo logo atras.
Ficamos esperando a Rafa trocar o sapato no corredor, depois de ontem, era a primeira vez que ficava a sós com a Gi. Sentir uma enorme vontade de explicar a ela o motivo de não ter ido atrás dela quando chegamos. E de falar também o quando eu desejava sentir como era beijá-la, mas ela estava com uma cara, parecia que queria me estrangular. E juro que parecia que ela estava fazendo isso em pensamento, pelo menos era o que seu olhar denunciava.
- Você está brava comigo?
Ela estava encostada na parede, com os braços cruzados a sua frente. Seu olhar estampava um grande aviso, dizendo para manter-se longe. Mesmo assim resolvi ignorar e me coloquei de frente para ela, eu adorava aquela tampinha.
- Vai me ignorar? – Disse usando um dos braços para me apoiar na parede. O que me deixou a centímetros dela.
Ela continuou em silêncio.
- Sério isso? Você realmente não vai me dizer o que ta rolando? Fiz algo que te magoou?
- Que tipo de lista você quer? Alfabética ou cronológica? - Ela perguntou num tom apertado.
- Então eu realmente fiz algo que te deixou chateada.
Ela apenas revirou os olhos.
- Me diz o que eu te fiz, eu não tenho bola de cristal. – Disse encostando em seu ouvido.
- Renato Kalimann, o que significa isso?
Sentir como se a voz da minha mãe estivesse atravessado a minha alma. Eu me afastei no mesmo instante da Gizelly. Sentir vontade de soltar um palavrão, mas me contive. Sentir como se tivesse sido pego fazendo algo muito errado, o que me travou.
- Estamos esperando a Rafa. – Disse Gizelly, num tom inexpresivo soando indiferente. No mesmo instante Rafa saiu do seu quarto, e pegando em sua mão Gizelly continuou. – Vamos, preciso comer algo que preste, talvez encontre na cozinha, porque esse bife deixou a desejar, está uma negação.
Elas saíram, deixando minha mãe e eu para trás.
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Mas tem gente que não larga a aba da mãe, não é?
Adoroooo quando vocês interagem comigo....
Logo, logo volto com mais. 😘😜❤
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...