A mudança

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Continuei parada no meio da escada os encarando.

- Seu pai está lhe chamando. – Thais falou no meu ouvido, me fazendo desviar os olhos deles e se voltar para ela.

Eu alternava o olhar nela e naquelas pessoas ao final da escada.

Thais pegou em minha mão, me fazendo acompanhá-la na descida dos últimos degraus. Eu não sabia se agradecia ou se ficava com raiva por ela ter me levado até próximo a eles. Pude perceber quando o menino se aproximou da garota e lhe disse algo que a fez sorrir. Sentir vontade de subir as escadas novamente e me trancar em meu quarto, mas a mãos de Thais apertou a minha. Era como se ela soubesse o que eu estava pensando, então desistir.

Meu pai soltou a mão da mulher e parou do meu lado, dando um beijo rápido em minha testa ele se virou para a mulher e disse:

- Essa é meu pequeno furacão. – Agora olhando para mim continuou. – Gostaria que você conhecesse uma pessoa especial para o papai, espero que se deem bem.

Aquela frase me suou como um alerta.

Dei um sorriso de canto para ela.

- Oi! Sou a Gizelly. – Estendi minha mão em sua direção.

- Prazer! O meu nome é Genilda e esses são o Renato e a Rafaella, meus filhos. – Disse a mulher aceitando meu o cumprimento.

Ela puxou o garoto para a sua frente, como se ele fosse o motivo do seu orgulho. A menina ficou atras, encarando as próprias mãos cruzadas em sua frente. Evitei encara-la. Não queria causar ainda mais constrangimento do que estava nitido que ela sentia. 

- Pode me chamar de Tato. – Disse o garoto com um lindo sorriso estampado em seu rosto.

Minhas bochechas ficaram tão quentes, rezei para que não tivessem mudado de cor. Ele era muito fofo olhando mais de perto.

- Pode me chamar de Gi. – Respondi sem graça.

Ele era muito lindo. Nunca tinha achado menino bonito, sem graça e chatos sempre, mas bonito era a primeira vez.

Meu pai falou algo sobre eles, mas não conseguir prestar atenção. Então fomos encaminhados para a sala de jantar, e não demorou muito para ser servido.

A menina parecia muito tímida, não disse uma palavra durante todo o jantar, eu não quis forçar amizade. Ela parecia não querer estar ali. Já ele, era o que mais falava, ou melhor respondia às perguntas do meu pai e completava as falas da sua mãe.

Sua mãe se vangloriava por ele ser, como ela disse, "a grande promessa do tênis".

Pude descobrir que ele era um ano mais velho do que eu, já a garota tinha a minha idade. Eu ainda não entendia o motivo para ela ser tão calada, completamente diferente do seu irmão. Mas pude perceber que sua mãe só tinha olhos para ele, pois o tempo todo ela fez questão de mostrar o quão maravilhoso era ele.

Assim que o jantar chegou ao fim, meu pai nos convidou para a sala de estar, foi quando eu percebi que a garota tinha certa dificuldade para andar. Ela mancava um pouco, nada muito grave, mas só pude notar porque desta vez eu vim andando atras de todos.

Assim que todos se acomodaram, meu pai foi até uma bandeja, que já estava a sua espera, com cinco taças, duas de champanhe e três com suco, e nos entregou.

- Esta noite marca o início de uma nova família. – Começou ele, e mais uma vez eu fiquei em choque. Pegando a mão da mulher, ele a puxou para o seu lado. – Gostaria de informa-los que Genilda e eu vamos nos casar.

O chão pareceu sumir debaixo dos meus pés.

Não, aquilo não estava acontecendo. Eu não queria acreditar que meu pai estava dizendo que iria se casar com outra, não iria aceitar. Como ele pode fazer isso comigo? Com a minha mãe? Mais do que nunca queria correr para o meu quarto e me trancar lá e nunca mais sair.

Quando eu estava preste a falar o quanto patético tudo aquilo parecia, sentir uma mão segurar a minha.

Primeiro levei os olhos até elas, depois olhou para aqueles olhos verdes me encarando. Foi como ela me avisasse para não fazer nada que eu viesse a me arrepender. Foi a primeira vez naquela noite que ela teve contato comigo. Eu suspirei fundo para segurar a raiva que sentia dentro de mim. Ela sorriu para mim, parecia um anjo em forma de menina.

Ela me transmitiu a calma necessária para não provocar uma confusão naquele momento. Desviei os meus olhos dos dela quando sua mãe falou, chamando nossa atenção.

- Não quero ocupar o lugar da sua mãe, mas saiba que o amor e carinho que dou aos meus filhos será divido com você. Espero que sejamos felizes nessa nova trajetória. A nossa família. – Disse ela, levantando a taça em um brinde.

Todos deram um gole no líquido em suas taças, eu permaneci segurando o meu sem levá-lo a boca.

Por mais que tivesse ficado calada, não era como se eu estivesse aceitado de bom grado aquela história de nova família.

- Não fica assim, veja pelo lado bom. Vai ser legal ter você como irmã, não que eu não gosto do meu irmão, mas agora será duas meninas contra um. – Rafaella se aproximou do meu ouvido e sussurrou.

Eu tentei achar o lado positivo, mas ainda me parecia algo inexistente ali.

A única coisa que conseguir dizer foi:

- Não quero mudar de casa. – Disse tão alto que meu pai e a mulher levou um susto.

Todos se voltaram para mim.

Eu amava aquela casa, era tudo para mim. Conhecia cada canto e amava a área enorme que possuía do lado de fora, me dando espaço para correr e explorar livremente. Era o único lá que eu conhecia, meu porto seguro. Não queria que isso mudasse. Não queria deixar todas as lembranças que construir ali para trás, para uma nova casa que nem sabia como seria, mas já imaginava que não chegaria aos pés dessa, não importava qual seria o seu tamanho. Eu tinha uma história ali.

- Não há necessidade de isto acontecer. Essa casa é enorme, todos ficarão bem acomodados aqui. Já conversei com a Genilda, ela está de acordo.

Então eu pude perceber que já estava tudo pensado. Aquele jantar era uma mera formalidade, não importava o que eu dissesse ou falasse, a decisão já tinha sido tomada.

- E quando será o casamento. – Perguntei a contra gosto, pois minha curiosidade estava falando mais alto.

- No próximo final de semana. Será algo discreto, só para a família. Vamos fazer uma pequena viagem para comemorar, nada que prejudique a empresa e os seus estudos. – Meu pai respondeu. Agora não mais preocupado comigo, mas também com meus "novos irmãos".

- Tato também precisa manter o ritmo dos treinos, então uma pequena viagem foi a melhor escolha. – Completou ela.

E foi assim que vi minha vida sendo mudada drasticamente.

Neste momento tive certeza que nada seria como antes. 

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