Ficamos em silencio por longos minutos, o silêncio sendo apenas interrompidos pelos barulhos dos grilos e alguns soluços que teimavam escapar da minha garganta.
Tudo o que eu menos queria era chorar feito uma criancinha na sua frente. Não sei o que tinha me dado para ficar neste estado, não foi somente pelo tapa que levei. A esta altura tinha consciência disto.
Ficamos por longos minutos ali, deitados em silêncio. Deixando toda a lágrima que tinha armazenado em meu corpo sair enquanto estava senda afagada por ele.
- Agora está melhor? – ele me perguntou num tom aveludado, quando notou que o choro havia cessado.
Apenas confirmei com a cabeça, o que fez com que eu sentisse os músculos do seu peito.
Seu corpo estava ficando definido, não só por conta do esporte, mas também por sua idade. Tato tinha um corpo mais sensual do que qualquer outro garoto da sua idade, e aquilo era um dos motivos para todas as meninas caírem em cima dele.
Ele era também carinhoso e muito atencioso, o que os babacas dos seus amigos não sabiam o significado, nem se procurassem no dicionário.
- Ela não deveria ter batido em você. Não tinha esse direito. – Disse ele.
Continuei em silêncio.
- Ela se arrependeu do que fez, eu sei. Vi nos olhos dela. Não deixe que isso acaba com a nossa noite. Já falei que amei a festa. – Continuou ele, tentando me animar.
Eu encarava o céu estrelado em cima de nós.
Não me importava se ela estava ou não arrependida do que tinha feito, realmente ela não tinha o direito de me bater. Mas não quis dizer para o Tato, afinal era a sua mãe, e eu sabia muito bem o quanto ele a defendia e a amava.
Por mais que soubesse que ela não era fácil com a sua irmã. Sua mãe tinha certo domínio sobre ele, de alguma forma ela conseguia o deixar sensível às suas atitudes erradas. Ele sempre tentava justificá-las.
Avistei uma estrela cadente, lembrei do que Thais me disse certa vez:
"Quando vemos uma estrela-cadente e fazemos um pedido de coração, esse pedido se realizar."
Fechei os olhos com toda a força que tinha e desejei que minha mãe estivesse ali comigo. Ela saberia me dizer o que estava acontecendo comigo, dentro do meu coração.
Foi quando sentir os lábios de Tato em minha bochecha, e no mesmo instante abrir os olhos.
- Não fica assim. Não quero te ver chateada, hoje era para ser uma noite divertida. Amo quando você sorrir, não deixa ela tirar isso de você. – Sussurrou ele em meu ouvido.
Não conseguir evitar de dar um sorriso tímido para ele, mesmo sabendo que ele não poderia ver no meio daquela escuridão.
- Não vai tirar. – Respondi, também num sussurro.
- Tenho uma surpresa para você, iria te entregar depois da brincadeira. Mas ela foi interrompida. – Ele deu uma gargalhada.
Deu uma cotovelada nele, sem usar muita força para não o machucar.
- Não acredito que você está rindo do que aconteceu.
- Fala que não foi engraçado a cara de espanto que minha mãe fez? E a cara do pessoal quando ela disse que iria chamar a polícia. Pensei que o Caon iria cair de joelhos e implorar no meio do chororô para que ela não fizesse.
- Você não tem jeito. Como conseguir rir de tudo isso, ainda mais sabendo que ela irá contar para o meu pai e nossas cabeças, a minha e da Rafa é claro, estará a prêmio. Afinal, o queridinho nunca leva a culpa de nada.
De repente Tato se move e muda de posição, agora ficando sobre mim. Apoiando os joelhos e mãos no chão, para que o peso do seu corpo não recaia sobre mim. Seu rosto está tão próximo que posso sentir a sua respiração tocar o meu.
- Queridinho eu? – Me pergunta com a voz rouca.
- Sim. O filhinho da mamãe. – Provoquei.
- Então quer dizer que sou "o filhinho da mamãe" para você?
Meu coração começou a disparar, aquela aproximação estava me deixando sem fôlego.
- Para mim não, para ela que lhe protege. E a Rafa? Você a deixou sozinha com sua mãe? – Só agora me lembrando dela.
- Ela está bem e longe das garras da minha mãe, não se preocupe. Então... – Disse ele no meu ouvido, me causando arrepios. – Acho que ainda tenho direito aos meus sete minutos no céu.
- Então você tem que ir atrás da Mari se deseja realizar o seu desejo.
- Não preciso dela para isso. – Disse num tom rouco.
- Você a escolheu. – Minha voz saiu num sussurro.
- A garrafa a escolheu, não eu.
Ele encostou os lábios em minha bochecha, eu sentia o toque dos seus lábios em minha pele e o calor da sua respiração. Fechei os olhos para intensificar aquela sensação. Eu tinha esperado por muito tempo por aquele momento, e parecia que ele tinha finalmente chegado. Eu desejava mais do que tudo ser beijada pelo Tato. Sentir o gosto dos seus lábios. Não pude evitar lembrar do beijo que tinha dado pouco tempo atrás, em sua irmã. Me perguntei se seria como o deda, mas logo me esforcei para afastar esses pensamentos.
Eu gosto do Tato, não como irmão, mas como um garoto por quem eu daria tudo para namorar. Queria muito que fosse ele o primeiro a me beijar, mas isso não importa mais. Agora estávamos aqui e finalmente poderei sentir o gosto do seu beijo.
Esperei pelo toque dos seus lábios nos meus.
Mas não aconteceu, de repente sentir ele se afastando de mim. Ao abrir os olhos o vi de pé em minha frente oferecendo as mãos para que eu pudesse me levantar.
- Acho melhor voltarmos para casa. – Disse ele, num tom firme e distante.
Eu fiquei sem entender, me sentir aturdida. Eu não tinha entendido errado, ele estava me provocando, não poderia ser coisa da minha cabeça. Eu queria gritar com ele e perguntar qual era o problema, mas não conseguir. Apenas aceitei a mão dele e me levantei, assim começamos a caminhar de volta para casa. Tentei soltar a minha mão do seu aperto, mas ele não permitiu, segurou ainda mais forte. E assim voltamos de mãos dadas para casa, o silêncio pairando sobre nós.
Logo chegamos na entrada principal, e não foi nenhuma surpresa Tia Gegê está nos aguardando, no mesmo instante que a avistamos soltamos nossas mãos. Continuamos caminhando até entrar na casa, passo por ela sem a encarar e deixo os dois para trás e subo as escadas correndo em busca do abrigo do meu quarto.
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A vida da gente
FanficPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...