Escolhemos um restaurante que já conhecíamos para o nosso almoço, como era início da semana ele não estava completamente lotado, o que facilitou para nossos pedidos não demorarem a chegar.
Enquanto Rafa ajudava a Soso a cortar seu bife em pequenos cubos, eu as observava com um largo sorriso em minha cara. Mesmo dizendo firmemente a Sofia que ela já estava na idade de se virar sozinha cortando sua própria refeição, Rafaella nunca deixava de ajuda-la.
- Você precisa fazer isso sozinha. – Disse mais uma vez, antes de devolver os talheres para a Sofia.
- Mas minhas mãos são tão pequenas, as vezes não consigo sozinha. – Argumenta Soso.
- Os talheres cabem direitinho nelas na hora de comer as bobeiras que você gosta, como pizza. – Rafa estreita os olhos para ela.
- Mas aí é diferente. – Soso dá de ombros.
- Diferente como? – Rafa pergunta com uma sobrancelha elevada.
- Olha o tamanho desse trem, é grande demais para uma criança. Pizza é fininha, beeem mais fácil de cortar. Minhas mãozinhas não fazem tanta força pra isso. – Ela as sacode na frente do rosto.
Prendo os meus lábios na tentativa de disfarçar a vontade de rir com o que é dito pela minha pequena. Então desvio meu olhar para Bianca e Maria, elas estão discutindo sobre algo que Bianca disse.
- Não Bi, não inventa de fazer isso hoje. – Ouço Mari reclamar quando voltou minha atenção para elas. - Eu não acredito que você chamou as meninas sem perguntar a gente primeiro.
- Perguntar o que a gente? – Pergunto chamando a atenção de todas a mesa.
- Era só uma festinha fora de hora. – Bianca sorrir amarelo.
- Você não fez isso! – Sem querer elevo um pouco a voz, assim consigo chamar a atenção de todos da mesa, além de ter alguns pares de olhos voltados para nós de algumas mesas próximas.
Eu já sabia que Bianca era muito fora da casinha, mas cogitar um encontro em plena segunda-feira, ainda mais sem um breve planejamento está fora de questão.
Tendo Sofia como nossa maior prioridade, Rafa e eu sempre nos organizávamos antes de cogitar nos reunir com o nosso grupo de amigas, pois sabíamos que ao fazer isto acabaria com bebidas e algumas frases proibidas aos ouvidos da Soso. Eu já havia dispensado a presença da Thais para hoje, assim como avisado a escola sobre o motivo da falta da Sofia, o que a deixava totalmente sobre os nossos cuidados. Então, por mais tentadora que fosse aquela ideia de Bianca, ela estava fora de cogitação. Ainda mais por conta dos últimos acontecimentos.
Ainda não tive a oportunidade de conversar com Rafa sobre o meu encontro com o Renato, assim como precisamos sentar um pouco com a nossa filha e conversar sobre a nossa ida a psicóloga amanhã.
Sofia já estava tendo sua rotina alterada, ter faltado a escola hoje já foi algo que me deixou receosa. Não pude deixar de pensar que talvez ela ligue essa pequena mudança como algo negativo vindo do retorno do Tato para as nossas vidas.
- Quem não fez o quer? – Rafa me encarando, uma de suas sobrancelhas arqueadas.
- Não, eu não fiz. – Bianca revira os olhos. – Eu apenas pensei que seria legal. A maior idio...
- Bianca. – Chamo sua atenção antes que ela termine a palavra.
Ela segue o meu olhar até a Soso.
- Bianca, ao que parece, estava cogitando dar uma festinha fora de hora. – Digo olhando para a Rafa, respondendo a sua pergunta. Voltando a encarar Bianca continuou. – Quero saber o que tem dentro dessa sua cabeça.
- Vê se pode uma coisa dessa? – Diz Mari. - Não é porque não trabalhamos hoje que devemos fazer do restante do dia uma festa.
- E porque não? A vida passa tão rápido, cabe a nós aproveitar cada momento como se fosse o último. – Rebateu Bianca.
Não pude evitar olhar na direção de Rafa.
Eu sabia que aquela frase inocente dita por Bianca a atingiu, não nego, ela também em atingiu. Me fez pensar imediatamente no Tato, e como as coisas aconteceram tão rápido entre nossas vidas.
- Porque não somos mais adolescentes, e temos obrigações a cumprir? – Perguntou Mari retoricamente, como se fosse algo muito obvio.
- Mas como vocês são uma chatas, não sabem se divertir na mesma proporção que trabalham duro. – Bianca continuou. – Tipo, chefinha, você já é a dona da porra toda, pra que caralho se preocupar em qual dia da semana tiramos de folga para relaxar?
- Bianca! – Rafa e eu dizemos ao mesmo tempo em reprovação. Ela leva a mão a boca.
Minha vontade é de arrancar a língua da minha amiga, mas Sofia começa a gargalhar. Ficamos alguns segundos sem saber como reagir, mas sua gargalhada tão doce e tão gostosa foi capaz de transformar o ar ao nosso redor, nos levando a rir junto com ela.
- A tia Bia... – Soso falava entre a gargalhada. – Tia Bia, que feio.
- Sim, Bianca, muito feio. – Digo, tentando recuperar o folego.
- Nem pense em repetir essas palavras. – Rafa diz para Sofia, que ainda rir, mas agora de forma mais contida. - Sério, Bianca? Eu vou acabar te proibindo de chegar perto da minha filha. – Rafa fala após se recuperar do riso, adotando um semblante sério direcionado a Bianca. – Isso lá são modos de se falar perto de uma criança?
- Eu... Foi sem querer. – Bianca faz um bico de pesar.
- Não tem como te defender, Bi. – Mari diz, antes de levar o copo até a boca.
Eu sei que ela está o usando para esconder seu sorriso insistente.
Por mais que a Bianca brincasse constantemente provocando a Rafa, como se não a temesse, sabíamos que ela morria de medo das broncas da maior.
- Desculpa chefinha. – Bianca da um sorriso amarelo. – Foi mal Soso, não aprenda essas coisas com a titia aqui, se não serei uma mulher desempregada e sem uma sobrinha maravilhosa em minha vida. O que tia Bia falou foi muito feio, não é?
- Sim, foi. – Sofia concorda.
- Então nada de repetir, não é? – Bianca pisca para ela.
- Não, não irei. – Sofia rir de forma cumprisse.
- Eu estou falando sério, Bianca. – Alerta Rafa.
- E eu também, ué. – Bianca num tom baixo.
Após mais alguns sermões de Rafa direcionado a Bianca, voltamos nossa atenção para as nossas refeições. O almoço durou um pouco mais de uma hora, entre reclamações de Rafa pelo linguajar de Bianca, conversas sobre a empresa e apresentação da Sofia, conseguimos manter uma conversa animada na mesa.
O que me fez respirar um pouco mais tranquila pela aquela trégua de reviravoltas em nossas vidas. Um pouco de normalidade e risos estava fazendo mais do que bem neste momento.
Duas horas depois estávamos em casa
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...