· Perspectiva da Rafa
O céu começava a ganhar cores alaranjadas quando despertei ao lado daqueles que se tornaram as pessoas mais importe da minha vida. A Gi e a Soso dormiu de forma serena, uma de cada lado. Soso estava aconchegada em meu corpo, a cabeça apoiada em meu braço, enquanto a Gi dormia com a sua cabeça apoiada em meu peito. Eu não conhecia melhor sensação no mundo que superasse essa, ter as duas grudadas a mim.
Eu não poderia estar mais feliz.
Estou vivendo ao lado da mulher que amo desde a infância, que sempre foi e será meu grande amor. Tenho uma filha maravilhosa que a amei desde a primeira vez que meus olhos a avistou, mas em contra partida, ainda me sinto um pouco triste ao me lembrar do meu irmão. As vezes sinto que tomei o seu lado como minha mãe sempre faz questão de jogar em minha cara.
Talvez fosse ele quem deveria estar aqui, com elas dormindo em seus braços e não eu. Esse pensamento me faz sentir um aperto forte no peito.
Tento registrar todas as etapas da vida da Sofia, para quando o Tato acordar possa ver o quanto nossa pequena cresceu e consiga ver, mesmo que só por registro, cada detalhe da sua vida. Comecei escrever um pequeno diário digital no dia que passei a morar com a Gizelly e todas as vezes que levamos a Soso para visita-lo lia para ele os registros. Os poucos momentos em que ficávamos a sós lhe contava algumas coisas sobre a minha empresa. Eu só tive coragem de lhe falar da minha vida pessoal quando fui lhe contar que amava a Gizelly quando começamos a namorar e quando nos casamos, foram as únicas vezes que toquei no assunto com ele, mesmo não tendo a certeza de que o estado em que ele está lhe permitisse ouvir.
Gosto de acreditar que sim, que ele pode nos ouvir e que de alguma maneira ainda se mantem conectado conosco.
- Acho que alguém está sonhando acordada. – Gizelly diz numa voz rouca me encarando.
Não tinha notado que ela havia acordado até esse momento.
- Olá! – Digo lhe oferecendo um sorriso.
- Oi! – Ela devolve. – Estava longe, aconteceu algo?
Sinto uma leve preocupação no seu tom de voz.
- Não. Só estava pensando nas garotas. – Tento espantar sua preocupação com minhas insinuações.
Ela ergue uma das sobrancelhas.
- Que garotas, Rafaella?
- Quem é, Rafaella? – Provoco.
Ela se levanta se sentando ao meu lado e cruza os braços na frente do peito, semicerrando os olhos.
- Deixa de ser boba, amor. – Eu não consigo me controlar e começo a rir, o que a faz ficar ainda mais emburrada. – Depois vem me dizer que não é ciumenta.
- E não sou. – Ela se levanta.
Soso ainda dorme apoiada em meu braço, o que me impede de também levantar e a puxar para um abraço. Não quero acorda-la de forma bruta para não assusta-la.
- Estou vendo como não é. – Soso se remexe um pouco, mas continua dormindo. – Uma das garotas que eu estava pensando é tão ciumenta, mas o problema é que ela não admite. Já a outra garota, essa é um anjinho dorminhoca que eu preciso acordar com beijinhos, se não mais tarde vai me dar um trabalhão. – Começo a enche-la de beijinhos.
- Você é tão boba. – Me fuzilou com os olhos. – Gosta de me provocar.
Eu parei de atacar minha filha com beijinhos e a encarei.
- Gosto de fazer isso e muito mais com você. – Deu uma piscada para ela que riu com meu gesto.
Gizelly volta para o pequeno amontoado de lençóis no chão, desta vez se colocando ao lado da Sofia, e começa a distribuir beijinhos em sua barriga, fazendo cosquinhas nela.
- Hora de acordar, mocinha. – Diz no intervalo dos beijos.
Sofia continuou com os olhos fechados, mas eu e Gizelly sabíamos que ela já estava acordada.
Começo a alisar os cabelos da Soso, tirando alguns fios que caíram em seu rosto. Ela era tão manhosa quanto a Gizelly, se contorcia em meus braços fingindo ainda estar dormindo. Diferente da Gizelly, a aparência de Sofia tinha vindo do lado genético do Tato. Com seus cabelos loiros e olhos verdes, mas seu espirito ela tinha herdado da Gizelly. As duas possuía o mesmo espirito desbravador, as arvores estavam de prova. Ela era um pequeno furacão como a mãe e eu sou perdidamente apaixonada por elas.
- Hora de se despedir da bisa. – Disse em seu ouvido. – Ou preferi ficar aqui com ela?
- Não! – Ela deu um gritinho, se colocando de pé. O que fez a Gizelly levar um susto e quase cair para trás com o rompante da pequena. – Você não podem me deixar.
- E não vamos, mas se continuasse dormindo não teríamos escolha. – Expliquei.
- Já estou acordada.
Olhei para Gizelly, que tentava segurar o riso. A vontade de agarrar aquela mulher e enche-la de beijos tomou conta do meu corpo. Ela era tão linda, mas ao lado da nossa pequena sua beleza se intensificava. O brilho ao olhar para nossa filha iluminava a sua alma, fazendo meu coração transbordar.
- Venha aqui me dá um beijo então. – Ela abriu os braços para que a Soso fizesse o que foi pedido.
Soso foi para os seus braços, Gizelly voltou a enche-la de beijos, desta vez em seus bochechas.
- Também quero participar desse abraço e ganhar beijos.
- Vem, mama!
E assim fiz.
Após arrumar a pequena bagunça que fizemos no meu antigo quarto, fomos nos despedir da minha avó.
- Estamos indo, tenho que ir para casa antes que escureça. – Disse ao encontrá-la na cozinha. Minha semana será complicada, então é provável que só possa voltar aqui no final de semana.
- Não se preocupe, filha, estarei ocupada com a mudança do galpão. – Minha avó organizava um baile para a terceira idade, mas precisou procurar outro local para continuar com o evento, pois o proprietário do antigo lugar pediu para que desocupassem. – Temos que reformar o novo local. Quero poder retornar com os bailes o quanto antes. Estarei atarefada essa semana.
- Eu quero ir pro baile dançar que nem a mama, mas a bisa disse que não posso. – Reclamou Soso cruzando os braços na altura do peito e fazendo um biquinho tal como Gizelly.
- Sua bisa está certa, você ainda é muito novinha para ir. – Gizelly a pegou no colo com um pouco de esforço. – Apesar da mamãe quase não conseguir pegar você no colo como antes, você ainda é uma neném.
- Eu não sou neném, tenho seis anos. Sou uma mocinha. Não é, mama?
- Você irá ser sempre uma neném aos nossos olhos. – Me aproximei dando um beijo em sua bochecha.
Ela fez ainda mais bico. O que nos fez rir.
Não importa quantos anos ela tivesse, ela sempre seria nossa pequena. Nosso neném e nada iria mudar isso. A encarei no colo da Gizelly, que se esforçava para mantê-la ali, pensei no quanto ela estava crescida. Nas coisas que passamos juntas, nos momentos únicos que presenciamos e que meu irmão não teve a oportunidade de estar presente, não fisicamente.
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...