O tema da feirinha era a primavera. O evento contava com uma amostra de arte elaborada pelas series maiores, onde tendas montadas na parte externa da escola exibiam as obras dos alunos. Já no teatro aconteceria a apresentação de todas as turmas, cada uma com sua temática, abordando o tema. A abertura seria uma peça encenada pela turma da educação infantil, contando a história da "Margaridinha Branca", a apresentação da turma da Soso seria em seguida, eles iram recitar poemas autorais elaborado em sala com o auxílio da professora, o que me deixou curiosa para saber o que a minha pequena tinha aprontado, pois ela não quis revelar nada sobre o poema. Insistiu para que só ouvíssemos durante a apresentação.
Escolhi um dos assentos logo a frente, mas não tão próximo ao palco, de modo que pudesses vê-la sem problema e ela também nos ver sem qualquer dificuldade para nos localizar em meio a multidão de pais, funcionários e alunos no auditório.
A diretora da escola, também coordenadora do evento, começou a agradecer a presença de todos ali, e discursar sobre a importância de se realizar eventos como esses.
Olhei para a assento ao meu lado ocupado pela minha bolsa, ao invés da Rafa, e sentir a minha preocupação aumentar.
Peguei novamente o meu celular e verifiquei se havia alguma resposta dela, mas ela nem mesmo tinha visualizado a última mensagem. Pelo tempo ela já deveria ter chegado. Acabo não escutando mais o que era dito pela diretora, tento ligar novamente para Rafaella de forma discreta, mas a chamada chama até cair na caixa. Tento mais uma vez e obtenho o mesmo resultado. Então decido enviado outra mensagem, mesmo sabendo que ela ainda não viu a anterior.
Coloquei o celular novamente em meu colo quando percebi que a apresentação dos pequenos estava começando.
O cenário era um jardim repleto de flores representada pelas crianças, uma máscara enorme no formato de flor com um buraco no meio para as crianças colocarem seus rostinhos pintados de amarelo.
A narradora começa explicando um pouco sobre o enredo da história, assim que todas as crianças ocupam os seus respectivos lugares ela começa a narrar.
- Margaridinha Branca dormia na sua casa, embaixo da terra. Um dia, bateram à sua porta. – Disse a narradora.
- Toc... toc... toc... Margarida, sou a Chuva! Quero entrar na sua casa! – Continuou a narradora, nesse momento uma criança vestida de pingo de chuva se levantou e foi até uma porta instalada no meio do cenário.
- Não, não, Dona Chuva. Vou ficar toda molhada. – A narradora falava enquanto uma outra criança, desta vez vestida de margarida branca se colocava do outro lado da porta.
- A chuva foi-se embora. A Margarida continuou dormindo. Passou um tempo. Bateram outra vez à sua porta.
Sentir o celular vibrar em meu colo, meu coração deu um sobressalto com a possibilidade de ser a Rafa, mas logo a decepção tomou conta de mim. Quem estava me ligando era a Marcela, resolvi não atender. Alguns segundos depois recebi uma mensagem dela perguntando como estava sendo a feirinha da Soso, lembrei que tinha comentado com as meninas a respeito. Resolvi da uma resposta breve para ela, e voltei a verificar se a Rafa havia pelo menos visto as minhas mensagens, mas nada tinha mudado desde a última verificação.
- O vento foi se embora. A margaridinha continuou dormindo até ouvir outro barulho. – Disse a narradora.
Voltei a prestar atenção na apresentação.
- Flap... flap...flap... Margarida, sou o Sol! Quero entrar na sua casa.
Uma criança caracterizada de sol estava desta vez em frente a porta.
- Não, não, senhor Sol. Vou ficar toda queimada. – A criança que representava a margarida branca se posicionou próximo a porta.
E assim a criança vestida de sol se retirou como as outras fizeram ao receber a rejeição da margarida.
O celular vibrou novamente, Marcela havia mandado outra mensagem.
"Pensei em ir, mas como você disse que era algo só para os pais e alunos. Queria tanto ver a Soso se apresentar, ela deve estar linda. Depois me manda uma foto dela?"
As meninas queriam ir para o evento, mas era restrito a pais e alunos e funcionários da escola. O que gerou um ar de frustração nelas, mas principalmente na Marcela. Tínhamos nos reaproximado a algum tempo, nossa amizade tinha acontecido de forma natural quando a conheci no acampamento quando ainda tinha dezessete e minha realidade era completamente diferente da de hoje. Mas já a da Marcela não tanto, ela continuava com aquele ar hippie. Parecendo sempre estar pronta para se conectar com a natureza, talvez por isso tenha escolhido a obstetrícia como área de formação, ela acreditava na mãe natureza e no poder feminino. Eu gostava dela, ou melhor de todas as meninas, e era grata por conseguir me reconectar com cada uma delas. Mas a reaproximação da Marcela não foi bem quista pela Rafa, desde a época da adolescência a Rafa criou uma antipatia pela Marcela. Tentei entender o motivo, mas a Rafa nunca me dizia.
''Mando sim, prometi mandar no grupo assim que terminar a apresentação"
Respondi a mensagem e voltei a prestar atenção no palco.
- O sol foi-se embora. A margarida continuou o seu sono. – Disse a narradora. – Mas, um dia, ela escutou três vozes alegres: Vento, chuva e sol:
As três crianças que representavam esses três voltaram para o palco se posicionando de frente para a porta novamente.
- Toc...toc..chu...chu..flap...flap... Margarida somos a Chuva, o Vento e o Sol! Viemos buscar você para ver a primavera! – Continuou a narradora.
Desta vez a flor que representava a margarida Branca finalmente abriu a porta.
A criança que representava a chuva pegou a mão direita da Margaridinha, o Sol pegou a mão esquerda, e o vento segurou do Sol. As quatro crianças andarem em direção as outras que estavam sentadas em uma das pontas do palco representando o jardim. Algumas vestidas de flores, outras de pássaros e algumas apenas representando propriamente as crianças.
- A primavera chegou... A primavera chegou... – Disseram todas as crianças do palco.
E todos começaram a cantar uma canção de primavera.
Assim que a canção chegou ao final, a turma foi para a frente do palco, todos de mãos dadas e fizeram a referência em agradecimento enquanto a plateia aplaudia de pé.
Agora seria a vez do recital de poemas da turminha da Sofia, olhei novamente para o assento vazio ao meu lado. Rafaella ainda não tinha chegado, o que me deixou irritada. Ela iria perder a apresentação da nossa filha, quebrando a promessa de que não deixaria o trabalho atrapalhar nossos planos.
A diretora voltou para o palco, falando mais uma vez sobre a importância do evento.
Aproveitei para pegar novamente o celular e mandar outra mensagem para a Rafa. Foi quando sentir a presença de uma das professoras da Sofia.
- Poderia vir comigo? – Disse num tom baixo, mas que fosse o suficiente para que eu a entendesse.
Assim a seguir em direção as portas de saída do teatro.
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...