· Perspectiva de Gizelly
- Quero esperar a mama aqui, não quero ficar longe. - Sinto o puxão repentino ocasionado por sua parada abrupta no meio do corredor. – Por favor, mamãe.
Encaro aqueles pequenos olhos suplicantes me encarando em expectativa.
- Podemos esperar por ela na área da lanchonete do hospital enquanto você toma um sorvetinho, o que acha?
- Não, mamãe. Não quero tomar sorvete. Por favor, vamos esperar a mama aqui.
- Tudo bem. Podemos aguardando por ela ali. – Aponto para o posto de enfermagem, ele ficava a uma distância segura do quarto do Renato. – Aproveito para verificar se a Dra. Dani está lá, preciso tirar algumas dúvidas com ela.
Invento a desculpa para afasta-la da porta do quarto do Renato.
Sofia olha em direção ao posto de enfermagem, depois volta a encarar a porta do quarto ocupado pelo Renato.
- Ei, está tudo bem lá dentro.
- Mas a vovô está falando muito alto, mamãe. A mama deve estar com medo dela. – Sofia ainda encara a porta.
- Não, meu amor, sua mama está bem. Vamos esperar por ela ali, assim quando ela sair podemos tomar sorvete juntas.
- Mas...
- Vamos. – Insisto.
- Vamos!
Ao chegar no posto de enfermagem, começo a puxar uma conversa com uma das enfermeiras que estava ali, só para tirar o foco da Sofia do que estava acontecendo no quarto.
Uma senhora, aparentando está na meia idade parece entender meu olhar quando começo a conversar sobre coisas desconexas com ela, ao invés de questionar a onde eu queria chegar com a conversa, ela apenas responde como se aquela conversa não tivesse nada de estranho.
- Minha pequena vai completar sete anos em breve, então eu me preocupo muito com ela. – Digo para a senhora.
- Sei bem como é, o meu filho já tem trinta e dois, e mesmo assim vivo preocupada. Isso nunca passa. – Ela me responde.
- Então, como eu estava dizendo... – Olho para a Sofia ao meu lado, ela ainda continua a olhar em direção ao quarto do Renato. - Eu acho que vou aproveitar para atualizar a caderneta de vacinação da Soso, sabe me dizer se aqui no hospital tem uma área de vacinação?
- Deixe me ver – Ela bate dois dedos no queixo, como se estivesse pensando. – Sim, tem uma área sim.
- Então vou leva-la até lá, aproveitar que estamos aqui.
- Ei, não foi pra isso que me trouxe aqui. Eu não quero tomar nada. – Sofia puxa o meu braço para que eu a encare. – Mamãe, você disse que iria ser só uma visita ao Renato, não é justo.
Tento segurar o riso em resposta a sua carinha emburrada e por estar feliz em conseguir finalmente ter a sua atenção.
- Já estamos aqui, não faria mal algum aproveitar e atualizar seu caderninho. – Digo, tentando soar o mais seria possível.
- Não, mamãe. Por favor, hoje não. – Ela me implora.
- Tem medo de agulhas, pequena? – Pergunta a enfermeira.
- Não é medo, eu só não gosto de ser espetada. – Responde Sofia levando a mão direita ao braço esquerdo, como se estivesse sido picada naquele local.
- Entendo. – Se inclinando um pouco mais sobre o balcão, a enfermeira continuou. – Vou te contar um segredinho, eu também não gosto de ser espetada, mas as vezes é o que temos que suportar para termos uma boa saúde.
- Mama sempre me diz que é um pequeno preço que devemos pagar para ter uma vida boa. – Sofia estreita os olhos. – Mas isso não me parece um pequeno custo, mas sim um dos gradão. Dói demais para ser pequeno.
A enfermeira solta uma gargalhada com a explicação da minha filha, o que me fez sorrir também.
- Você tem uma pequena muito esperta. – Ela diz, ainda rindo.
- Coloca esperta nisto. – Afirmo.
Ter atendido ao pedido da Sofia foi a melhor coisa que fiz, afinal, eu também não queria ir tomar soverte enquanto Rafaella enfrentava a sua mãe e irmão, e sabe-se lá o que mais, sozinha naquele quarto com eles. Não que eu achasse que o Renato fosse lhe fazer algo de ruim, mas o mesmo não poderia ser dito sobre Genilda.
Eu queria ter podido ficar ao seu lado, segurando sua mãe e lhe passando apoio enquanto Rafaella começasse a contar para o irmão sobre nós, sobre nossa família. Queria muito estar com ela e apoia-la, e mais do que isso eu queria proteger.
Mas não podia, não com Sofia ali, a minha prioridade era ela naquele momento, e também da Rafa. Eu deveria protege-la da Genilda e de suas palavras repletas de veneno.
Observo Sofia em uma conversar animada com a enfermeira, que não me dou conta da chegada da Dra. Dani, só a noto quando vejo a enfermeira a cumprimentar.
- Gizelly. – Ela me cumprimenta de forma seca.
Nunca entendi o motivo do seu tratamento frei comigo, e por mais que as vezes eu tente colocar em minha cabeça que isso é fantasia minha, eu sei que realmente existe algo errado no modo como ela me trata.
- Dra. Dany. – Meneou a cabeça.
- Oi pequena, que bom vê-la aqui. – Ela se abaixa para ficar na altura da Sofia.
- Oi. – Sofia sorrir para ela. – Vim visitar o Renato com a mama e mamãe.
- Estou sabendo, pensei que estivessem ainda no quarto. – Ela se coloca ereta. – Pensei que talvez fosse um bom momento para verificar como estava sendo a visita e aproveitar para monitorar o estado do Renato. Acabei tendo que ir atender a um chamado, não pude acompanhar a Rafaela e Genilda até o quarto.
- Você sabia que a Genilda viria? – Minha pergunta soou mais como uma acusação do que propriamente uma pergunta.
O que a pegou de surpresa.
- Eu... – Ela gaguejou. – Eu não entendi.
Ela só poderia estar brincando com a minha cara. Era obvio que ela tinha entendi a minha pergunta, querendo ou não ela sabia muito bem como a relação entre Genilda, Rafa e eu era delicada. Mesmo não tendo todos os detalhes das nossas vidas, ela tinha bastante ciência de que nossas visitas aconteciam em momentos distintos por motivos óbvios.
- Não era a hora dela está aqui, tínhamos marcado a visita neste horário...
Antes que eu pudesse continua, ouço a voz de Genilda no corredor gritando por ajuda.
Sinto como se o meu coração estivesse batendo em minha garganta, pulsando em busca de um caminho para fora do meu corpo. Ao mesmo tempo sinto um corpinho grudar a lateral do meu, e suas mãozinhas agarrarem as minhas pernas.
Vejo a enfermeira sair detrás do balcão e juntamente com Dra. Dani irem em direção a Genilda.
Sentir Sofia me apertar ainda mais. Com cuidado retiro suas mãozinhas do aperto e a puxo para o meu colo.
- Calma, meu amor. Não deve ser nada demais. – Tento acalma-la.
- Mama. – Ela choraminga, chamando por Rafaella.
- Ela já está vindo. Está tudo bem.
E como se estivesse ouvido o chamado da nossa filha, Rafaella aparece no corredor. Ao visualizar o seu semblante ao sair do quarto do irmão pude perceber que as coisas tinham ficado piores do que eu tinha deixado, que ao contrário do que eu tinha acabo de falar com minha filha, algo de ruim havia acontecido.
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...