Ficamos um longo tempo ali conversando com a Soso, falando um pouco mais sobre o seu pai e recontando nossas histórias compartilhadas na infância. Até que a nossa filha, exausta, pegou no sono. Assim que Rafa a acomodou de forma confortável em sua cama, nos retiramos para o nosso próprio quarto.
- Preciso de um banho. – Disse com a voz exausta assim que entramos no cômodo.
- Antes de você tomar banho, precisamos conversar.
Rafa parou no meio do nosso quarto, virando-se para me encarar. Seus cabelos bagunçados me fizeram lembrar a garotinha que fora um dia, tentando me alcançar nas brincadeiras que eu inventava para nós.
Seu semblante transparecendo confusão e tristeza.
Ela olhou para mim, depois desviou o olhar. Sentou-se no recamier.
- Queria que tivéssemos esta conversa mais cedo, mas eu precisava que a Soso ficasse tranquila antes. – Disse, me sentando ao seu lado.
Ela apenas assentiu em compreensão.
- Acredito que o medo da nossa filha também esteja presente em você. – Falei. - Estou enganada?
- Não está. – Ela abaixou a cabeça por alguns instantes, depois olhou para mim. Os olhos estavam vermelhos e injetados. – Sei o quão posso estar soando estúpida, mas não consigo deixar de temer perder você e a Sofia. Não me entenda mal, eu realmente estou feliz com a recuperação do Tato. Mas não consigo deixar de pensar no que vocês tiveram e me pegar questionando se ainda terei lugar em sua vida.
Puxei as suas mãos para o meu colo, as entrelaçando as minhas.
- Como disse para a Soso, nada vai mudar em nossa família. – Disse de forma suave.
- Você o amou antes de mim. O que vocês tiveram foi interrompido, não porque vocês desejavam, mas sim por interferência de outras pessoas. Interferência do destino também que nos fez sofrer um acidente. Ele estava indo atrás de você, e agora, ao acordar, ele chamou por você.
Por mais que ela estivesse certa sobre o que tinha acontecido comigo e com o Tato, eu não iria reforçar as suas conclusões. Realmente o que tivemos foi interrompido, mas isso não significa que ela precisa temer.
- Rafa. – Levei uma das mãos a lateral do seu rosto, a fazendo me olhar. – O que eu tive com seu irmão terminou anos atrás, quando ele decidiu virar as costas para mim. E além do mais, o que eu tive com ele não se compara ao que tenho com você. Ao que construímos.
Por muito tempo pensei que o Renato era o meu grande amor, que ele seria a pessoa que eu passaria o resto da minha vida. Cheguei acreditar que o que sentia por ele era algo imenso e verdadeiro. Mas logo isso foi descartado, o que tínhamos não passava de um amor infantil e ilusório.
- Ele a ama. – Ela sussurrou.
Não, eu não acreditava nisto.
Quem ama não abandona. E ele havia me abandonado no momento que eu mais precisei da sua ajuda. E mesmo que ele não soubesse da existência da Sofia na época, isso não minimiza a sua escolha de se virar contra mim e me negar ajuda.
Aquilo nunca foi amor.
- Isto não importa. – Digo. – Eu não o amor, não da maneira que amo você. Eu o amo por ter me dado a Sofia. O amor por ter sido o melhor irmão para você, mas não o amo como um homem para mim.
- Eu quero muito acreditar nisso... – Ela dar um longo suspiro. – Você sente algo ainda, você desmaiou quando soube dele.
Sua voz soou tão triste que sentir como se tivesse recebido uma punhalada em meu peito.
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...