Eu não sei ao certo por quanto tempo eu fiquei desacordada. Eu sentia como se estivesse em um sonho. Eu conseguia identificar a voz distante da Rafa me chamando, fora da escuridão.
- Gizelly, querida, abra seus olhos. Vamos lá, amor, olha para mim.
O som da sua voz estava partindo meu coração. Ela soava tão triste e temerosa. Era como se ela estivesse me implorando para voltar para ela. Mas eu não havia ido a lugar nenhum... Havia?
A escuridão ao meu redor começou a se afastar e eu abri meus olhos lentamente.
Levou mais ou menos um minuto para que eu conseguisse focar, mas a primeira coisa que eu vi foram dois lindos olhinhos verdes me olhando. Sofia me encarava em expectativa.
Desviando o olhar encarei uma Rafaella, o alívio passando pelo seu rosto.
- Você está bem? – Perguntou com ansiedade na voz.
Eu olhei rapidamente ao redor, Rafa estava me segurando em seus braços no chão da sala de estar. Eu estava um pouco confusa, até a neblina sumir de meu cérebro e eu me lembrar do que aconteceu.
- Eu estou bem. Eu acho que desmaiei. – Disse num fio de voz.
- Mamãe... – Soso hesita.
- Estou bem, meu amor. – Tento acalmá-la me esforçando para soar mais confiante.
Rafa me abraça firme ao seu corpo.
- Você nos assustou... Eu pensei que... – De repente ela para de falar e observa o rostinho de Soso que estar pairando sobre nós.
- Está tudo bem agora. – Digo me remexendo, a fazendo afrouxar o aperto e me solto logo em seguida.
Continuou sentada no chão, a sua frente, ainda mantendo certo contato. Abrindo os braços chamo minha pequena para o meu colo.
- Vem aqui. – Ela não espera por um segundo pedido, e se acomoda em meu colo. Sinto o cheirinho doce e suave que possui. – A mamãe não queria assustá-la.
- Mas eu fiquei, mamãe. – Ela treme em meu colo. Faço o mesmo que Rafa fez segundos atrás, puxo minha filha ainda mais para perto do meu corpo. Sinto um conforto quando Rafa nos abraça, tornando o nosso abraço um verdadeiro abrigo para a nossa filha.
- Sinto muito, meu amor. – Digo.
- Isso acontece quando passamos por fortes emoções e o nosso corpo não estar preparado adequadamente. Eu disse que não precisava se preocupar que logo ela iria acordar, não disse? – Rafa fala por cima do meu ombro.
O que me levou de volta para a conversa antes de tudo escurecer.
Renato tinha acordado.
- Eu fiquei com medo de você ficar como ele. – Choramingou Sofia.
Eu sabia que ela estava se referindo ao pai, sabia o motivo do seu mesmo antes mesmo dela o explicar.
- Não é a mesma coisa, meu amor. A mamãe só teve um mal-estar momentâneo, não é a mesma coisa que aconteceu com o seu pai e o fez dormir por tanto tempo. – Tento fazer com que ela entenda a diferença de situações.
- Promete que nunca vai dormir como ele? Promete? – Sofia perguntou, sua voz baixa.
- Claro que prometo. – Disse de imediato.
- E você, mama? Promete?
Ver que minha filha não tinha perdido a confiança em Rafaella, fez com minha garganta queima-se, as lágrimas atras dos meus olhos ameaçando cair em uma cascata.
- Prometo, meu amor. – Disse ela.
Ficamos abraçadas ali por longos minutos, no mais completo silêncio.
- Eu acredito em vocês, mamãe. – Disse Soso por fim.
Percebi que ela respirou bem fundo. Então, disse:
- Eu não quero que acabe.
Eu me desvencilhei dos braços de Rafa e girei a minha filha, para que ela fica-se de frente para mim.
- O que você disse, meu amor? – Pergunto.
Sofia permanece em silêncio.
- Você não quer que acabe o quer, minha pequena? - Rafaella parecia tão confusa quanto eu.
- Nossa família, mamãe. Eu não quero ir ver ele, ele não é meu pai. – Sofia diz de forma firme.
Rafaella estava de pé agora, toda a paz que eu tinha sentido naqueles últimos minutos em volta dos seus braços sumira como a névoa. Estendendo a mão, ela me ofereceu apoio para que eu me coloca-se de pé.
- Vamos nos sentar no sofá. – Rafa nos chamou.
Desta vez foi eu quem colocou a Sofia em meu colo.
Sofia estava perto de completar sete anos de vida. Desde de sua chegada, sentir que minha vida tinha ganhado um novo significado. Desde que decidir reivindicar minha maternidade vinha lutando com todas as minhas forças para fazer com que sua vida fosse feliz, apesar da sua mãe vir de uma família disfuncional. Eu não tinha mais contato com meu pai, tão pouco conhecia meu irmãozinho, filho do seu casamento com a biscate que ele chama de esposa. Minha infância tinha sido negligenciada pelo meu pai, e o sentimento de abandono me sondava. Eu jurei que nunca iria deixar que minha filha se sentisse assim.
Ao lado de Rafaella conseguir também lhe proporcionar uma família estável e bastante amorosa. Sem esquecer do papel da dona Marcina em nossa família. Tudo o que eu construir ao lado de Rafa durante todos esses anos fez com que eu fosse capaz de dar o que mais desejava para a minha filha, o mais puro e verdadeiro amor. Além da segurança de ter uma família que realmente se importava com ela.
- Meu anjo, lembra o que sempre conversamos quando vamos a doutora? – A faço recordar das conversas nas sessões com a terapeuta. Ela balança a cabeça afirmando. – O Renato ser seu pai biólogo é algo que não pode ser mudado, é algo que vai sempre pertencer aos dois. Ninguém vai tirar isso, mesmo que você queira muito não poder fazer isso. Entende?
Ela faz que sim novamente com um aceno.
- Isso não significa que tendo ele como seu pai vai interferir no que você tem comigo ou com a mãe Rafa. Vamos ser sempre as suas mãos. – Faço uma pausa para ela assimilar antes de continuar. – Assim acontece com a nossa família, mesmo você tendo o Renato como seu pai, isso não vai mudar a nossa família. Não vai fazer com que ela deixe de existe. Que acaba, como você acabou de dizer ter medo que aconteça.
- Você jura? – Soso insistiu.
- Juro meu amor.
Soso franziu a testa, pensativa.
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...