O percurso até a casa da avó de Rafa levava um pouco mais de cinquenta minutos. Aconteceu de forma tranquila e silenciosa. Ela veio todo o caminho prestando atenção na estrada. Eu sempre me perguntava se este comportamento era resultado do acidente que sofrera ao lado do irmão.
Ela segurou a minha mão e seu polegar acariciou meu pulso com delicadeza. Para demonstrar que não estava distante apesar do silêncio.
- Chegamos. – Comunicou ao estacionar em frente a casa de cercado baixo, com um lindo jardim logo na entrada. – Espere, vou ajudar você a sair.
- Obrigada. Rafa saiu do carro, abriu a porta para mim, e me ofereceu a mão como apoio.
Entramos de mãos dadas.
Não precisou tocar a campainha, ela sabia que sua avó mantinha a porta aberta durante o dia. Assim que a abriu, ela soltou a minha mão quando ver a nossa pequena garotinha. Dando dois passos para frente, enquanto uma coisinha de cabelos longos loiros de olhos verdes correu para um abraço apertado.
-Mama! – Disse ao pular em seu colo. O que fez ela quase derrubar a pequena sacola de presente que carregava. Assim como a sacola, eu também não recebi atenção da minha filha. Toda ela estava voltada unicamente para a presença da Rafa, ou como ela aprendeu a chamá-la, da mama.
Era tanto amor, que lágrimas brotaram nos meus olhos. Enxuguei para que ninguém percebesse minha emoção cafona, nunca pude ter um abraço da minha mãe, mas era tão grata por minha filha estar tendo a oportunidade de ter duas em sua vida, e o mais importante, que a amava incondicionalmente.
Soso estava no colo dela, agarrada ao seu pescoço como se não quisesse deixá-la partir nunca mais. A dona Marcina apareceu, vindo até mim, me dando um dos melhores abraço do mundo.
- Como você está minha linda, faz tanto tempo que vocês não aparecem! Sei que andam muito atarefadas, e que este é um dos motivos.
- Dona Marcina, mesmo tendo mil coisas no mundo para fazer, nunca irei deixar de atender ao seu chamado.
- Estava com tanta saudade de vocês, especialmente dessa pequena aqui.
- E nós a sua. – Encarando a minha filha no colo da Rafa, continuei. – Mas parece que alguém aqui esqueceu da outra mãe. Pois até agora não recebi nem se quer um beijinho de boas-vindas. – Fiz um biquinho fingindo estar emburrada.
- Ir, parece que alguém estar com ciúmes. – Rafa sussurrou perto do ouvido da Soso, que caiu na gargalhada.
- Fica com ciúmes não mamãe. Tem Soso pra todo mundo, mas tem mor tempão que não vejo a mama. Nem estava lá quando ela chegou. – A safada imitou o meu bico.
Todas rimos.
Ela pulou do colo da Rafa, vindo para o meu. Me enchendo de beijos molhados pelo rosto.
- Te amo, mamãe.
- Também amo você, minha vidinha.
- Queria saber por onde anda minha princesinha que sonha em ser bailarina? – Rafa leva um dedo ao queixo de forma teatral.
- Aqui! Sou eu! – Ela gritou do meu colo e apontou o dedinho para cima.
-Você é a minha garotinha que quer ser a bailarina?
- Sim, sou eu! Sim, eu vou dançar!
- Eu trouxe uma coisa para você da viagem. Abra, é pra você!
Soso apoiou o presente no colo de Rafa e rasgou o papel de embrulho com a sua ajuda, quando viu uma caixinha de música rosa, com uma bailarina, abriu um sorriso lindo de morrer, de apertar as bochechas e a abraçou.
- Eu adorei, mama. – Ela enlaçou Rafa pelo pescoço com seus bracinhos. – Ela é linda como você. Eu vou dançar igual a você quando eu crescer. Quero ser igual a você dançando e cozinha igual a mamãe, porque você é péssima na cozinha. – Ela sussurrou a ultima parte.
Meu coração acelerou quando vi os olhos da Rafa se encherem de lágrimas, a nossa pequena se apressou para tocar neles.
- Por que você está chorando, mama? Está com dor? Bisa tem um remedinho. – Soso chegou perto do ouvido da Rafa e falou baixinho. – O beijinho da mamãe cura tudo. – O que fez a Rafa sorrir e secar as lágrimas.
- Verdade, eu sei disso. – Falou no ouvido dela e respondeu alto a sua pergunta, depois de ter passado o choque de ouvir a nossa pequena declarar que desejava ser como ela. Poderia parecer bobo, mas para nós mães, principalmente para a Rafa, aquilo era tão imenso. – Você não vai acreditar, mas a mama não sabia dançar quando pequena. Eu tinha um probleminha que não me permitia dançar, nem correr quando estava com a sua idade. Mas você vai ser uma excelente dançarina e uma magnifica bailarina.
- Verdade?? – Os olhos da Soso brilharam.
- Juro de dedinho.
- Bom, chega de conversa por hora. Vamos, venham. Está na hora do almoço. – Disse a Marcina.
- Eu guardo a caixinha para você. – Eu peguei a nossa filha no colo e ajudei a Rafa a ficar de pé para que seguíssemos a dona Marcina até a cozinha.
Almoçamos todas juntas. Dona Marcina preparou um peixe grelhado, com batatas, legumes e salada verde. De sobremesa, mousse de chocolate com morangos e suspiro, que era a preferida da pequena Sofia.
No final da tarde, todas nós estávamos demonstrando sinais de cansaço, menos a serelepe da Soso. Rafa pediu para que a sua avó fosse descansar que iriamos ficar um pouco mais, para também descansar, antes de pegar a estrada. Fomos para o seu antigo quarto, o qual sua avó tinha mantido o mesmo desde sua infância. A cama era de solteiro, então Rafa decidiu fazer um pequeno acampamento no tapete do quarto, colocando algumas camadas de cobertores para torná-lo mais confortável.
- Soso, pegue aquele travesseiro para a mama e traga até aqui.
Ela pegou o travesseiro, quase maior do que ela, e trouxe para o montinho.
- Isso! Obrigada, princesa! Agora vamos nos deitar. Vou pegar mais dois, um para mim e outro para você. – Rafa a tinha pedido para pegar, só para ela sentir que tinha feito parte da arrumação. – Agora vá até a estante e escolha um dos livros.
A Soso voltou com um livro, mal conseguindo o carregar de tão pesado.
- Venha, Soso, deite aqui, quero uma de cada lado. – Disse Rafa a ajudando.
- Comece, nós vamos ficar quietinhas.
Ela abriu o livro e leu duas historinhas para a Soso, até que ela adormeceu. Rafa a virou de lado, tirando a nossa pequena do seu ombro e a cobriu com um lençol, dando um beijinho todo materno na sua bochecha. Se virou para mim e passou o polegar pelos meus lábios.
- Agora eu quero cuidar de você. Estou louca para beijar a minha mulher novamente. Eu odeio ter que ficar longe por muito tempo de vocês.
- E eu odeio mais ainda.
Ela nem esperou eu terminar a frase e sua boca já estava grudada na minha, sua língua sentindo e explorando cada parte intocada com mais voracidade, mais desejo e mais vontade. Quando seus lábios se afastaram eu estava sem ar.
- Esperei tanto por você.
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Por hoje é só, pessoal.
Até breve 😘🥰
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...