· Perspectiva de Rafaella
Minha cabeça estava girando em trezentos e sessenta graus, pensando no acidente, no estado do meu irmão e em Gizelly e a pequena Soso. A culpa por ter dito a ela sobre as minhas suspeita sobre a criança, o deixando agitado a ponto de pegar a estrada tarde da noite e encarar um temporal me atormentava. Agora ele estava em cima de uma cama, enquanto eu esperava aflita por notícias positivas sobre a sua recuperação.
Ouço duas batidas na porta, o que me tira do devaneio.
- Podemos entrar?
Meu dia se ilumina com a chegada delas. Gizelly e Sofia.
- Claro! – Digo, quase pulando na cama de tanta empolgação ao vê-las.
- Trouxe uma pequenina para visitar a titia dodói. – Gizelly sentou-se na beirada da cama, me oferendo a pequena. - Ontem quem ficou dodói foi a fadinha aqui, mas nada grave. Mas não podemos vim visita-la. Você está bem?
A alegria em tê-la ali, sentada e minha frente preocupada com meu estado deixava o meu coração tão aquecido, mas que não evitada a culpa que eu sentia tão distante. Era inevitável não pensar em meu irmão, no como ele iria amar estar com a Soso em seus braços como eu estava.
As lagrimas queimaram os meus olhos.
- Ei! – Gizelly se aproximou mais de mim. – Fiz mal em vir?
- Não. Não é isso – Tento conter as lagrimas. – Eu só estou feliz em ter vocês aqui comigo.
Ela me abraça, meio que apertando a Soso no processo.
- Eu também estou feliz por estar aqui contigo. – Sussurra em meu ouvido.
Sofia reclama entre nós, o que faz Gizelly se afastar novamente.
Ficamos conversando por longos minutos. Contato tudo o que tinha acontecido na vida uma da outra nos últimos tempos. Ela me contou os detalhes sobre a descoberta da gravidez, e de como foi lidar sozinha com tudo. De como foi difícil concordar com a proposta de seu pai. E por vez, lhe contei de como estava sendo a minha vida ao lado da minha mãe frustrada pelo seu casamento chegar ao fim e ela não ter recebido o que julgava merecer. De como Tato tinha nos sustentado e mudado. Levei a Gi e a Soso até o quarto em que o meu irmão estava internado, aproveitei que minha mãe não estava no hospital. Ficamos lá por um tempo, quis deixa-la sozinhas ali, mas a Gi não deixou que eu saísse.
- Ele ainda não acordou? – Sussurrou.
- Não. – Minha voz saiu tão baixa quanto a dela. – Já era para ele ter acordado, mas estou com esperança de que logo isso aconteça. Eu custo acreditar que ele tenha sido capaz de ter mandar embora daquela forma. Eu nunca seria capaz de...
Ela me interrompeu antes que eu pudesse dizer que não seria capaz de fazer nada que a afastasse da minha vida. De dizer o quanto eu a amava.
- Não vamos pensar nisso agora. Ele não sabia que eu estava esperando um bebê. Você mesmo disse que ele estava vindo atrás de mim, queria ter certeza de que a Soso era dele. Talvez se eu tivesse insistido, falado a ele que estava gravida tudo poderia ter sido diferente. Ele poderia está agora desfrutando dessa pequena, assim como eu.
Saio do lado do meu irmão e vou até ela, pego uma de suas mãos entrelaçando os dedos.
- Ele vai estar. Ele vai ver essa pequena aqui crescer e vai aprender com você a ser os pais que ela tanto vai amar. – Dou um sorriso de canto para ela.
- Sentir tanto a sua falta. – Ela encosta a cabeça em meu ombro.
- Não tanto o quanto eu sentir de você.
O dia estava sendo maravilhoso.
Um tempo depois, ela decidiu que tinha chegado a hora de ir embora.
- Precisamos ir. – Disse ela, pegando a pequena Soso do meu colo.
- Eu acompanho vocês até, pena que a vovó não conseguiu chegara tempo. Ela ficou louca por essa pequena aqui. – Toquei a ponto do nariz da Soso com o dedo indicador. E a sem vergonha sorriu para mim. – E quem não ficaria não é?
Quando estávamos no corredor, acabamos nos deparando com a médica responsável pelos cuidados ao meu irmão.
- Oi! Estava indo mesmo lhe encontrar, preciso conversar com você e a sua mãe.
Gizelly me lança um olhar preocupado, o que deixa meu coração ainda mais apertado. Tínhamos acabado de sair do quarto do meu irmão, e ele ainda estava no mesmo estado pós operação. Então significava que seja lá o que aquela medica tinha a dizer, não era nada bom.
- Podemos conversar no quarto do meu irmão. – Digo a ela. Eu queria estar perto dele independente do que estava por vir.
E assim voltamos para o quarto.
Gizelly permaneceu ao meu lado, segurando minha mão ao mesmo tempo que sustentava Sofia em seu colo.
- Eu precisava falar com você e sua mãe, para explicar tudo o mais claro possível. – A dra Dani começa a falar de forma receosa, o que me deixa ainda mais aflita. No mesmo instante minha mãe entra no quarto, eu queria saber como ela conseguia aparecer nos momentos mais inesperáveis e inoportunos.
- Doutora, aconteceu alguma coisa com o meu filho? – Ela pergunta, ignorando totalmente a presença da Gizelly, Soso e minha naquele quarto.
- Dona Genilda, estava mesmo querendo dar a notícia para as duas ao mesmo tempo. – E como se estivesse finalmente notado a nossa presença, minha mãe olha em nossa direção. – Eu lamento informa-las, mas chegamos à conclusão através de novos exames que o quadro do Renato pode se estender indefinidamente. Fizemos o possível para reverter essa situação, mas infelizmente nem tudo dependia de nossas mãos.
Tudo pareceu parar. Sentir como se o mundo estivesse dado uma pausa para que eu assimilasse o que tinha acabado de escutar. Não poderia ser, não deveria ser assim. Eu não queria aceitar que fosse assim.
- Como assim, doutora? O que você estar querendo dizer? – minha mãe pergunta no tom vacilante.
- Infelizmente o estado de coma do seu filho é irreversível, eu sinto muito.
- Não! Não, você está enganada. Meu filho está bem, ele vai acordar e levantar dessa cama. – Minha mãe correr para abraçar o meu irmão inerte. – Diz a ela meu filho, diz que você vai acordar a qualquer momento. Que você é um campeão e que nunca desiste.
- Eu sinto muito. – Repetiu a medica
Eu estava em choque com a notícia.
- Rafa? – Ouço ela me chamar.
Volto a sentir seu toque, sua mão entrelaçada a minha, me trazendo de voltar para o chão. Não houve tempo para que eu terminasse de assimilar a notícia devidamente, logo fui interrompida pelos gritos da minha mãe.
- Fora! – Berrou. – Quero vocês fora daqui. Saiam! Quero vocês longe do meu filho, vocês não deveriam estar aqui, Isso tudo é culpa de vocês, principalmente sua. – Disse ela, apontando para mim. – Ele está neste estado por sua culpa, você fez ele pegar aquele carro estupido. Você acabou com a vida do seu irmão. Quero você, e essa vagabunda longe daqui, longe do meu filho.
Os gritos da minha mão assustaram a Sofia, a fazendo chorar.
- Tire essa peste daqui. Eu a quero longe também do meu filho.
- Dona Genilda, por favor, se acalme. – Pediu a medica.
- Vão embora! Vocês destruíram a vida do meu filho, do meu único filho. Destruíram a vida dela, a minha vida. Sumam daqui.
Eu não sabia o que fazer, fiquei paralisada com tudo o que estava acontecendo.
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...