Admitir a verdade

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Na manhã seguinte eu ainda não tinha recebido nenhuma informação sobre o quadro do meu irmão, o que estava me deixando louca. Eu precisava saber notícias sobre o Tato, ninguém queria me dizer nada. Eu já estava cansada disso, cansada de não saber nada. Malmente tinham me contado sobre a cirurgia e que estavam esperando-o acordar, mas isso já tinha acontecido a seis dias atrás.

Usei a cadeira de rodas para sair do quarto, ainda não podia forçar a minha perna por conta dos machucados. Acabei a encontrando em uma área de espera, ela estava com a médica que tinha me contado sobre o meu irmão.

- Dra Daniela, não é? – Perguntei ao parar a cadeira ao lado da minha avó.

- Sim, mas pode me chamar de Dani. – Ela sorriu com gentileza para mim.

- E meu irmão, como ele está? – Eu perguntei sentindo urgência em saber sobre ele.

O jeito em que a médica e minha avó se olharam me deixou em alerta.

- Acho melhor conversarmos no seu quarto. – Ela disse num tom suave.

Olhei para a minha avó, ela tossia um lenço que estava em sua mão. Eu podia sentir que algo não estava certo. Meu coração se apertou ao ponto de dificultar minha respiração.

- Não! – Conseguir dizer mesmo sentir minha garganta apertada. – Me diga logo o que está acontecendo.

Elas se encararam novamente, e minha avó pareceu-lhe dá a permissão para falar ao fazer um breve aceno com a cabeça.

- Durante o acidente, o Renato teve seguidos traumas na cabeça. Houve uma hemorragia e isso formou um hematoma. Houve a necessidade de operar para tentar drenar este sangue, mas esperávamos que ela acordasse um tempo depois da cirurgia...

Eu não tinha visto a minha mãe chegar, até aquele momento.

- O Renato é toda a minha vida, e, se algo acontecer com ele, eu juro que... – Ela me encarava com tanto ódio, eu nunca tinha visto antes. – Pelo amor de Deus, me diga se ele está bem. Eu preciso falar com meu filho, nem que seja só um minuto. – Agora olhando para Dra Dani, ela pede em prantos.

A situação piora depois que a Dra Dani explica a gravidade do caso.

- Meu irmão corre risco de morte? – Pergunto com a voz embargada.

Tudo foi muito rápido, só sentir o tapa que minha mãe me deu depois que a Dra Dani a segurou e a minha avó se colocou ao meu lado.

- Desde pequena desse jeito: com essa cara de santa, mas sempre armando por trás. Sempre fazendo tudo para colocar eu e seu irmão um contra o outro. – Diz ela num tom estridente, apontando para mim. – O seu irmão está em como por sua culpa. É isso que você queria escutar? E tudo graças à sua intervenção, à brilhante ideia que você teve de sair no meio da noite, sequestrando-o e causando tudo isso. Eu sei que o Tato não iria sair assim, sem mais nem menos me deixando para trás. A culpa é sua, totalmente sua.

- Eu...Eu – As lágrimas escorriam pelo meu rosto como uma cascata. A emoção embargando a minha voz. Eu não conseguir me defender de suas acusações.

- Genilda, não diga essas coisas para a sua filha. – Minha avó interveio.

- Filha? Eu só tenho um filho, e ele está em coma graças a essa sonsa.

- Dona Genilda, acho melhor a senhora ir para um quarto. Irei passar um calmante. Vamos. – A Dra Dani tentou tira-la dali.

Neste mesmo instante vejo ela. Ela tinha voltado.

- O que essa ordinária está fazendo aqui? – Gritou a minha mãe, chamando ainda mais atenção de todos daquela área do hospital. - Já não basta seu pai ter arruinado a nossas vidas, agora veio se certificar que meu filho foi tirado de mim?

· Perspectiva de Gizelly

Eu tinha saído daquele hospital no dia anterior com um sentimento de culpa, mesmo no fundo sabendo que não tinha culpa por ter mantido a verdade sobre a Sofia escondida. Mas eu deveria ter falado para a Rafaella, ou ao menos ter me despedido daquela que sempre esteve ao meu lado, que eu tinha prometido proteger.

Eu sentir a necessidade de explicar para ela que eu tentei contar para o seu irmão sobre a nossa filha, nossa não, minha filha. Mas que não tinha conseguido, pois ele tinha me mandado ir embora.

Os jornais só falavam sobre o acidente e o estado grave em que o Renato estava, não deixei de me sentir sem chão e triste diante de tudo aquilo. Não conseguir deixar de me colocar no lugar da Rafa, de pensar o quando estava sendo doloroso para ela passar por isso. Então resolvi voltar ao hospital, desta vez trazendo comigo a Sofia para que ela pudesse vê-la outra vez.

Mas ao chegar me deparei com a discussão na sala de espera, com uma Genilda furiosa esbravejando ofensas para uma Rafaella acuada sentada em uma cadeira de rodas.

Foi então que ela me viu.

- O que essa ordinária está fazendo aqui? – Gritou ela - Já não basta seu pai ter arruinado as nossas vidas, agora veio se certificar que meu filho foi tirado de mim? Ainda trouxe isso. – Disse apontando para a Soso em meu colo. – Para esfregar o que seu pai fez comigo. Você é uma ordinariazinha.

Tentando proteger minha filha daquela louca, eu a segurei mais firme.

- Dona Genilda, vamos. – A Dra começou a guiá-la pelo corredor, a afastando.

- Gi! – Rafa chamou minha atenção.

Forcei um sorriso para ela, tentando não demonstrar que fiquei abalado pelo que tinha acabado de acontecer. Eu me perguntava se tinha errado em voltar ali, ainda mais com a Soso. Eu não queria aquela mulher perto da minha filha.

- Vamos meninas, acho melhor irmos para o quarto. – Disse a avó da Rafa já empurrando a cadeira da neta.

Eu a seguir até o quarto.

- Preciso providenciar algo para essa mocinha. – Disse tocando a ponta o nariz da Rafa. – Então vou deixar vocês um pouquinho sozinhas, mas quando voltar quero encher esse anjinho de beijos.

Dando um beijo em meu rosto e no da Soso, ela se retirou nos deixando a sós.

Esperei que a Rafa se acomodasse na cama. Agradeci por minha filha ainda ser pequena e não entender o que tinha acabado de acontecer. De ainda não ter noção de quão mesquinha era a sua avó paterna.

- Oi, princesa. – Rafa chamou a minha atenção para o presente novamente.

Me aproximei da cama com a Soso, que logo abriu um sorriso para ela.

- Fala oi também, meu amor.

- Posso? – Perguntou Rafa, estendendo as mãos para a Sofia, que segurou o seu polegar e sorriu abertamente para ela.

- Acho que ela também quer ir pro colo da titia.

Eu precisava admitir a verdade para ela, precisava lhe contar a verdade sobre Sofia. Aquele acidente tinha mexido profundamente comigo, logo quando soube sentir que morreria se caso acontecesse algo grave com eles. Mesmo contra as ordens do meu pai, eu resolvi vim visita-la. 

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