Assim que me instalei no apart, senti o peso da minha decisão cair sobre os meus ombros. Ao olhar ao redor e me deparar, ali, sozinha com aquela pequena preciosidade, comecei a fraquejar. As lagrimas rolaram sem que eu conseguisse controlaras.
Encarei minha filha, dormindo um sono profundo na única cama do quarto, e agradeci por ela ainda ser tão pequena e não entender o que estava acontecendo em nossas vidas. Passei a me questionar se iria conseguir dar conta de cria-la sozinha, se o meu amor e a vontade e força de vontade iria dar resultado positivo em sua vida.
O medo apertou meu coração, ela era tudo o que eu tinha. Não poderia falhar com ela.
Então me deitei, a puxando para os meus braços e fiquei ali, sentindo o calor do seu corpinho protegido pelos meus braços.
Tentei dormir, mas minha mente voltava para o hospital. Não conseguir deixar de pensar no Tato, e se ele iria conseguir sair daquela cama e conhecer a filha. Não conseguir deixar de pensar no que eu sentia por ele, me sinto confusa, cansada. A raiva que sentia por ele ter virado as costas para mim estava se esvaindo. Por mais que ele tivesse em machucado, eu não queria que ele partisse.
Na manhã seguinte, acabo acordando com o choro da Soso. Não faço ideia de quando conseguir pegar no sono, mas sei que foi muito tarde, pois acordo com a sensação de não ter dormido nada.
- Bom dia, meu pequeno furacão. – Digo tentando acalma-la.
Ela continua chorando.
Me sento na cama, apoiando as costas na cabeceira. A pego, trazendo para o meu colo.
- Ei, meu amor. Não precisa chorar, a mamãe estar aqui.
Sinto a temperatura do corpo dela um pouco acima do normal, o que me deixa aflita a princípio, mas depois lembro que ela está na fase dos dentinhos nascerem. Recordo sobre as orientações que a pediatra havia passado sobre sintomas que poderia apresentar e cuidados. E assim em levanto e começo a cuidar da minha pequena.
No fim da tarde, ela já estava mais calminha. Conseguir controlar a temperatura e faze-la comer, mesmo tendo protestos da sua parte.
O meu plano de voltar ao hospital tinha ido por agua a baixo, tinha muita coisa para conversar com a Rafa. A falta que eu sentia dela, de ter a sua companhia, não tinha me dado conta até estar ao seu lado.
Mas hoje eu precisei ficar aqui, com minha pequena.
Na manhã seguinte, fiquei feliz em saber que a Soso estava bem. Eu precisava voltar até minha antiga casa para ter uma conversa com o meu pai, depois iria ir até o hospital visitar a Rafa e saber notícias sobre o Tato. Assim que cheguei, dei de cara com minha madrasta logo na entrada. Ela nunca tinha tentado se aproximar de mim, tão pouco da Soso. Sua única interação foi no acordo para esconder a minha.
- Opa! – Disse, quase tombando comigo.
- Bom dia! – Disse, tentando parecer gentil.
- Você! – Ela me olhou dos pés a cabeça. – Pensei que estivesse ido embora de vez, enfim, preciso ir.
- Foi bom te ver também. – Digo de forma provocativa, mas ela nem se dar ao trabalho e vai embora sem olhar para trás.
Eu sabia muito bem onde poderia encontrar o meu pai naquele horário, no único local daquela casa que lhe era tido como um santuário, o escritório. Dei duas batidas de leve na porta, antes de entrar.
- Oi! – Disse assim que abrir a porta com a mão livre, a outras apoiava a Soso em meu colo.
Ele virou a cadeira para me encarar.
- Pensei que levaria mais tempo para você se arrepender da tolice que cometeu.
Escolhi uma das cadeiras a sua frente, me acomodando, deixei a bolsa cair no chão com algumas coisas da Soso.
- Não me arrependi, vim até aqui porque precisamos conversar sobre a minha herança. – Escolho ir direto ao ponto.
- Eu nem morri e você já me vem com essa conversa?
- Eu não vim aqui reivindicar nada do que é seu. – Digo tentando me manter calma. – Quero apenas aquilo que me pertence. O que minha mãe deixou para mim. – Olho para a Soso em meu colo antes de continuar. – Eu preciso para poder cria-la, não quero nada além daquilo é meu. Não posso me manter e criar sua neta não tendo um emprego ou uma casa adequada...
- Você tinha tudo isso, mas escolheu jogar fora por capricho. – Meu pai me interrompe.
- Não é capricho eu querer criar a minha filha. Você queria que ela nunca soubesse que me pertencia, que ela crescesse em uma mentira. Nem ao menos vocês davam a atenção e amor que uma criança merecia. Ela iria crescer achando que não era amada pelos próprios pais. Eu nunca iria me perdoar por isso. Eu sei bem como é se sentir rejeitada. Sentir que não é a coisa mais importante para o pai. Eu sei bem como é não ter a mãe ao lado, lhe dando amor e carinho. Não tenho um porto seguro a quem recorrer, nunca que iria permitir minha filha passar por tudo isso.
Sinto um nó se formar em minha garganta, mas tiro forças de onde não faço ideia, e controlo minhas emoções.
- Eu aceitei essa criança em nossas vidas, mesmo a contragosto. Ver minha filha jogando o futuro promissor por conta de um deslize com um moleque que não honra as calças que veste. Você fala como se eu não estivesse sido um excelente pai para você, como se nada do que eu fiz foi o suficiente. Falando assim até parece que nunca estive presente.
- Não vim aqui para discutir seus méritos de pai, vim para solicitar o que é meu por direito. – Meu tom sai exasperado. - Essa casa me pertence, assim como as ações que pertencia a minha mãe e agora são minhas. Sou maior de idade, e por lei posso me tornar minha própria guardiã, assim não preciso mais me submeter as suas vontades perante a minha própria vida. Você tinha me dado um ultimato para que eu pudesse continuar tendo a minha filha ao meu lado, só que esqueceu de um pequeno detalhe. De certa maneira você não falhou totalmente como pai, afinal, o seu desejo de me tornar sua sucessora me fez entender sobre os meus direitos e ter conhecimento sobre tudo o que era meu por direito, sem que eu dependesse de suas rédeas. Essa casa pertencia a minha mãe, e a família dela antes mesmo dela nascer e não possui nenhuma ligação com o casamento de vocês, assim como as ações. Você só tem direito sobre aquilo que construíram depois do casamento. – Faço uma longa pausa, dando alguns instantes para que ele assimilasse tudo o que eu tinha acabado de dizer. – Em dois dias o meu advogado entrará em contado com o seu, assim tornando a transferência dos bens de forma legal para mim. E esse também será o tempo de você e a sua queria esposa encontrar outro lugar para chamar de lar.
- Eu ouvir direito, minha própria filha me colocando para fora da minha casa?
- A casa é minha, e é aqui que quero criar a minha filha. Eu realmente não queria que fosse dessa maneira, mas infelizmente você não me deu alternativas. Se você não pode aceita-la, então não tem motivos para continuar fingindo. E isso não é tudo, além da casa e dos bens, também irei entrar com uma limitar parar anular o registro de nascimento da Sofia, colocando o nome dos verdadeiros pais dela na certidão.
- Você não pode fazer isso. Essa sua atitude irá arruinar o meu nome, se isso cair nas mãos de algum jornalista de meia tigela eu estarei arruinado. – Meu pai ficar de pé, após dá um murro na mesa, o que faz Sofia pular em meu colo.
Passo a mão pelos seus cabelos, a acalmando.
- Peço desculpas por isso, mas eu não irei medir esforços para que eu poça ter a minha filha por completo. Mesmo que isso venha causar alguns danos eu estou mais do que disposta a encara-los. – Pego a bolsa do chão, me levanto. – Eu queria muito que tudo fosse diferente, que pudéssemos ser uma família de verdade. Que a aceitasse e a amasse como ela merece. – Olho para a Soso, depois volto a encara-lo. – Mas nem tudo é como desejamos.
Assim saio daquela sala com o coração sangrando, mas com a consciência mais leve por ter seguido com a minha decisão. Eu não iria negar esforços parar tornar a vida da minha filha feliz e confortável, mesmo que para isso tivesse que encarar o meu pai.
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...