Nosso mercado fica na frente de casa. Uma porta com a guarnição pintada de azul (o que devo mudar em breve com uma boa mão de tinta clara), leva ao corredor de cimento batido com uma cobertura de telhas amianto. Neste corredor, a direita, temos o quartinho de estoque/ quartinho de tranqueiras/ almoxarifado. Mas não imagine um local bagunçado. Se tem uma coisa que a casa da minha avó sempre foi, é organizada e limpa. Limpa de eu me sentir mal quando sou eu quem passo um pano, porque sei que não vou trocar a água do balde quinhentas vezes como ela faz, muito menos lavar o pano de chão ao nível de poder ser confundido com um pano de prato, COMO ELA FAZ.
Se alguém já foi á tenda de ciganos, sabe que suas maiores ostentações são as panelas penduradas na parede, refletindo como espelhos novos. As panelas de uma cigana é o medidor de quão boa dona de casa ela é.
Minha avó tem sangue cigano, é bisneta de cigano, embora não tenha se casado com um, devido aos pais abandonarem o acampamento que moravam. Mas sangue cigano é sangue cigano até morrer!
Ela aprendeu com sua mãe e passou para mim, mas não aprendi tão bem a " ariar" uma panela. Ou talvez, não quis aprender.
E ela faz suas coisinhas com tanta calma, tranquilidade, em seu ritmo de idade avançada...
No final do corredor, chego á entrada da cozinha. A casa não é mansão, mas tem dois andares e piscina nos fundos, porque, afinal, nossa família sempre teve certa liberdade financeira. O mercado rendeu lucros, e os gastos dos meus avós eram poucos, pois a casa é própria e tiveram somente um filho, com direito a uma bela "economia" na poupança. Não somos lascados e duros.
Sua ajudante vem uma vez na semana, que também é sua amiga, a Cibele.
Cibele prometeu me apresentar seu filho Júlio, disse que ele tem minha idade e vamos gostar um do outro. Como não conheço muita gente por aqui e não quero parecer solitária tendo como única amiga a Fabiana, estou inclinada a conhecer esse Júlio. Suponho que minha avó faz muita questão dessa amizade. Gosta muito da Cibele e, consequentemente, de seu filho.
Espero que Júlio seja legal como a mãe é.
Paro na porta e observo minha baixinha linda se mexendo na cozinha. Ela normalmente usa calças de tecidos grossos, blusas estampadas de manga curta, óculos de grau, e seu cabelo é curto, bem curtinho, porque ela diz sentir muito calor. Pinto para ela com a cor castanho-claro. A raiz branca já está anunciando que precisa de retoques.
Minha avó caminha com dificuldade, apesar de sua saúde ser de ferro.
Tem 61 anos, se casou com vinte, teve meu pai aos vinte e um, e até seus quarenta mantinha os cabelos longos, como mandava a cultura da qual ela não fazia parte, mas amava. Tem uma pele brilhosa, poucas rugas para sua idade, cheira a protetor solar, café e pó de arroz.
Meu coração se contrai quando ela começa a se mover do fogão para a pia, da pia para o fogão, cantando uma música que meu avô tocava no violão, sem nem ao menos me notar aqui, á espreita.
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Pique Al-Qaeda
RomanceEle é uma bomba, um perigo. Ela sabe que não deve se arriscar tão perto, que pode se ferir com uma iminente explosão. Lia tem 19 anos, e uma perda a levou para o morro do Sol. Ajudar a família vem em primeiro lugar, até mesmo antes de seus desejos...