32 Anúncio inesperado

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Fizemos um montão de fotos.
Fabi me pedia para ficar assim, assado, daquele e outro jeito, e, no fim, sempre sabia o que estava fazendo. A grande maioria das fotos se salvou. Quando eu tirava sozinha, nenhuma alcançava meu padrão de exigência. Acontece que Fabi tinha curso e dedicava-se a aprender mais dia após dia. Se não ganhasse dinheiro com games, estaria fotografando grandes marcas. Eu apostava muito nela, lhe incentivava. Porém, era com games que ela se identificava mais. Fotos eram um hobby.

Voltando para mesa onde nossa família se reuniu, para assistirmos meu pai e minha avó dançando na quadrilha, avistamos o Júlio de volta próximo ao balcão da barraca da Cibele, escorado num bambu grosso da estrutura. Ele ouvia e via atento o que o Batista comunicava no palco — que a quadrilha iria começar.

Combinei com a Fabi de ela me ajudar a me reconciliar com ele. Mudamos a direção dos passos e, deliberadamente, cortamos por onde ele estava.

Fabi andava à direita, de braço dado comigo. Jc estava à nossa direita também, de costas para nós e voltado para o palco. Ela bateu o ombro no dele.

- E ae? Vigiando sua mãe pra nenhum gatinho jogar avanço? - provocou ela.

Jc não parecia propenso a piadinhas. Segurava um copo branco, com alguma bebida quente, do qual uma suave fumacinha subia. Julguei ser quentão.

Seu olhar esbarrou brevemente em mim, caladinha ao lado, e ele disse, com uma cara turrona:

- Tô esperando a quadrilha. Meu irmão vai dançar.

Não sabia quem era o irmão dele, mas Fabi pareceu saber.

- O Marcelinho? - ela se animou.

- Tu também, é? Ele não gosta de mulher. É gay. - Jc nem tentou sorrir. Estava mesmo sem paciência. Novamente, me olhou. Eu via a decepção reluzindo em suas irises negras.

- Marcelinho é o irmão mais novo do meninão ai...- Fabi me explicou. - Tem treze, Júlio? - ele assentiu para a ela, dissociado, pois se concentrava em mim. - É uma graça. Quero que ele a Lud se casem. Eu e o Jc arranjamos esse casamento quando jogávamos Free fire juntos. Tá tudo no esquema já. Tu ainda joga, Jc?

Ele negou.

Fabi continuou tentando entrosar ele na conversa, até que Júlio se rendeu e voltou a conversar. Quando ele praticamente passou a se dirigir somente a mim, ela sentiu que sua missão foi cumprida e meteu o pé.

A quadrilha começou.
Fomos juntos assistir.

Ele me mostrou seu irmão vestido de xadrez e calça remendada, ao lado de seu par, uma loirinha tímida e meiga.

Cibele havia me falado sobre o filho mais novo, prometeu leva-lo em casa em algum momento. Minha vó o conhecia também.

Na hora do " Olha a cobra", meu pai levantou a vovó nos braços. Ela gritou, mas parecia uma adolescente. Meu avô teria rido muito disso. Jc assoviou. Eu bati palmas, gritando e gargalhando da atuação dos dois.
Filmei tudo para minha mãe e pro Léo. Eles imediatamente responderam com figurinhas engraçadas.

- Seu irmão se parece com você... - remendei o assunto morto entre nós. Jc também filmava o irmão.

Cibele, à nossa frente, dançava no lugar, incentivando o filho, de avental e touca. O garoto se sentia intimidado pela beleza da menina. Mais intimidado ele ficou com a vergonha que a mãe sugeria fazer ele passar.

Eu via uma réplica menor e mais jovem do Jc naquele moleque com desenhos feitos a navalha no cabelo curto. Jc rendeu conversa, perguntando o motivo de eu não estar entre os pares da quadrilha, e eu disse que era pelo mesmo motivo que eu suspeitava ser o dele: a gente não curtia dançar.

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