Ele bota as mãos sob os braços, me olhando como se tivesse total controle da situação. Porém, ele não tem. Seus olhos conversam em silêncio comigo. Dizem que ele me quer.
- Não da mais... Eu preciso focar na Yara, na minha vida. Você tira meu foco. - ele lê esse script patético pré programado em algum lugar de sua mente.
Eu me levanto.
- O que está acontecendo? Me conta? - eu me arrasto suavemente para junto dele.
Ele empertiga o corpo e desvia os olhos de mim, como se fosse tortura eu me aproximar.
Não penso no passado, muito menos no presente ou no futuro quando puxo seu braço. Ele oferece resistência para sair do lugar, mas puxo de novo e ele me acompanha até o sofá.
Faço ele sentar primeiro, subo a barra do vestido solto e comprido e me sento em seu colo, montando nele como fiz aquele dia no carro.
- Lia... - ele tenta me tirar, muda o rosto de lado, no entanto, o detenho entre minhas mãos e levo minha boca para perto da sua. - Para com isso... Talia, para! - ele decreta com um tom intransigente e impossível de ignorar.
Abro espaço entre a gente, sem descer de seu colo, momentaneamente assustada e impotente. Nos encaramos num mutismo longo e reverberante. Vazio. Realista.
- Acabou. É melhor assim.
As palavras me arrebentam como um lutador de MMA, sem piedade alguma. É real de mais. Antes, quando era eu dizendo isso, eu sabia que era uma vã tentativa de agir certo. Jamais considerei que nunca mais o beijaria, tocaria, falaria com ele por mensagens ou pessoalmente. Ele determinando o fim, abre um buraco oco e solitário na minha vida. Como vai ser perder qualquer contato com ele definitivamente, agora que me apeguei tanto?
Eu não sei se consigo... Parece impossível!
- Quero uma explicação. - eu peço, sem ligar para orgulho ou ego ferido.
Ele não está feliz fazendo isso, nem se sentindo superior. Vejo em seus olhos a tortura, a dificuldade em me rejeitar assim tão duramente.
- Eu mudei de ideia sobre terminar. Não quero mais ficar longe de você, não suporto sua ausência. - digo com uma postura soberba. Como se eu falando assim fosse fazer ele mudar de ideia e pronto.
Se ele estiver precisando sentir segurança, eu proporciono isso a ele. Só não quero enfrentar a distância iminente que me espreita como um assassino atrás da cortina.
Nunca mais teriam mensagens, nem ligações, nem aparições, nem toques e nem olhares...
Não vai rolar!
- Mas você tá certa de querer sair disso. Tu ja parou pra pensar que eu não vou poder ser um namorado normal pra tu? Não vou poder...
- Tudo bem. Não importa, né? Quem liga pra isso? - eu ligava. Muito. Mas agora era válido dizer de tudo. - É ela? Aquela senhora? Você conhece ela? Tem a ver com ela, você estar me dispensando?
Ele arranca minhas mãos de seu rosto.
- Tem um milhão de motivos. Melhor eu ir... nosso assunto acabou. - ele me tirou do colo. Eu não reagi no primeiro momento porque sua insensibilidade me deixava petrificada.
Quando ele me sentou no sofá, as lágrimas estavam invadindo meu rosto de forma fluída.
Prendi o braço dele e o fiz cair sentado de novo, olhando com desolação evidente e certo desatino.
- Para... - balbuciei. Ele virava o rosto, se negando a me encarar. Eu fiz ele olhar para mim, puxando seu queixo e pedi de novo, levantando as sobrancelhas: - Para.
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Pique Al-Qaeda
RomanceEle é uma bomba, um perigo. Ela sabe que não deve se arriscar tão perto, que pode se ferir com uma iminente explosão. Lia tem 19 anos, e uma perda a levou para o morro do Sol. Ajudar a família vem em primeiro lugar, até mesmo antes de seus desejos...