47 Intocável

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Ele tomou banho — cheira a sabonete e desodorante recém-passado. Está quentinho, seco.

Me abraça de volta, e depois me vira, me levando para dentro da casa com o braço em volta dos meus ombros. Fecho a parte da frente da toalha. Estou tremendo.

- Vou ligar o ar quente no meu quarto pra tu... - ele diz, esfregando a mão na minha pele para ajudar.

Ao entrarmos na casa, ele fecha a porta de correr, o que bloqueia boa parte do som.

Com isso, escuto Bazuca ao telefone na sala. A voz de homem jogando charme indica que está de papinho com mulher. E não me parece ser a dele.

Ele vira a cabeça pro Alcaida, ao ver a gente passar:

- Trazer umas amigas ai, tu não se importa não, né?

O dono da casa só avisa:

- Quero ninguém lá em cima.

Volta a atenção para mim, dizendo baixo enquanto andamos rumo á escada:

- Tem uma lava e seca na área de serviço. Vou te emprestar uma roupa minha e tu me da a sua pra botar pra lavar. Rapidão tá seca.

Fora o fato de estar molhando a casa dele toda, vi que essa era a melhor saída para não ter de dar explicações a minha avó amanhã. Topei, mesmo não querendo visitar seu quarto. Era muito íntimo, e essa intimidade toda poderia abafar a voz da minha razão, assim como a porta fez com a música la de fora.

Embora eu estando hesitante, seguimos para o quarto dele. Ou melhor, suíte presidencial de luxo master.

Era branco, muito requinte em cada detalhe, tecidos finos e cama de gigante.

Em frente a cama, ao lado da tv de muitas polegadas pendurada, havia uma enorme parede na vertical, de vidro, que descia, ao que parecia, até o primeiro andar. Eu não observei direito antes, pois a persiana estava fechada, mas agora ele a abriu e eu via detalhadamente aquela lacuna transparente entre uma parede branca e outra. Através dela, avistei o Ninja viajando, deitado no flamengo lá na piscina, cantarolando a música do 1kilo que tocava e curtindo sua solidão. Também via, por ser alto, um pedaço da rua escura lá fora, alguns dos soldados deles e o carro que devia ser do Bazuca, estacionado. Além do mais, daqui também o visual das luzes do morro era brabo!

Estava embasbacada, travada, molhando o carpete todo com minha roupa encharcada.

A voz dele me puxou:

- Pode tomar um banho, se quiser. Banheiro é ali naquela porta. - apontou a porta no extremo leste do quarto.

- Ah, sim. Melhor, né? Um banho vai ser bom. - sorri para ele, imaginando toda a maquiagem que eu fiz destruída, assim como minha bronca interna de " sei lidar com homens".

Eu sabia lidar com moleques. Não com um homem desse porte.

Ele vinha com uma ameaça esmagadora em minha direção, e eu parei o movimento que fazia.

Sua pergunta, no entanto, me surpreendeu:

- Que foi que tá me olhando assim? - com toda delicadeza que um homem poderia ter, ele acaricia com o dorso do dedo o meu rosto frio e, ao mesmo tempo, quente.

- Desculpa por ser tão... imatura. Desengonçada. - Olhei pra baixo, abrindo um braço. - Me molhei toda, molhei seu carpe...

- Lia. - prendeu meu rosto nas duas mãos. - Não precisa se desculpar por ser você. - beijou com um selinho doce minha boca. - Tira a roupa.

Virei uma estátua de sal, aterrorizada.

- Se eu levar agora pra pôr na máquina, deve secar em uns quarenta minutos na função lavagem rápida. - explicou, e eu volte a vida.

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