33 Protetor

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- Porra... que da hora. Meus parabéns. - Bazuca voltou a apertar o ombro do JC, agora, tão forte que meu novo namorado fez uma careta em meio a tentativa de se mostrar sob controle e feliz.

- Obrigada, Bazuca. - discretamente, fingi abraçar o pescoço do Jc para empurrar a mão do Bazuca de seu ombro. Assim que sentiu o contato, ele retirou a mão de concreto.

Ninguém mais pronunciou uma sílaba

Só o Batista:

" AGORA VAMOS PARA AS GANHADORAS DO DIA DE BELEZA NO SALÃO B'ELAS!" , entonou no microfone.

- Boa noite pra vocês ai. - Bazuca disse, depois olhou duramente nos olhos do Jc, que tinha uma cor amarelada e combalida. - Bom te ver, mano... não tem caô, tu é o aço. - bateu três vezes no ombro dele e seguiu para a mesa do Alcaida.

Todos comemoraram a falsa novidade, nos abraçando, desejando coisas clichês. Entre uma congratulação e outra, eu e o JC nos comunicávamos com o olhar.

Meu pai, um tanto amargurado, avisou que dali a meia hora iria embora e que hoje eu desceria com eles porque já estava tarde.

Jc e eu avisamos que iríamos conversar perto do palco, a sós.

- O que me conforta antes da morte, é saber que tu agora acredita em mim e entendeu o que tá pegando.

Encostada num ferro de braços dispostos em frente a barriga, acompanho ele andando de um lado a outro.

- Ninguém vai morrer. - falo, torcendo para não ter estragado tudo.

Seus passos dão uma trégua, para que ele se jogue em cima de mim, a voz alta:

- VOCÊ NÃO ENTENDE, TALIA! VOCÊ DISSE QUE ESTAMOS NAMORANDO, O CARA TE QUER. A CONTA É BÁSICA!

Sem me deixar ser levada pelo surto dele, forço meus olhos contra os seus:

- Não grita.

Ele apoia a mão ao lado da minha cabeça e aperta os dedos da outra mão nos olhos.

- Cara... olha o que eu tô fazendo... porra, me perdoa. - beija minha testa, depois encosta a sua no mesmo local. - A gente está mesmo namorando?

Eu até namoraria ele, mas sou orgulhosa e curto as coisas à moda antiga.

- Não... eu disse aquilo sem pensar. Fiz merda, né? Minha família e amigos agora acham que estamos mesmo namorando. - Sai do cercadinho que seu braço formava.

Ele se escorou no ferro; em seguida, aflito, se agachou e mexeu no boné. Olhou para algum canto e para mim enquanto eu falava.

- Não quero te ferrar, Jc. Posso muito bem reparar meu erro e dizer que não tem nada entre a gente.

Ele me fitou por aproximadamente meio minuto.

- Tu só disse aquilo na frente do Bazuca pra causar ciúmes no Alcaida, ou realmente tu quer namorar comigo?

- Nenhum nem outro. Quer dizer, eu só falei pra que eles deixassem a gente em paz. Eu namoraria você, mas ainda é cedo, como você mesmo disse.

Não havia mentiras em minhas palavras.

Ele retirou o boné e o abaixou pela aba.

- Foi mais uma prova de que minha conclusão estava certa... - murmurou.

Estendo a mão, que ele reluta um pouco antes de segurar e se levantar.

- Podemos ser amigos. Minha vó vai se decepcionar, mas passa. Meu pai vai ficar feliz.

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