- Porra... que da hora. Meus parabéns. - Bazuca voltou a apertar o ombro do JC, agora, tão forte que meu novo namorado fez uma careta em meio a tentativa de se mostrar sob controle e feliz.
- Obrigada, Bazuca. - discretamente, fingi abraçar o pescoço do Jc para empurrar a mão do Bazuca de seu ombro. Assim que sentiu o contato, ele retirou a mão de concreto.
Ninguém mais pronunciou uma sílaba
Só o Batista:
" AGORA VAMOS PARA AS GANHADORAS DO DIA DE BELEZA NO SALÃO B'ELAS!" , entonou no microfone.
- Boa noite pra vocês ai. - Bazuca disse, depois olhou duramente nos olhos do Jc, que tinha uma cor amarelada e combalida. - Bom te ver, mano... não tem caô, tu é o aço. - bateu três vezes no ombro dele e seguiu para a mesa do Alcaida.
Todos comemoraram a falsa novidade, nos abraçando, desejando coisas clichês. Entre uma congratulação e outra, eu e o JC nos comunicávamos com o olhar.
Meu pai, um tanto amargurado, avisou que dali a meia hora iria embora e que hoje eu desceria com eles porque já estava tarde.
Jc e eu avisamos que iríamos conversar perto do palco, a sós.
- O que me conforta antes da morte, é saber que tu agora acredita em mim e entendeu o que tá pegando.
Encostada num ferro de braços dispostos em frente a barriga, acompanho ele andando de um lado a outro.
- Ninguém vai morrer. - falo, torcendo para não ter estragado tudo.
Seus passos dão uma trégua, para que ele se jogue em cima de mim, a voz alta:
- VOCÊ NÃO ENTENDE, TALIA! VOCÊ DISSE QUE ESTAMOS NAMORANDO, O CARA TE QUER. A CONTA É BÁSICA!
Sem me deixar ser levada pelo surto dele, forço meus olhos contra os seus:
- Não grita.
Ele apoia a mão ao lado da minha cabeça e aperta os dedos da outra mão nos olhos.
- Cara... olha o que eu tô fazendo... porra, me perdoa. - beija minha testa, depois encosta a sua no mesmo local. - A gente está mesmo namorando?
Eu até namoraria ele, mas sou orgulhosa e curto as coisas à moda antiga.
- Não... eu disse aquilo sem pensar. Fiz merda, né? Minha família e amigos agora acham que estamos mesmo namorando. - Sai do cercadinho que seu braço formava.
Ele se escorou no ferro; em seguida, aflito, se agachou e mexeu no boné. Olhou para algum canto e para mim enquanto eu falava.
- Não quero te ferrar, Jc. Posso muito bem reparar meu erro e dizer que não tem nada entre a gente.
Ele me fitou por aproximadamente meio minuto.
- Tu só disse aquilo na frente do Bazuca pra causar ciúmes no Alcaida, ou realmente tu quer namorar comigo?
- Nenhum nem outro. Quer dizer, eu só falei pra que eles deixassem a gente em paz. Eu namoraria você, mas ainda é cedo, como você mesmo disse.
Não havia mentiras em minhas palavras.
Ele retirou o boné e o abaixou pela aba.
- Foi mais uma prova de que minha conclusão estava certa... - murmurou.
Estendo a mão, que ele reluta um pouco antes de segurar e se levantar.
- Podemos ser amigos. Minha vó vai se decepcionar, mas passa. Meu pai vai ficar feliz.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pique Al-Qaeda
RomanceEle é uma bomba, um perigo. Ela sabe que não deve se arriscar tão perto, que pode se ferir com uma iminente explosão. Lia tem 19 anos, e uma perda a levou para o morro do Sol. Ajudar a família vem em primeiro lugar, até mesmo antes de seus desejos...