17 Efeitos

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A mulher não quis contar nada para mim sobre quem havia me anunciado, mas eu já sabia quem certamente seria, embora torcesse para estar errada.

Antes de vir, tomei um banho longo, lavando com cuidado meu pé machucado.

Minha avó aplicou um remédio natural feito de ervas, dizendo ser para tirar dor e infecções.
Calcei havaianas verde água, shortinho e body branco.

Não sei porque agora já não quero mais andar sem maquiagem por ai. Talvez seja por saber que estou sendo vigiada...

Foi muito rápido meu atendimento!

Manquei para entrar, minutos depois manquei para sair, usando um curativo limpinho. A enfermeira que me atendeu conferiu se restava algum caco, o que não era o caso. Desinfetou, passou uma pomada la e fez um curativo discreto.

Voltei de boa pelas ruas e vielas, graças ao gps. Eu me perderia se não fosse ele. Não sei andar de forma alguma aqui dentro sozinha ainda.

Pensando mais alto que o sertanejo no som do Civic do meu pai, as janelas abertas deixando o vento entrar e me permitindo ver melhor as pessoas e ruas, reflito seriamente se devo voltar a beber caipirinha algum dia. Estou acabada, destruída, um lixo sem reputação.

Tento, ao invés de me apegar a isso, me imaginar mergulhando na piscina de casa ou curtindo o sol numa praia. Para o meu desgosto, hoje terei de trabalhar até às sete da noite, o horário de funcionamento aos sábados, que seria cumprido pelo meu pai se eu tivesse acordado cedo e feito minhas obrigações.

Tudo bem, amanhã talvez eu chame a Fabi para fazer um desses dois programas.

Meu pai é um covarde, isso que ele é!

- Fica ai com teu pé machucado, que eu vou pular naquela água. – disse com superioridade, recebendo o meu "obrigada" e a chave de seu carro. Deu a volta no caixa, um semblante vitorioso. – Quem manda ser desobediente? Eu poderia deixar tu fechar mais cedo... mas só há misericórdia nessa família para quem cumpre com a palavra.

- Meu Deus, pai, eu poderia estar com tétano agora ou morrendo de alguma infecção. O senhor estaria lamentando, tá? Deveria me tratar bem e com carinho enquanto estou viva. – sentei em seu lugar, na cadeira do meu avô atrás do caixa. Eu e minha garrafinha de água gelada. – Isso não se faz nem com um inimigo. – olhei para o teto, o suor escorrendo na testa e nuca, mesmo tendo feito um coque. – Aqui não faz frio nem em junho? Esse ventilador precisa ser trocado. – Apontei para o treco velho que girava vagaroso acima de nossas cabeças.

- Pois é... uma piscininha vem a calhar, olha só pra tu ver... – ele riu como o cara mal que é. – E pela quantidade de álcool que está exalando de você, tétano nenhum sobreviveria no seu sangue. Fui!

O aquecimento global iria enterrar todos nós. Em pleno junho... como assim? Espero que o frio comece logo.

Fiquei sozinha. Graças a Deus, meu pai tinha feito reposição e limpado o chão de manhã. Só precisei ficar sentada mexendo no celular, lendo as mensagens das minhas amigas no grupo " Maldita Eva".

Contei minhas novidades, ao que elas mandaram risadas e contaram as suas novidades. Ou seja, nenhuma.

Perguntamos o que a outra estava fazendo, blá blá bla; respondi o " eu queria ter visto a cena de vc cortando o pé ( carinha rindo)" do meu irmão; respondi minha mãe sobre a minha ida a UPA e combinei com a Fabi de descer para a praia amanhã. Ou pediríamos para meu pai nos levar, ou iriamos de Uber. Acho que ele não emprestaria o carro para eu sair do morro. Tem mais ciúmes dele do que da minha mãe. Ela sempre faz piadinhas referente a isso.

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