66 Vai nevar

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Ele destrancou a porta; eu, desviava de uns bichinhos de luz que rondavam a lâmpada baixa da pequena varanda e teimavam em vir me atazanar.

Acendeu a luz da modesta sala de estar, onde vi, daqui de fora, um sofá básico marrom e uma tv antiga sobre um rack antigo.

Apanhou minha mão, me guiando para dentro.

- Esse lugar é meio zoado, mas infelizmente não posso me dar o luxo de escolher onde vou parar na noite. Tudo depende de um esquema minucioso, que se eu fosse te explicar, tu ia achar chatão de ouvir. - contou, fechando a porta. Observei que não trancou, mas (risos)... que piada.

Estávamos numa sala nada aconchegante, tinha cheiro de lugar fechado por longo tempo.

- Tudo bem pra tu? - me fitou com aquele olhar de " vamos ver a verdade agora, se o que importa sou eu ou o que eu tenho". Eu me senti desafiada. Ele me achava tão fútil assim?

Projetei o queixo e dei uma curta olhada em volta.

A princípio, fiz cara de nojentinha, daquelas garotas que não comem cebola e separam a comida no prato. Amei deixar ele achar que eu estava mesmo odiando o lugar.

Mas ai, olhei de volta para ele e não aguentei, a gargalhada estourou como um foguete.

- Cara, você realmente pensa que eu ligo pra essas coisas? Eu não tô nem ai pro lugar, Aron. - chamei ele com os braços, então ele percorreu a pequena distância que nos separava e me agarrou, assim como agarrei seu pescoço.

Eu senti que ele ficou aliviado.

- Se segura. - mandou ao me erguer num só braço e me colocar de lado em sua cintura, onde eu fechei as pernas e me acomodei como um bicho preguiça faria num galho.

Com a outra mão, ele ia se livrando do celular, esvaziando o bolso e arremessando tudo, com as chaves, em cima do sofá - pistola ficou no carro e a Ak, ele deve ter mandado o Bazuca levar e guardar. Passamos pela sala. Ele acendeu a luz de um corredor curto, que tinha o teto mofado, nos levando à última porta fechada no final dele. A porta era de madeira marrom, ou sei lá que material era aquele, mas lembrava madeira envernizada.

Abriu a porta e o quarto me surpreendeu, por ser arrumadinho.

Assim que acendeu a luz do cômodo, descobri que ali não tinha mofo, muito menos fedia. Havia um apertado banheiro, pelo que vi espiando uma das portas. Também um armário velho e preto; uma tv na parede, cortinas de blecaute e um carpete nude. A cama era grande e o lençol florido parecia limpo. Eu não ligava para simplicidade, contanto que ele não me trouxesse para um chiqueiro. Eu era preguiçosa, porém, era neta da dona Betina e odiava sujeira. Não me sentiria bem se não fosse tudo tão bem cuidado aqui nesse quarto que cheirava a limpeza.

Acho que quem quer que limpe, tinha ordens de forcar as energias no cômodo mais usado.

Ele me desceu e foi puxando a camisa pela gola, passando pela cabeça. Estava sem boné, o cabelo sempre curto e novamente descolorido. Eu não tinha nem prestado atenção em sua roupa bonita ou na cor do cabelo lá no baile, ou no carro. Estava muito ocupada o odiando. Agora, mais calma, vejo o quanto está estonteante.

Seu corpo torneado me deixa tonta. Para ajudar, ele se vira e me olha, marrento, brinco na orelha, estilo tralha, todo maloqueiro e se aproxima com meio sorriso no canto da boca.

- Não tem nada aqui pra tu vestir, vai ter que usar minha camisa pra dormir.

Eu ia protestar, ia mesmo. Mas dormir de vestido, cara? Nem ferrando.

- Ergue os braços. - ordenou, baixinho. Obedeci, e ele desceu a camisa com seu cheiro, ainda quente de sua pele, pela minha cabeça e braços. Ela me cobriu até metade das coxas. Uma camisola.

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