Sem que eu me desse conta, meus olhos focaram na cintura dele.- Circula ai com esses bico, rapaziada. Tão assustando a garota aqui, pô. Espera no canto ai. - disse ao seus homens, fazendo um gesto vago de mão.
Ao retornar a mim, estava com uma expressão vazia, e puxava pela coronha a arma que apontava em seu cós.
- Foi mal por isso... - passou ela para trás das costas. - Pronto. Tá guardada.
Eu estava um pouco afetada pelo ocorrido, mas fiz a minha melhor expressão composta.
- Imagina... não foi tão... - o sorriso foi um metodo para ganhar tempo e poder pensar em algo melhor a dizer. Minha mente sempre sofria quando ele estava por perto.
Ele, talvez vendo que eu estava quase caindo sentada na cadeira, se encaminhou ao freezer e trouxe para mim uma garrafinha de água sem gás.
Aceitei, pois aquilo estenderia meu prazo para não ter de usar a voz e acabar mostrando, através de uma gagueira ou coisa do tipo, o quanto estava apreensiva pelo bêbado.
Ele ia ser esfolado vivo!
Alcaida esperou que eu bebesse, como um pai à espera de que o filho engula um medicamento amargo.
Terminei, voltando a exibir um sorriso aflito e rosqueando a tampa da garrafinha.
- Parece que você é mesmo meu anjo da guarda, hein... de novo aparecendo na hora certa. - enfrentei seu rosto, mas logo abaixei a cabeça para minhas mãos, sorrindo fino, como quem está desesperada e não pode fazer outra coisa a não ser sorrir.
- Você tá bem? O babaca machucou teu pulso?
Os olhos atingiram minhas mãos que se agarravam a garrafa plástica.
- Não. - Se não fosse ficar tão esquisito, eu teria me escondido em baixo do caixa feito uma menininha assustada.
Ele passou os olhos pelo meu rosto, então pelos meus ombros e colo, acho que deduzidno que eu havia tomado um pouco de sol. Não tinha uma marquinha bem formada, mas restava algum contorno da alça do meu biquíni, que denunciava meu domingo na praia.
Ele não mencionou nada sobre isso, apenas esfregou o queixo e olhou para trás de mim.
- Posso te ligar mais tarde?
Eu estava tomando mais água, então comecei a tossir e bati no peito.
- Quê?
- Posso te ligar. Mais tarde. - repetiu, confiante. - Tu vai me atender?
Neguei de pronto com a cabeça.
- De jeito nenhum, Alcaida. Desculpa, mas não posso aceitar isso.
- Por que não? - ele se aproximou e escorou o braço sobre a máquina de código de barras, me intimidando.
Sentei na cadeira, me sentindo covarde.
- Só quero te conhecer melhor. Não tem nada de mais nisso.
Ele poderia não ser transparente nas expressões ou nas atitudes, mas nas palavras...
Eu era só uma pobre coitada indefesa, desmontada a contragosto. Jamais um homem desse tamanho, perigoso assim, misterioso e interessante assim, falou comigo. Qual homem conheci com uma voz madura e segura como a dele? Qual homem acabava comigo só pelo olhar, como ele faz?
- Não. - neguei, me apropriando de mim novamente. - Não quero.
As palavras não eram tão confiantes quanto as dele. Afinal, rejeitar um Alcaida não era a coisa mais fácil a se fazer na vida.
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Pique Al-Qaeda
Roman d'amourEle é uma bomba, um perigo. Ela sabe que não deve se arriscar tão perto, que pode se ferir com uma iminente explosão. Lia tem 19 anos, e uma perda a levou para o morro do Sol. Ajudar a família vem em primeiro lugar, até mesmo antes de seus desejos...