51 Presa

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Minha avó me acordou às 12 horas, dizendo que se meu pai perguntasse algo, era para confirmar a história que ela contou: tive pesadelos medonhos que não me deixaram dormir, por isso fui para cama dela.

Minha rainha é mais inteligente que todos nós juntos!

E cara, eu sabia como ela detestava mentir. Estava a colocando numa situação em que ela não merecia estar.

Antes de começar o meu dia, precisava de um banho daqueles.

Cantei várias músicas felizes sob o chuveiro enquanto lavava meu cabelo e sorria com espuma descendo na cara, dando muita pala da minha felicidade.

Foi como se aquela visão jamais tivesse acontecido; me prendi somente nos momentos de casalzinho que passamos trancafiados no quarto, no beijo saboroso que ele tinha e no toque aveludado daquelas mãos másculas, que tanto me exploraram e tiraram meu juízo.

Quando cheguei a cozinha, ela me levou pra despensa e me mostrou a cesta de café da manhã estupenda que entregaram pra mim.

- Sorte que seu pai estava no banho e eu quem atendi a campainha. Sorte! Vê se avisa a ele que você tem pai, que não pode tá mandando coisas pra cá não!

Eu mal ouvi o que ela dizia, estava lendo o cartão que veio colado no laço rosa que prendia o celofane. Reparei que tinha Nutella, bisnaguinhas, geleia, chocolates diferenciados, frutas como morando, uva e kiwi; queijos, Nescafé, cappuccino, toddynho, polenguinhos, creme cheese.

E o que mais me agradou: flores amarelas!

O bilhete dizia assim:

" Gostaria de saber melhor o que tu gosta de comer no café da manhã, mas pedi pra montarem com o que imaginei que te agradaria. Essa é minha meta: te agradar. Ass: Aron"

Eu reli três vezes, quase tendo um ataque de alegria. Ele era sem igual!

Minha avó, que já devia ter lido o bilhete, inclinou os olhos, me espiando por cima das lentes com a mão na cintura.

Olhei para ela, tentando desfazer o sorriso e guardando o bilhetinho no bolso.

Ela me olhava repreendendo, até que balançou a cabeça e disse:

- Esconda isso ai com uma toalha e vem almoçar. Tá muito tarde pra tomar café. Geladeira pro que for de geladeira. Amanhã você come. - deu as costas e se mandou.

Minha avó havia preparado uma lasanha que eu amava. Comi horrores, depois dei um pulo na janela para gritar a Fabi. Tudo com uma empolgação transbordante.

Ela botou a cara amassada, mastigando algo.

- Que deu em você hoje que não apareceu de manhã? - perguntou logo.

- Dormi mal ontem, tive pesadelo. Se liga nas minhas olheiras. - apontei as bolsas arroxeadas sob os olhos. Me vi no espelho, estava parecendo um panda.

Ela virou um copo do que parecia suco de morango na boca. Seus cabelos estavam presos bem alto num coque torto e estranho, e usava camisa larga, de rock, como sempre. Seu humor hoje também não era dos melhores, o que também era comum. Porém ela jamais perdia a expressão "chapadona".

- Hmmm... Pesadelo é um saco. Tô almoçando, pedi quentinha no restaurante ali de cima.

- Tá, passa na mercearia depois. Beijo. - me despedi, sentindo que ela estava me olhando com desconfiança já. Ou seria coisa da minha cabeça?

Meus olhos encontraram o moletom jogado no chão. Fechando a cortina para não ser vista, fui até lá e o recolhi, levando diretamente ao rosto e apertando o tecido contra meu nariz.

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