Pique Al-Qaeda

95 Que comecem os jogos

— Guarda meu celular na sua bolsinha, toma ai! — digo um pouco exasperada para Melissa, na fila para entrar no barzinho, que desde aqui de fora posso ver o quanto é lidinho.

Melissa atira meu celular na bolsa preta com alça de corrente que traz no ombro. Está um charme com ela.

Disse o mesmo de mim, ao nos encontrarmos aqui na porta.

Eu estava no pique, até ver que o Aron visualizou a indiretinha que postei mais cedo e não disse um "a".

Ele acha que vai sumir assim e sempre que voltar estarei a sua espera?

Meu top — que parece um sutiã com mangas —, está chamando muita atenção. O Canoa Pub é um lugar bem frequentado pelo pessoal de fora, inclusive de outras comunidades. O espaço — pelo que vi nas fotos — é receptivo e bem-arranjado, decorado com recicláveis e madeira. Ótimo para quem deseja curtir um samba, pagode e, mais tarde, Mel disse que rola até um dj. Então, como lota, acaba se tornando um ponto de vendas. Em frente, uma fila se forma e uns carinhas ficam anunciando seus produtos ilícitos. Outros, fazendo a guarda. E todos eles estão me deixando apressada para pagar logo os trinta reais do ingresso e entrar.

Parece que a entrada até às seis da tarde é grátis, mas como passa das dez, Mel e eu estamos esperando no final de uma fila gigante para pagar, sob a luz de um poste e dos olhares dos carinhas vendendo no boca-a- boca.

Ainda que eu tenha optado por usar calça na parte de baixo, cobrindo um pouco uma das metades do meu corpo, porque a calça estilo pantalona de lantejoula tem o cós bem alto e deixa a roupa mais "recatada" e harmoniosa, me sinto um pouco receosa em parecer vulgar. Não houve, em momento algum, essa deliberada intenção ou a de buscar olhares de aprovação masculina, só tive a ideia de um look ousado que tinha minha cara, algo distinto para que eu alcançasse o nível de beleza e estilo da loira ao meu lado. Já falei do trabalho que dá ter amigas como a Melissa?

Meu cabelo, no fim das contas, após muita indecisão, terminou solto, a não ser por duas finas trancinhas caídas por cima do monte de fios revoltos com o tempo úmido. Ao finalizar a maquiagem, adorei o todo que meu reflexo exibiu no espelho.

Melissa bateu uma foto minha assim que chegamos, e eu a postei no Instagram e no twitter. Me ofereci para retribuir a gentileza, mas ela disse que quer tirar uma no espelho do banheiro daqui, que lá é bonito.

Tive várias curtidas e comentários em pouco tempo. Franzindo o nariz e mostrando língua, enquanto segurava minhas tranças, eu parecia a antiga Lia, a que chegou no morro do Sol alguns meses atrás. Mas não sou mais exatamente aquela mesma pessoa...

Conversa vai conversa vem, nossa vez de entrar no bar chegou. Pagamos trinta cada, recebemos nossas comandadas, guardamos ambas na bolsa da Mel - eu não trouxe uma - e seguimos as demais pessoas para o interior do Canoa Pub bar.

Logo acima do delimitador de entrada (pequenos postes de inox com aquela faixa removível), numa placa, o nome do bar brilhava incandescente em letra cursiva vermelha com formato de canoa.

Uma moça checou as pulseiras que a atendente do caixa colou em nossos pulsos e abriu a faixa para a gente seguir adiante, dando um "Bem-vindas, aproveitem!", educado.

A piscina se destacou assim que atravessamos o portal em arco, sua superfície perturbada por pequenas ondulações causadas pela cascata média, ao lado da borda. Também perdi alguns segundos apreciando a bela decoração feita de garrafas pet, latas, tampas, copos plásticos pintados e muito mais. Contemporânea, nomeei, vendo a intercalação do verde das plantas em diversos lugares e a madeira clara temática para dar a ideia de que estavamos numa canoa.