25 - Festa Junina

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Dias se foram e outros vieram sem que eu voltasse a receber ligações abstrusas às zero horas.

Dia após dia, me arrumei com mais afinco para trabalhar, aspirando estar preparada caso ele desembarcasse do outro lado da rua. Mas o bar do seu Alcides essa semana não teve grande movimento. Os bandidos deviam estar reclusos, ou encontraram outro lugar para tomar cerveja e arriscar a sorte em jogos.

Meu coração encarou os dias tediosos atrás do balcão com languidez e uma saudade sem precedentes.

Ninguém sente saudade de alguém que não tem intimidade alguma, né?

Levei isso como apenas falta de estímulos à testosterona, tentando não me apegar a sensação idiota de abstinência que sofri durante os onze dias seguintes sem ouvir falar nada dele. A camisa que ele usou no meu ferimento foi lavada e escondida em meu guarda roupa para ser devolvida assim que possível. Não me permiti olhar sequer para ela. Não vou bancar a adolescente carente e apaixonada.

Fabi voltou a ser a mesma alma vagante dentro de um corpo, ainda sem qualquer projeção de futuro ou euforia de viver. Apenas a garota blasé e passiva, serena e chapada.

A conversa da minha avó com a Cibele, no dia seguinte a ligação do Alcaida, não rendeu bons frutos: Cibele começou a chorar desconsoladamente ao desabafar o ocorrido. Entrei na cozinha para o almoço – substituída pelo meu pai atrás do caixa – bem na hora em que ela caia claudicante na cadeira, devastada.

Fui eu quem enchi um copo de água e entreguei a Cibele. Minha avó sentou-se diante dela á mesa, e escutamos por minutos ela contar como se assustou quando o Júlio foi levado pelos homens do Alcaida.

Tive que sentar também, imaginando o que poderia ter acontecido a ele. De ficante irada, acabei como amiga preocupada.

Cibele assumiu sua forte disposição para me fazer sua nora. Não mediria esforços desde que o filho se livrasse da ex maluca, que ela detesta. Por ter tido tempo de me conhecer um pouco melhor, sabia que Júlio e eu nos daríamos bem. O que de fato aconteceu.

Ela garante que o filho garante não ter mais nada com a Bia, sua ex-nora. Que ela era quem não dava sossego, aparecendo na porta de sua casa sempre que o ciúme a impulsionava.

A separação dos dois só pareceu mais real, quando Cibele nos apresentou naquele dia depois da missa. Sustenta a afirmação de que Júlio estava demasiadamente interessado em mim. Como mãe, reconhecia o incêndio se manifestando nos olhos do filho sempre que mencionava meu nome para ele. Uma a uma, as lágrimas serpenteavam seu rosto e ela suspirava entrecortado em meio as frases, contando que naquele domingo da praia, Júlio entrou apressado em casa, a saudando com um beijo e tomando afoito o caminho do banheiro.

Ao reaparecer de banho tomado e toalha, na porta da cozinha, pediu notícias de uma de suas calças novas. Queria usá-la para sair comigo. Não contendo a curiosidade, Cibele interpelou o filho. Ao tomar conhecimento do nosso encontro, regozijada, recolheu a calça da corda e uma camisa de seu agrado. Ia passar as roupas como sempre fazia para que o filho estivesse impecável.

A alegria e o alívio não duraram.

Na rua, a voz descontrolada da Bia ralhava como nos velhos tempos.

Jc vestiu às pressas uma roupa qualquer, saindo para controlar a incontrolável ex-namorada, berrando a plenos pulmões que ele não podia fazer " aquilo" com ela – até hoje vovó e Cibele e eu, tentamos entender como ela soube que Jc estava comigo na praia. Não sabia do beijo, mas sabia que estávamos nos conhecendo.

Não aceitou. Sofreu, gritou e fez tanto drama, que não demorou a aparecem uns caras da firma pra levar os dois pro desenrolo.

Cibele, desorientada por conhecer bem como os caras do movimento cuidam dos assuntos de brigas, correu atrás do carro que levava o filho e a ex nora. Achando no caminho um conhecido solícito, pegou carona até a casa onde os dois foram levados.

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