Pique Al-Qaeda

74 - Vendedora

Sou atendida por uma loira que certamente poderia estar ganhando a vida com sua beleza estampada pela cidade e não como vendedora.

Ela é baixinha, dentes perfeitos, quadril largo, lábios carnudos e tem um rosto de Barbie, o que combina com a proposta e o nome da loja " Barbie chique". Seus cabelos são de um loiro bem cuidado, não aqueles laranjas que vemos por ai. Seu corpo, se eu malhasse bastante, daqui a uns dois anos atingiria algo aproximado.
Ela se veste com estilo, apesar do uniforme e calça jeans. Acrescentou acessórios a roupa de trabalho, um chinelo bonito nos pés e tudo.

Os fios loiros se movem para lá e para cá enquanto ela revira as araras atrás de algo que eu goste. Pedi que me ajudasse a escolher e contei que se trata de um coquetel relevante. Fico impressionada em como, mesmo nessa pequena caixa temática da Babie, que estamos enclausuradas, quente feito o inferno apesar do ar, ela ainda assim está impecavelmente maquiada e com os cabelos soltos. Eu mesma já dei meu jeito e prendi meu cabelo num montinho torto.

Por ser um dia movimentado no comércio local, a pequena loja - rosa de cima a baixo -, recebeu clientes além de sua capacidade, todas querendo garantir seu look para o final de semana. Dentro desses poucos metros quadrados que eu escolhi entrar, por gostar das roupas da vitrine, o ar condicionado trabalha arduamente, em desvantagem, terminando derrotado.

Entre elas, tem eu, uma garota indecisa entre o conjunto de brilhinho, em que a calça é flare e o top trançado, ambos cinzas, ou um vestido básico, curto, preto, confeccionado num tecido parecido com seda. Obviamente não é, mas o preço acessível não interfere no caimento que valorizou aquilo que me falta: bumbum e quadril. As alcinhas finas dão uma ótima sustentação nos seios. Ele é sério, ousado e sóbrio. Perfeito. Bem do jeito que eu gosto. Meu estilo é minimalista, mas sempre com um toque de feminilidade, o que não falta nessa peça. Devo admitir que não esperava achar nada tão minha cara por aqui.

- Eu levaria o vestido, mona. Acho que vai ficar muito mais mulherão, sabe? Essa ocasião pede algo mais elegante. Tu pode levar também esses brincos de pedrinhas azuis brilhantes, que tá vendendo muito. E pode complementar com aquela sandália da vitrine, branca, de amarrar na canela. Tá usando. - A loira divina, de nome Melissa, dá de ombros, solícita, apontando de trás de seu balcão abarrotado de roupas, as sandálias expostas. - É da loja da minha colega aqui do lado, baratinha. Busco pra tu e passo o cartão, depois acerto com ela. Aqui geral se ajuda, ninguém sacaneia ninguém. E a gente vai vivendo.

Pondero outra vez os dois modelos estendidos na minha frente, cansada de pensar, suar, com sede e irritada pela situação que passei ainda há pouco, antes de entrar aqui.

Aron queria me convencer a não ir nesse evento com meu pai me beijando ensandecidamente, o que sim, me deixou bem empolgada. Mas, no fim, novamente me ofendeu, me tirando pra puta, tudo por ser um homem desconfiado em relação às mulheres. Ou seria somente em relação a mim?

Ele me ataca e me obriga a defender meu orgulho. Eu não queria ter dito o que disse, mas as palavras são praticamente puxadas da minha boca pela ira de ser menosprezada. Não sei quem é pior entre nós dois... Ambos temos o mesmo defeito: não aceitar sair perdendo numa discussão. Falamos sempre mais do que devíamos. Nos magoamos e não chegamos a consenso nenhum.

Que se dane a merda da roupa, qualquer coisa serve.

- Vou nem experimentar, Melissa, vai esse vestido mesmo, os brincos e a sandália. - digo eu, sendo empurrada por uma moça que passa para o provador.

Olho para trás, para a sujeita gordinha com cara de mal e de favelada querendo briga. Eu, hein... Tô fora. Finjo que nem foi comigo.

Se Melissa viu, também finge não ter visto nada.