- E o que você respondeu, Fabiana? - Estou desacreditada!
- Respondi o que, Lia? Disse que tentaria te convencer, ué. Deve ter alguém do bonde te querendo muito, porque ele mandou avisar assim que eu falasse contigo.
Empurro o pacote de café contra sua barriga. Ela o segura.
Marcho em direção ao caixa, me sentando atrás dele, lugar de onde ela saiu.
Quem será essa pessoa?
Agora o que minha vó disse sonda minha mente.- Falo que não? - Fabi anda até mim, jogando o pacote na esteira.
- Ainda pergunta, amiga? Não vou há essa, essa... poxa, deve ser a maior putaria! E tem também aquele cara. Não me sinto bem indo, sabendo que ele estará lá. Ontem minha vó teve uma conversa comigo que me assustou.
- Sobre o quê? O Alcaida? Por quê? - a gente se entende a ponto de ser fácil ela saber do que eu falava.
- Ela acha que ele me olhou diferente... eu não percebi nada, mas sabe como minha avó é incisiva nas coisas. - destampo e entorno minha garrafinha de água na boca, matando a sede que de repente me deu.
Fabi faz expressão de " Sei, sim... estranho. "
- Vou avisar que tu não vai, então. Preciso de uma boa desculpa, não posso simplesmente mandar " Ei, Ninja, minha amiga disse que não quer ir". Ele pode pensar que tu se acha boa demais pra se misturar.
- Quem liga para o que ele pensa?
Eu não sou obrigada a ir.Ela me encara de um jeito chateado, parado os dedos sobre a tela do celular.
- Eu pego o Ninja as vezes, Lia. Te falei isso. - seu tom de ser incompreendido me causa culpa.
- Fabiiii... você pode ir, amiga, eu é que não devo. Meu pai iria roncar também. Ainda mais sendo na casa do Ninja. O que deve ter lá, além de putaria e drogas?
Entrelaço nossas mãos.
- Bebidas. Gatinhos. - ela mostra os dentes como uma máquina, pestanejando os cílios. - Vamos?
Entorto a cabeça.
- Ok. Se ele não for, eu vou. Procura saber aí. - olho para o aparelho em sua mão.
O olhar astucioso, ela aperta a tela e aproxima o celular da boca para gravar um áudio.
- Bom dia. Fala tu, Ninja, só uma pergunta... O Alcaida vai estar lá hoje a noite também? A gente não quer ir em lugar que tenha homem comprometido, sabe... melhor evitar confusão (risos).
Tento pegar o celular dela, mas pelo jeito ela já enviou.
- Por que foi tão direta? O que ele vai pensar? - Pergunto horrorizada.
- Ué, agora tá ligando pro que ele pensa? Muda de opinião rápido, você. - esconde o aparelho atrás das costas.
Salto de pé, saindo do caixa para ir terminar minha tarefa.
Já do outro lado, perto dela, dou uma pisada e um grito, em sua frente, tentando assustá-la na zoação.
O efeito causado não passa de uma risadinha e um bocejo.
- Você é cara de pau, cara... como pode? - digo, me direcionando as minhas prateleiras desabastecidas.
- Vou pra casa trabalhar.
- Jogar videogame, tu quer dizer, né? Tudo bem, eu não preciso mesmo de você aqui. Estou bem sozinha, sua companhia não faz falta. - digo em tom dramático.
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Pique Al-Qaeda
RomanceEle é uma bomba, um perigo. Ela sabe que não deve se arriscar tão perto, que pode se ferir com uma iminente explosão. Lia tem 19 anos, e uma perda a levou para o morro do Sol. Ajudar a família vem em primeiro lugar, até mesmo antes de seus desejos...