15 - Sombra da violência

892 91 4
                                    


- Espera... – a loira, a mulher do homem que eu estava agora mesmo beijando no rosto, que me carregou próximo a sua pele quente, muda lentamente o olhar do meu pé, enrolado no tecido preto e pendurado para fora do carro, para o rosto de seu homem não muito satisfeito. Ela também não pergunta com satisfação: - Por que tua camisa está enrolada no pé dessa garota?

Ai, meu Deus... estou por um fio de sucumbir.

Acho que a bebida quer voltar do meu estômago; minha boca saliva em excesso pelo enjôo.

Desorientada, arremesso meu olhar para o da Fabi.

Ela está pronta para cortar fora minha cabeça. Em seus olhos há uma repreensão silenciosa implícita: "acabei na mira do olhar da mulher do homem que eu deveria evitar", acusam.

Volto o olhar para o casal na calçada, dando uma de quem não quer nada, de quem não deve nada – porque não devo mesmo.

Ela não roda mais a chave no indicador como antes, e sua expressão de mulher possessiva me mete o maior medo.

Alcaida, sem ser a encarar, soltando fumaça pelas ventas, não fez mais nada.

E eu? O que devo fazer?

Ela vai me esculachar se souber que beijei o rosto de seu namorado, noivo ou amante.

Cubro minha boca na velocidade certa, logo que um líquido amargo se precipita pela minha garganta. O engulo novamente, na marra.

- Quem é você, garota? - ela direciona suas palavras nada gentis a mim. - Por que a blusa dele tá no teu pé? – ela vai me agredir. Jesus!

No mesmo momento em que Alcaida agarra o braço fino dela com sua mão muito bem desenvolvida obrigada, ela brada em minha direção:

- Tô perguntando, porra! Não sabe falar, cadela?! – seu rosto ficou cor de rosa de ódio, mesmo sob a luz amarelada da rua.

Fabi enterra as duas mãos nos cabelos, tipo: " Fodeu muito!"

- Responde, garota! – a loira exige, vociferando.

Estou entre soltar uma jatada de vômito ou desmaiar de pavor.

Observo que tanto o Ninja, como os seguranças, estão tranquilos demais com aquele mini barraco. Devem ser acostumados a esse tipo de cena ralacionada ao Alcaida.

Já o próprio Alcaida, parece enfurecido, embora não emita nenhuma palavra.

Não vai ter jeito, vou vomitar a qualquer momento.

O que acontece em seguida, antes de eu ter tempo de pôr meu estômago para fora, é algo estranho de se relatar: Alcaida, num movimento de nada de cabeça, chama os seguranças que andam dia e noite com ele desde que voltou para o morro, e dois deles agarram os braços da loira. Ela não está nada feliz com a falta de explicação nem com a maneira como é segurada por aqueles brutos em cada braço.

Seus olhos irados procuram os do Alcaida, ganhando um "quê " de subalternos, o que é incômodo de se ver, não sei porquê.

Ele segura o olhar dela por segundos, até que ela, simplesmente, como se voltasse a si e percebesse que não deveria ter aparecido e que passou dos limites - quais são esses limites, foge a minha compreensão -, joga a cabeça para baixo, resignada e rendida. Os fios dourados de seu cabelo vão junto, fechando seu rosto e dando privacidade aos seus olhos.

- O celular. - ele sibila numa voz maligna e arrepiante. - Agora. – estende a mão.

- No bolso de trás... – sussurra ela, tão baixo que mal pude ouvir.

Pique Al-Qaeda Onde histórias criam vida. Descubra agora