87 O alvo

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Narrado em terceira pessoa,

Naquele momento, em que Aron entrou com Lia no barraco, um grupo seleto de bandidos avançava secretamente pelos becos mais escuros e mais altos do morro do Sol.

Eles tinham o objetivo de encontrar de qualquer jeito seu alvo.

Não o encontraram propriamente, mas depararam com sua moto estacionada a Deus dará na entrada de um beco. Tinham certeza de ser dele, pois em ocasião de uma reunião onde estiveram ali, o viram em posse de tal máquina.

O dinheiro cheira a sangue e a disputa é suja e violenta. A ordem passada ao chefe deles, era para levar de volta o conhecido como Hussein para a Nova Holanda. Apesar de não entenderem nada e estarem apenas seguindo orientações dos superiores, em suas mentes questionavam as razões.

Se haviam desconfianças, que fossem esclarecidas e que eles pagassem com a vida como tem que ser: Ninja, Bazuca e Hussein.

Mas o chefe foi categórico ao determinar o que deveria ser feito.

O plano principal era causar um leve susto, dar um toque para ele abandonar a favela e aceitar a proposta de voltar ao seu local de origem. Propostas feitas e várias vezes recusadas com mais veemência nos últimos tempos. A nova ordem agora, era para capturar o Hussein.

Sendo assim, usaram a distração do carro para conseguirem entrar pela entrada perto do córrego, que passa pela mata. Um mero grupo de seis homens. Não seriam reconhecidos, pois usavam toucas das quais só seus olhos apareciam.

Eles não conheciam o verdadeiro Alcaida. O homem bomba que queriam capturar.

Não... Ninguém além dos dois amigos íntimos sabia o quanto ele era inteligente e calculista em cada passo.

Antes de o balão subir, os soldados daquele grupo tinham de estar fora dali.

Seguindo como lhes foi orientado, procuravam na área qualquer vestígio de onde Aron poderia estar. Não o acharam, mas imaginavam que não seria burro o bastante para sair e arriscar sua vida na linha de frente, só podia estar escondido em algum buraco. Para trocar tiro, afinal, tinham os soldados. A vida do chefe era valiosa, e quem entrava no crime tinha de estar disposto a dar a sua para defender a de quem estava acima. Era o fundamento.

Ninguém nessa vida tinha a ilusão e a prepotência de achar que no início teria mais valor que o dono do território, das bocas e seus selecionados. Queria reconhecimento? Que chegasse onde os caras chegaram. Não estava lá ainda? Era fuzil na mão pra defender a vida dos superiores. Vacilou, ramelou, correu, ou se acovardou? Tem caô não, de trinta na cara. Tem nem velório. Morre como vacilão covarde.

Nenhum deles ali queria esse fim, então precisavam, além de proteger o chefe deles, executar a ordem, achar o mano e levar.

Rodearam as redondezas para tentar farejar qualquer indício de onde ele poderia estar entocado.

Entraram e viraram, por fim chegando à mesma porta onde antes uma mocinha bela atravessou com o homem que eles procuravam.

Olharam, olharam, escutaram, mas nada viram de suspeito.

Claro, nesse momento, o homem que eles queriam estava sentado na cama à luz da vela fraca, que não os atraiu pelo vidro da janela, coberto com um fino pano.

Em frente a ele, a mocinha ajoelhada lhe prestava agrados com a boca.

Nada de barulho, ou gemidos altos. Não havia luz ligada, nem havia muito mais o que procurar.

Se caso a mocinha não tivesse envolvido o homem em seu charme, ele teria se encontrado com seus rivais e Deus sabe o que teria acontecido.

Ela lhe salvara de algum modo ao se despir do sutiã e seduzi-lo a ficar.

O bonde furtivamente voltou pelos cantos das paredes, mais a frente entrando numa outra casa e encontrando um casal dormindo num colchão da sala. Assustados, o casal suplicou misericórdia — acordaram com fuzis e homens encapuzados em sua casa. O grupo se retirou sem fazer nenhum mal a eles, não eram seu alvo. Procuraram por mais um tempo, talvez umas meia hora?

Tempo suficiente para a mocinha entreter o alvo deles com beijos e rebolados, gemidos e suor. O homem não pensava em mais nada, não sairia dali até levar a bela dama a perdição total e se perder também, inconsequentemente e inevitavelmente em cada curva de seu lindo corpo.

Ouvir ela chama-lo de amor e se saciar da vontade que guardava há muito no peito, era no momento, a coisa mais sensata a se fazer. E ainda bem que eram sensatos os loucos.

Lá se foram o grupo para uma nova jornada em outra parte do morro, após nada encontrarem em nenhuma das pobres casinhas que invadiram no lado norte da favela.

Eles estariam longe quando, enfim, o homem beijasse a dama na testa, recebesse dela o sinal da cruz na fronte, boca e peito, para sair de volta até onde estava sua Ninja preta, montar sobre ela e ir defender seu morro.

Aquele grupo jamais o encontraria. Não aquela noite. E quando o dia clareasse, eles estariam, se escapassem vivos, voltando para casa de mãos vazias.

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