29 Pecaminoso

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Como costuma ser uma igreja, aqui dentro o ambiente é plácido e estático.

A iluminação é suave, receptiva. Os santos e a imagem de Jesus na cruz, assistem meus passos decididos pelo corredor, entre as fileiras de bancos. Avanço confiante, mas minhas pernas estão pastosas.

Ele está sentado num dos primeiros bancos, com um dos braços esticado pelo apoio de madeira.

Eu paro ao lado do banco da frente. Novamente, em respeito ao lugar, e por hábito, me benzo. Girando dignamente, mão no quadril, o encaro.

Seu olhar prepotente e imperturbável explora minhas pernas, meu vestido, meus seios e, por fim, meu rosto afrontoso. Ele batuca os dedos na madeira entre o espaço vago de suas coxas.

- Roupa maneira. - diz, casualmente.

- Me queria aqui? Eu vim. - Posso me conter, mesmo que ele esteja me deixando em transe com esse olhar desejoso e fatal. A posição dele no banco denota controle da situação. Ele é o condutor, jogado lá com as pernas separadas e as rugas da testa erguidas de modo convencido.

- Não vai falar nada? Por que estou aqui? - cutuco mais um pouco. Eu hein... credo. O homem não abre a boca.

- Tu sabe porquê. - a voz dura retumba pelas paredes mórbidas da igreja. - Mas também queria te dar os parabéns pelo show. Tu dominou tudo. Incluindo minha cabeça...

Mudo a perna de posição.

- Sua namorada está lá fora te esperando. - mantenho a expressão superior.

- Foda se ela. - abaixa os olhos de novo, o que me deixa um pouco desestabilizada. - Quem eu quero é você.

- Escuta aqui, eu...

- O que eu tenho que fazer pra você ser minha, Talia? - prega os olhos presunçosos nos meus, e isso me pega desprevenida: o olhar e a pergunta.

Ele novamente me seca sem nenhuma discrição e com bastante safadeza.

- Aron, eu já te pedi pra me deixar em paz, não foi?

Seu olhar repentinamente sobe de novo.

- Quer paz depois de cantar daquele jeito pra mim? - Fica de pé num estalar de dedos.

Não tenho tempo de me afastar, só de descruzar os braços e entreabrir a boca no momento em que ele me pega pela cintura com um só braço, me apertando forte e me chocando em seu corpo.

Minha cabeça está erguida, e seu toque, sua beleza, sua masculinidade e poder, me roubam as palavras. Meu olhar faz um caminho triangular em seu rosto: um olho, o outro, depois a boca.

A força de seu braço em volta da minha frágil cintura, é excitante. Acredito que olho de modo infantil e desprotegido para ele, e isso o faz lamber os lábios.

Sua mão se encaixa no meu rosto, como se fosse feita sob medida para caber no meu maxilar.

- Me diz o que eu tenho que fazer.

As palavras se fincam como uma faca bem na minha barriga. Abre um buraco. Parece estar entrando ar.

- Você estava enfiando a língua por dentro da goela daquela mulher e agora vem me dizer essas coisas? E se eu não acreditar em você? - como se fosse me ajudar, empurro a mão contra seu peitoral, sentindo o quanto é duro por baixo do moletom preto.

- Que mulher? A única mulher que me interessa é a que tava no palco. - sua boca quase toca a minha, mas viro o rosto. - Se não acredita no eu digo, deixa eu te mostrar. - os dedos penetram por baixo do meu cabelo, segurando minha nuca.

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