Saímos da acadêmia quase secos. O céu já havia escurecido totalmente e o quintal agora estava todo aceso por luzes artificiais, ao som da música que jamais diminuiu de volume.
Aron e eu havíamos esquecido que existia vida aqui fora, longe do nosso universo perfeito. Quando terminei de tocar e me arrastei até ele pelo piso, ele me agarrou, deitou e me torceu, mordendo minha bunda. Mordeu e beijou, mas ainda estou andando com a marca de seus dentes impressas na minha poupança. Quase chorei de dor na hora e essa dor ainda não amenizou. Por minha vez, lasquei uma boa mordida em seu peitoral que também deixou a impressão dos meus dentes registrada. De tão gamadinhos um no outro, estávamos ficando chatos e melosos.
Não nos soltávamos e nem conseguíamos manter nossas mãos e bocas muito tempo longe. Eu, que nunca senti isso antes, só pensava em formas de prolongar cada minuto o máximo que desse. E me surpreendia pensando se ele também estaria sentindo tudo isso pela primeira vez. Parecia muito que sim, mas não tive coragem de perguntar.
Levei meu violão comigo, lógico, e poderia fazer qualquer coisa atada a ele sem problemas. Nada ia me separar do melhor presente que já ganhei na vida; na outra mão, eu levava a cerveja vazia. Precisei descarta-la quando meu celular tocou.
Voltei todo o caminho correndo, avisando ao Aron que ia atender a ligação na academia. Com Zé empertigado em seu ombro, ele observou sem entender eu disparar, mas não disse nada.
Ainda bem que era meu irmão.
Minha mãe teria me entupido de indagações sobre o que eu estaria fazendo.Léo estava chateado porque nossos pais conversaram e decidiram, ainda há pouco, por chamada de vídeo, que ele não poderia fazer uma tatuagem.
Eu não tinha como ajudar ele nessa, mas ele, como eu mesma fazia às vezes, só queria desabafar sobre sua vida injusta e sua ansiedade para crescer, arrumar um emprego e ir morar sozinho.
Ouvi resignadamente suas queixas e aconselhei que ele escrevesse os nomes deles na tatuagem para amenizar o impacto quando vissem.- Ah, vá se ferrar, Lia! Eu aqui falando sério contigo... Poxa... - ele não gostou da piadinha, mas considerou a parte de se tatuar escondido.
- Se descobrirem não vai me entregar, diga que foi ideia sua. Eu não vou apanhar contigo não. - adiantei. Ele riu e prometeu não me delatar se resolvesse infringir as regras lá de casa e procurar chifre na cabeça de cavalo marcando eternamente seu corpinho menor de idade.
Quando desligamos, eu virei para porta e ele estava lá, escorado no vidro, as mãos debaixo de cada axila. Seu semblante era austero enquanto me dissecava a cada passo que eu dava. A maconha deixou linhas proeminentes na parte branca de seus olhos esticadinhos e chapados. O restante do seu rosto estava com uma aparência fria.
Eu me aproximei e dei um selinho, depois outro. Ele não retribuiu, pois parecia feito de cera parado ali, os olhos me examinando meticulosamente.
- Vou la falar com a Mel - meu olhar atravessou o quintal e a vi sentada numa cadeira ao lado da Fernanda.
Elas conversavam adoravelmente.Fernanda estava mais sorridente do que quando chegou, sugerindo estar estimulada pela bebida. Bazuca estava usando cerveja para dissuadi-la de levar sua pequena.
- Onde é que a Fernanda quer levar a Isa? - perguntei algo correspondente ao que eu estava pensando, notando tardiamente que ele não queria falar sobre aquilo. Nem respondeu, continuou me olhando. - Vamos, amor, vou lá dar um soco no nariz da Mel. - gastei, puxando sua mão para ele me acompanhar.
Ele me deteve com um arranque, que me fez voltar como uma mola.
- Quem era na ligação? - acobertou muito bem qualquer desconfiança na voz. Parecia só uma pergunta insignificante, embora seu olhar fulminante desse uma dica da realidade de seus sentimentos naquele momento.
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Pique Al-Qaeda
RomanceEle é uma bomba, um perigo. Ela sabe que não deve se arriscar tão perto, que pode se ferir com uma iminente explosão. Lia tem 19 anos, e uma perda a levou para o morro do Sol. Ajudar a família vem em primeiro lugar, até mesmo antes de seus desejos...