64 - Areia movediça

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- Por que quando sou eu, você se sente assim e quando foi aquele otário tu não pensou da mesma forma, Talia? - ele pergunta, declinando outra ligação no celular. Seu tom era de professor ensinando a lição.

Limpei a bochecha com as costas da mão.

Não tive coragem de erguer a cabeça.

- Eu já entendi, Aron. Entendi... me arrependo, mas na hora só queria me vingar por me sentir enganada e humilhada. Mas agora eu vi que não devia ter deixado ele me tratar assim.

Tempo longo sem nenhum de nós falar nada. Ele me esquadrinhava, pensativo, até que, após uns segundos, balançou o celular apontado para mim, o braço apoiado no voltante.

- Eu vou liberar aquele moleque, mas minha vontade é cortar o pau dele e fazer ele engolir aquela vacilação pelo que fez contigo!

Lancei olhos gigantes para ele, em pânico.

Ele me acalmou:

- Por você vou desconsiderar tudo que aconteceu essa noite, porque eu imagino o quanto foi foda tu ver o que viu. - estava de volta o homem que me fascinava - Mas se tu der mole com aquele moleque de novo, se ele for na tua casa, se ele te tocar, tu pode me esquecer. E eu arranco a cabeça dele. - tempo - Estamos conversados?

Eu apenas fiz que sim, agradecida, incapaz de ir contra.

- Não vai mais acontecer, juro. Eu não quero colocar ele em perigo por ele ser um amigo da família, filho da Cibele nossa ajudante. - a minha ideia era esclarecer que meus motivos não eram românticos.

- Segunda parada: Fabiana. Não quero ela te arrastando pra baile, pra festinha, pra porra nenhuma.

- Mas ela...

- Talia, eu não quero saber! É sim ou não.

Se eu dissesse não, Fabi... enfim. Ele estava se mostrando para mim agora.

Concordei.

Limpei outra lágrima.

Ele me encarou um segundo e fez uma ligação, olhando pras minhas pernas nuas naquele vestido caro e bonito. Eu já não me sentia mais tão atraente nele. Eu me sentia nua, vulgar.

Tentei abaixar mais, contudo ele percebeu e, antes de atenderem, segurou minha mão e cochichou, balançando a cabeça:

- Tá incrível... - aquele elogio, junto daquele olhar sincero, devolveram meu brilho.

Ele não era o tipo de homem que iria detonar minha autoestima. Ele só tinha um defeito - ser pai de família e ter o poder de me deixar tão louca por ele a ponto de eu estar disposta a aceitar qualquer coisa.

- Sou eu, Ninja, visão: se o menor tiver andando, bota pra casa. Avisa o negão pra segurar a maluca lá. Aquela filha da puta tem muita sorte de estar grávida de um filho meu.

Ouviu algo que o Ninja disse, autorizou com um " jaé', e desligou.

Jogando o celular no painel, contou:

- Tu amiga vai ser liberada depois da disciplina. Teu... - coçou o nariz com a ponta do polegar. - Amigo, tá sendo liberado nesse momento.

- Por que você falou que se ele estivesse andando... - cobri a boca; ele me olhava sério. - Você mandou bater nele, Aron?

- Não se esqueça de quem eu sou, Lia. Ele deve estar se sentindo muito agradecido por ter sido liberado, pode ter certeza. Não quero que você me odeie mais do que já odeia, mas de todo modo tu ia ficar sabendo que ele teve uma sessão na mão dos meus soldados. Melhor ser eu a te passar a visão de uma vez. - ele se inclinou e pôs a mecha do meu cabelo atrás da orelha. - Por mais puto que eu tenha ficado, tô ligado que você tem seus motivos, assim como eu tenho os meus, Talia. Mas respeito é pra quem tem. Ele deu sorte por eu não ir pessoalmente cobrar essa porra.
Que moral eu teria se deixasse ele sair inteiro após pegar a mina que eu não tiro da cabeça?

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