44 Custe o que custar

655 47 3
                                    

Bati a mão na água para virar o Flamingo e pedir ajuda para sair. Iria para casa e não voltaria a escapar como uma inconsequente.

No que viramos lentamente, Isa e eu, vi que os três assumiram outras expressões corporais e faciais. Reunidos na varanda, testemunhavam Bazuca ao celular sem se meterem, apenas prestando apoio. Como era alto o volume da musiquinha do filme nas caixas amplificadoras ao redor, só consegui ouvir o Bazuca bravejando: " Não enche meu saco, Fernanda!" .

Nisso, seus olhos saltaram para cá e seus passos aconteciam decididamente, ao ponto de eu achar que ele fosse me agredir. Os amigos lançaram-se atrás dele. Nenhum exibindo bons presságios em seus rostos.

- Fernanda, a Isadora tá dormindo, cara. A garota tava vendo filme, não foi isso que te falei que a gente ia fazer? Qual é o teu problema, porra? Puta que pariu, mermão! - Bazuca tentava maneirar no tom para não acordar a filha, mas era visível que estava a uma patinha de formiga de perder a cabeça. - E eu não sei não o que é bom ou ruim pra minha própria filha, Fernanda? - passou uns cinco segundos de silêncio entre todos nós, cada um olhando para um ponto aleatório diferente. - Ok. É o que tu quer? - ele olhou pro Ninja, colado com ele, a postos para o que o amigo precisasse. Aron, igualmente. Os dois cercavam o Bazuca, deixando bem claro que estavam ali e que agiriam ao menor sinal, fosse qual fosse a situação.

Isso deu a mim uma maior dimensão do tamanho da união do trio. Eram amigos de verdade, pra o que desse e viesse. Nem a carinha levada do Ninja estava mais igual. Ele entrou no modo ataque. Gastava e tudo, mas na hora do vamos ver ele era pau pra toda obra e virava soldado.

Bazuca balbuciou sem som pra ele:

- Pega a Isa ali pra mim, irmão. Essa filha da puta tá testando minha fé. - li as palavras em sua boca enquanto ele ouvia o que era dito na ligação.

Aron veio ajudar, como que querendo ser proativo. Parecia que se ficasse parado não estaria mostrando ao amigo sua lealdade e disposição, e isso era tocante.

Aron se agachou na borda, de joelhos, e puxou a boia. Ninja segurou no puxador lateral, mantendo-a parada. Alcaida conseguiu suspender a Isa sem acorda-la, o que para ele devia ser mole, considerando a força que seus músculos devem fornecer.

Olhei mais demorado pro Ninja, envergonhada pela junção dos meus próprios pensamentos e das palavras do Bazuca:

- Não tem mulher aqui, Fernanda! Mano, numa boa? Já deu. Não, não...Já deu. Vou levar ela ai e pegar minhas coisas. - ele disse, intolerante e um pouco mais alto.

Pensei no que representava ele estar tendo aquela conversa na minha presença. Alguma confiança eles deviam ter em mim, e me senti parte do grupo, membro da família, mesmo não sendo nada. Eu guardaria esse segredo íntimo da briga dele com a esposa, que poderia talvez nem ser tão segredo assim na comunidade. Lembro bem da Fabi me deixando a par de tudo há semanas atrás. Ela disse que Bazuca traia muito a esposa e estava com ela somente por amor a filha. Para proporcionar uma família a Isa. E esse cansaço emocional que ele demonstra só confirma os boatos. Mesmo assim, farei questão de não contar a ninguém que participei de uma discussão entre o 02 - não conseguia ver ele e Ninja numa disputa para saber quem era 03, então para mim, pessoalmente, ambos são os braços direito e esquerdo. - do morro e sua esposa.

Ninja me guinou pela mão e murmurou, com o olhar dentro do meu:

- Não é nada contigo, ok? Ela é assim. Se tu conhecer, vai ver que é gente boa, mas é zica também.

Quem iria acreditar nisso?
Eu não era essa pessoa.

Não em questão de ela ser do bem, isso devia ser verdade porque me lembro de ela ser simpática com a Ayla. Mas em questão de eu ser parte do motivo de suas implicâncias em relação a esta casa.

Pique Al-Qaeda Onde histórias criam vida. Descubra agora