- Posso te ligar de video?
Olhei para a janela do quarto da minha avó. A luz estava apagada.
- Tá... mas não vou demorar muito, ôh boxeador.
- Tranquilo. - ele desligou na minha cara e ligou pelo WhatsApp.
Quando atendi, o vi na tela dentro de uma piscina suntuosa e com uma água muito iluminada batendo eu seu peitoral.
Posicionou o celular escorado em algo na borda da piscina enquanto eu segurava o meu, me vendo na imagem menor com o braço apoiado na borda e o rosto deitado de lado sobre ele.
A água aqui era azul e iluminada também, mas a paisagem ao fundo da piscina dele era muito mais bonita. Localizada num lugar alto, atrás de um vidro, tinha vista para o morro do sol.
- Vistão tu tem ai, hein... - eu disse, impressionada.
Ele esfregava os cabelos loiros, os músculos brilhando com o reflexo das luzes em sua pele molhada. A água escorria de seus cotovelos e pelos desenhos de seu abdome. Um maldito pedaço de mal caminho!
Olhou rapidamente para trás, depois foi até o celular, o rosto se ampliando conforme chegava mais perto. A expressão de sempre, ele ergueu o celular de modo que consegui ter uma noção melhor da vista que ele tinha de sua piscina nada humilde.
Abaixo do ponto em que o azul da água refletia em seu rosto e no vidro transparente, a favela se esticava em pequenas estrelinhas.
- Tá convidada, com todo respeito, pra vir dar uns mergulhos aqui e conhecer ao vivo. - voltou o celular pro lugar. Recuou e ficou de pé, com as mãos cruzadas no peito, me observando na tela.
Meus cabelos molhadas e escuros estavam lambidos para trás, e quase não aparecia nada do meu corpo, a não ser parte do meu ombro e meu rosto molhado. Os cílios, que eu me orgulhava por serem naturalmente longos e cheios, estavam empapados.
Abri um sorriso.
- Para de me chamar pra ir na tua casa, sabe que não vou...
- Para tu com isso, pô... qual a neurose? - ele disse quando minha voz chegou lá do outro lado, franzindo as sobrancelhas. - Te dar um papo? A Yara vai voltar pro apê dela em Copacabana. Não da certo ela aqui comigo... - mergulhou, apontando mais perto da borda com os cabelos escorrendo. Ele raramente sorria, então não fez isso agora, ao apoiar os braços como os meus estavam. Deixou o queixo sobre eles, e continuou: - Se esse for o único problema pra você, tá resolvido.
Seus ombros, naquela posição, eram como pedras de tão fortes e protuberantes.
Ele me olhava com carinha de sonso, ao mesmo tempo, de terrorista.
- Você tem tantas opções, que eu já fiquei sabendo... tem sua ex. - me embrulhou o estômago tocar de propósito no assunto na esperança de descobrir se ele ainda a amava. - Eu não quero me meter nesse meio. Minha família me odiaria.
- Tu só precisa saber que se eu quiser mesmo alguém específico, abandono todas as opções.
Arregalei os olhos e me afastei do celular, sumindo debaixo da água, voltando rápido e limpando os olhos.
Não sabia o que dizer... era super raro eu não ter respostas.Ele se esticou para o lado, o que me possibilitou ver com detalhes seu tanquinho. Quando voltou, estava com um cigarro de maconha na boca e o papagaio no ombro.
- Ei, zé! - sorri fervorosamente para a ave verde e curiosa. Sua cabecinha estava torta de lado, e ele assoviava para a tela.
- Alcaidáaaa. - chamou o nome do dono, me fazendo erguer as rugas da testa, adorando.
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Pique Al-Qaeda
RomanceEle é uma bomba, um perigo. Ela sabe que não deve se arriscar tão perto, que pode se ferir com uma iminente explosão. Lia tem 19 anos, e uma perda a levou para o morro do Sol. Ajudar a família vem em primeiro lugar, até mesmo antes de seus desejos...