( Domingo, 07 de agosto de 2022, pela manhã)
Consegui dormir novamente depois que ele se foi? Que pergunta!
Tomei os dois comprimidos anticoncepcionais, procurando fazer uma anotação mental para ir ao médico resolver essa questão assim que possível.
Tomei um banho morno, no jato impressionante do chuveiro impressionante do Aron, ainda meio "azedinha" como ele me chamou. Ri disso sozinha; eu era mesmo azeda ao acordar. Ainda mais ao acordar contra minha vontade.
Não sabia aonde iríamos, então resolvi descer primeiro, saber o que estava acontecendo para, somente após, vestir o look ideal dentre as opções limitadas da minha mochila.
Pelo caminho, amarrei um rabo de cavalo; facilitaria minha vida. Ao cruzar pela porta do quarto do Bazuca, fechada, em que provavelmente sua família dormiu, notei novamente o som de desenho animado, e a voz da Fernanda falando algo com a filha. Será que Isa acordava menos azedinha que eu? Pelo seu resmungo em resposta a mãe, creio que não.
Ao me aproximar da cozinha, identifiquei as três vozes masculinas da casa discutindo algum assunto de suma importância.
- Eu já dei minha opinião, mano, acho vacilação tu pixadão desse jeito ai se explanar nesse momento. A pista tá salgada, tu sabe bem. - Bazuca disse meio ranzinza.
- Você mesmo vive dando papo de que crime é raciocínio, que não é só andar pesadão com soldados e pá, mas parece tá com a mente atormentada. Esses espíritos de porco tão vasculhando até debaixo da terra atrás de algo que facilite o caminho deles até nós e tu vai praticamente se entregar na mão deles, braço. Qualquer um pode tá mandado, a gente não sabe quem fecha ou quem tá na maldade. Ainda pretende arrastar a mina, pô... Às vezes é caso de repensar, esperar o momento certo. - Foi a vez do Ninja opinar, milagrosamente, sem fazer nenhuma gozação.
- A pista ta palmeada, mais suave que sabonete Dove. Os cana tão bem alimentados, já passaram a visão das condições, terror nenhum. - Aron se manifestou, calmamente. - O momento é esse, nós tá fortão, cheio de ódio no coração e quem vier vai ficar amassado. E outra, nem vocês nem ninguém vai me travar não, ou tão comigo ou contra mim. Papo de ficar me aloprando pra caralho, barulhando na minha orelha, tomar no cu, porra.
- Bom dia. - surgi na porta, decidida a interferir e descobrir do que se tratava aquele bate boca.
Bazuca e Ninja estavam do outro lado da bancada e o Aron sentado na banqueta em frente. Fora ele, o "Bom dia" dos outros não teve muita receptividade.
Aron vistoriou a combinação de uma blusa larga dele e de um short jeans em meu corpo, notavelmente aprovando ao dar um sorrisinho curto. Se estava pensando que eu sairia assim de casa, estava bem enganado.
Ele me chamou, estendendo a mão, e me levou para o meio de suas pernas separadas, perguntando se dormi bem e me alisando discretamente por cima da roupa folgada.
- Dormi sim... - analisei os outros dois, após um beijinho breve na boca dele. - E vocês?
Ninja tinha uma fisionomia preocupada, debruçando-se sobre a bancada de mármore com o queixo na mão. Bazuca passava um café, despejando a água fumegante no coador cheio de um cheiroso pó, cujo cheiro me provocou um ronco na barriga de fome.
Eles não responderam ao que perguntei, mas Bazuca falou:
- Já o menor tá brotando ai com umas paradinhas da padaria que mandei trazer. A Nanda e a Isa tão descendo daqui a pouco também pra tomar café contigo. - suspeitei que ele ouviu o clamor do meu estômago. - Tu prefere café preto, com leite ou suco?
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Pique Al-Qaeda
Roman d'amourEle é uma bomba, um perigo. Ela sabe que não deve se arriscar tão perto, que pode se ferir com uma iminente explosão. Lia tem 19 anos, e uma perda a levou para o morro do Sol. Ajudar a família vem em primeiro lugar, até mesmo antes de seus desejos...