56 Com ferro fere

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" Chefin, tá aaaiiii, é o bala! "

"Cheirando a 212 no meu pano tô virgulado..."

Curtimos o show tomando Whisky e energético, no cantinho perto do palco, lugar onde conseguimos, ao menos, alguma distância um do outro.

Não olhei nenhuma vez pro camarote em que ele está, mas Fabi a todo minuto vem até mim, contar que viu ele olhando pra essa direção.

Ela não sabe que ficamos, nem o JC. Mas sempre rolou uma desconfiança de que Aron me queria. Agora, ele não quer mais, e ainda que quisesse, a confiança é uma conquista. A minha, ele perdeu.

Eu acreditei ver em seus olhos muita verdade, por isso me entreguei de vez aquele beijo. Fui errada, não tenho para quem jogar essa culpa, no entanto, voltar a confiar nele e nas coisas que me diz, nunca mais.

Posso não ter tido um monte de namorados e ser inexperiente nessas questões da vida, porém, sei muito bem o que não preciso aceitar de um homem. Claro que está me matando por dentro saber que fui enganada e que ele está com ela lá em cima, mas não deixo ninguém notar. Não posso.

Teve um momento que Jc perguntou se estava tranquilo pra gente. Na real, ele queria saber se teria problemas por estar comigo. Pensei, estudei sua pergunta e respondi que não. Eu imaginava que não teria problema algum. Não devo nada a ninguém; Aron tem a Yara para se preocupar.

Essa constatação sufoca meu peito: saber que confiei num homem que me fez de idiota.

Por que tive aquelas visões?

Só me abri mais para a possibilidade de aceitar um beijo dele após a visão no carro. Será possível ter me enganado?

Minha avó disse, que uma escolha diferente pode mudar o destino de uma pessoa. Talvez seja isso. Para aquela visão ser real, ele teria que ter me escolhido, mas escolheu a ela, então nosso destino não é mais estarmos juntos naquela praia paradisíaca. Ele tomou sua decisão, e preciso me conformar.

Se ele pensa que terá as duas, está bem enganado. Ele que fique com ela!

Olho pro Jc, ao meu lado, prestando atenção no show.

Está quase acabando. Pretendo ir embora assim que Chefin se despedir. Se Fabi quiser ficar mais, não me importo. Para mim, já deu.

O show é maravilhoso, estou suada de dançar e pelo calor do aglomerado, e suponho que amanhã estarei rouca. Aproveitei muito. Mas não tem mais o que eu fazer aqui. Ficou cansativo ter que me segurar o tempo todo para não sondar aquele camarote e manter a dignidade.

Me sentindo enfraquecida, acabo me rendendo a curiosidade. Assim que faço isso, penso que devia ter escutado a voz na minha cabeça que me brecou até esse momento, porque me machuca a cena que encontro.

Yara está feliz, assistindo ao show grudada no peitoril. Aron, atrás dela, vira uma latinha de energético na boca. Sua mão segura a cintura fininha de sua mulher loira e aparecida, então ele termina de beber e se abaixa para falar algo em seu ouvido, lhe arrancando um sorriso acanhado. Ela bate palminhas, cobre a boca e se vira de frente para ele, enlaçando seu pescoço. Deve estar se declarando. Coisas de casais...

Não parece que ele esteja somente dando a ela o status que tanto deseja. É evidente para mim, que não está sendo forçado. Não que esteja sorrindo - é quase sempre muito sério e não o vi sorrindo ainda como sorriu nas vezes em que estávamos juntos. Lembro bem nitidamente, como se estivesse vendo ao vivo e a cores, quando ele chegou de moto para me buscar. Só de a gente se ver, sorrimos mutuamente como se fosse uma reação além de nosso controle. Apesar de não haver isso ali, entre eles, Aron dá atenção as palavras que ela diz, não se importando com mais ninguém. E por mais ninguém, me refiro a mim. Ele parece nem lembrar de que estou aqui.

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