Cantamos parabéns para o Aron assim que Nanda foi lá fora buscar os três com uma desculpinha. Isa e eu estávamos a postos atrás da mesa, o bolo diante de nós e as velas brancas acesas. Trinta e duas velas.
Aron não saiu andando e nos deixou cantando para as paredes, mas também não deu um sorriso e nem se mostrou agradecido. Ele estava pistola, Zé empoleirado em seu ombro.
Acabou que quem soprou as velinhas foi a Isa.
- Faz um pedido em nome do seu dindo, Isa. - a orientei. Criança podia porque eram puras.
Ela fechou os olhinhos, apertando.
- Hummm... Deixa eu pensar. Já sei! - sorriu e assoprou as trinta e duas chamas, depois levantou os bracinhos para contar, inflada: - Pedi que o Dindo seja namorado da Lia.
Todos riram.
- Eles já são namorados, meu amor. - a mãe dela a atualizou.
Isa olhou para mim de olhos arregalados.
- É mesmo, Lia? Você é namorada do meu dindo?
Eu estava azul de tanta vergonha.
Olhei para o Aron procurando ajuda, até que ele fez que sim com a cabeça. Eu quase chorei. Sério, faltou muito pouco para eu cair nos ombros da pequena Isa e desabar de emoção.- Sim, Isa... - alisei um cacho rebelde de seu cabelo que, como sua mãe previu, estava embaraçado.
- Ebaaaaa!!! - ela simplesmente se arremessou em meu colo. - Eba, eba! Quero bolooooo!
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Meu biquíni preto estava seco, ainda bem, ou eu teria que usá-lo molhado mesmo, porque era o único que eu tinha no momento. Como iriamos de moto, optei por um shortinho busiquinho lavado, e por cima uma camisa leve de botões - que poderia ser usada de diversas formas - listrada em cores branco, salmão e preto. Era da Zara, linda de morrer.
Dei uma amarrada nas pontas dela para não ficar voando muito, enfiei meus óculos na cara, soltei os cabelos e atirei a mochila no ombro.
Meu cabelo estava sem volume, as pontas secas, mas as luzes clarinhas davam o brilho necessário para eu resplandecer. A maquiagem não teve muito segredo: gloss, blush para dar cor e gel de sobrancelha, foi tudo que usei. Estavam na minha necessaire e eu os levaria para o caso de alguma precisão. Também estava levando toalha, canga e protetor. Espirrei meu Chance e espalhei meu desodorante em creme com a mão sob as axilas. Eu usava um da Adcos, maravilhoso!
Por fim, calcei meus chinelos, adorando o destaque das unhas pretinhas no branco da correia, e desci.
Estavam todos lá fora: Fernanda com a Isa nos braços, Bazuca e Ninja descontentes, os seguranças e o Aron, meu amor. Ele trajava uma bermuda branca, camiseta preta e óculos da mesma cor, quadradinho, junto a um boné azul e uma correntinha fininha com crucifixo aparecendo por cima da gola.
Ele também estava de chinelo Kenner e tinha uma mochila no ombro.
A minha aparição o fez virar a cabeça, já que estava de lado conversando com os caras, mas as lentes escuras tampando seus olhos não me permitiram nenhuma ideia do que ele achou da minha produção minimalista, porém delicada e feminina, com acessórios de prata bem pequenos e básicos.
Nos despedimos dos outros e subimos nas motos — eram duas, uma para cada, pilotadas por dois de seus seguranças mais experientes e antigos, pelo que Aron teve tempo de me explicar brevemente antes de eu subir para me aprontar.
Borracha e Muleta estavam caracterizados parcialmente, mas bem realistas, de mototáxis. Levavam, assim como Aron, suas pistolas sob a camisa, na cinta, bem carregadas. A nossa passagem estava "assegurada", em primeiro momento, pela polícia, Aron esclareceu quando lhe perguntei se não nos descobririam mesmo nos passando por passageiros. Ele pagava uma quantia semanal aos polícias militares, e acrescentou "um a mais" essa semana. Se eles não estivessem planejando nada mais lucrativo ou vantajoso, tudo correria conforme o acordado previamente entre ambas as partes. Não que tivessem motivos para prender o Aron, mas, se quisessem mesmo, poderiam muito facilmente arranjar uns dez. E nem teriam que forjar nada; não era segredo que Aron não tinha se regenerado.
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Pique Al-Qaeda
RomanceEle é uma bomba, um perigo. Ela sabe que não deve se arriscar tão perto, que pode se ferir com uma iminente explosão. Lia tem 19 anos, e uma perda a levou para o morro do Sol. Ajudar a família vem em primeiro lugar, até mesmo antes de seus desejos...