Estou distraída, cantarolando, arrumando massas de tomate na prateleira, quando sinto braços largos me fecharem num aperto.
Meus lábios se separam imediatamente — mil dentes num só sorriso.
- Tão trabalhadeira... - ele disse num tom de voz muito macio, dentro do meu ouvido, beijando, roçando a barba.
Meu instinto foi me encolher, mas logo me virei e olhei por cima do ombro dele, temendo que minha avó aparecesse.
- Senti saudade. - ele fechou meu rosto entre suas mãos e seu beijo me empurrou para trás, até a parede do fundo. Meus braços continuaram caídos ao lado do copo. Continuei com o pano sujo na mão, apertando-o, me entregando de olhos fechados àqueles lábios e toques urgentes.
Seu cheirinho característico com certeza tinha algum componente afrodisíaco.
Ele soltou os lábios dos meus, que deviam estar inchados. Possivelmente minha expressão era de " mais, por favor". Sentia o coração dando mortais.
- Quero te ver de novo hoje. - ele disse baixo, olhos injetados.
- Não sei... melhor não. - eu achava estar indo muito sem freio nessa descida. Lá em baixo, eu iria me dar mal.
Ele me soltou, pôs uma das mãos ao lado da minha cabeça, na parede, e com a outra tirou o boné. Num piscar de olhos, colocou de volta, dessa vez, com a aba ao contrário. Sua expressão não era nada satisfeita.
- Tem algum compromisso? - perguntou, a voz neutra, sempre sendo o mais calmo possível, apesar de ser claro o quanto não gostou da minha recusa.
- Não. Não é por isso. - sem perceber, comecei a retorcer o pano, porque o olhar dele ardia. Estar tão perto de alguém como ele, te olhando como ele olha, com superioridade, te faz sentir inferior e burra.
Ele é inteligência, confiança. A competição é desigual demais.
- Já sei. Cansou da brincadeirinha de mocinha e bandido. - sorriu como um cachorro exibindo os dentes antes do ataque. Feio de ver. Amedrontador. - Tô indo nessa.
Avisou, e tentou se virar, mas agarrei sua blusa.
- Espera! - pedi, desesperada por ter irritado ele. - Tenho que te contar uma coisa: minha avó já sabe de tudo. Contei tudo.
- Dai ela te proibiu.
Fiz que não.
- Ela não vai contar nada aos meus pais, está do nosso lado. É muito compreensiva.
Ele pareceu surpreso, mas fez questão de não demonstrar muito.
- Qual é o caô então?
- Nada... só preciso desacelerar um pouco. Tudo muito intenso, sabe?
- Ontem mesmo me disse que tava sentindo várias paradas, Talia. Qual foi, deu tempo de mudar tanto assim de opinião? Ou só mentiu na cara dura mesmo?
- Ei! - fiquei irada ao ouvir o cinismo na pergunta. Soltei sua blusa e cruzei os braços. Era baixa perto da porta enorme que ele era ali, diante de mim. - Não menti! Ontem praticamente me declarei e você ficou mudo, agindo mó estranho. Dai hoje, que resolvo te dar um ar pra respirar, você fica puto também?
- Ar pra respirar? - um sorriso falso passou pelos seus lábios de novo, como um raio. - Tem alguém te esperando? Aquele moleque, por exemplo? - falava do Jc.
Agora eu enxergava a raiva faiscando em seu olhar todas às vezes que ele o mencionava.
- Eu já disse que não tenho nada para fazer.
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Pique Al-Qaeda
Любовные романыEle é uma bomba, um perigo. Ela sabe que não deve se arriscar tão perto, que pode se ferir com uma iminente explosão. Lia tem 19 anos, e uma perda a levou para o morro do Sol. Ajudar a família vem em primeiro lugar, até mesmo antes de seus desejos...