86 Nossa bolha

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Ele trouxe uma blusa seca para mim, que tirou de sua mochila. Jogou ela em seu ombro, e agora me olhava nos olhos, sem pressa, calmo.

- Ergue os braços. - pediu, e eu fiz sem nem precisar pensar.

Ele arrastou minha blusa grudada para cima pela minha barriga, descobrindo minha pele, a passando pela minha cabeça e braços. Um sutiã verde-escuro protegia meus seios.

Seus olhos caminharam bem devagar para baixo, pelo meu colo, descendo mais e se aventurando pelo meu corpo. Logo seus dedos hábeis abriram o botão da minha calça.

Se agachando apoiado em um joelho na minha frente e com olhos curiosos — afinal, eu ainda não estive tão exposta assim para ele, de perto e tal — desceu o jeans pesado de água pelas minhas pernas.

- Tá fria, tadinha... - constatou, ao erguer minha panturrilha para passar meu pé direito para fora do círculo da calça.

- Estou com um pouco de frio. - admiti, apesar de não ser preciso, se levando em conta o tanto de chuva que tomamos.

- Vou te esquentar. - tirou o outro pé e afastou a calça pelo chão, pouco se importando com ela.

A luz de seu aparelho no ouvido ficou vermelha. Ali dentro, aonde parte dos barulhos externos era bloqueada, eu pude ouvir o falatório que ele escutava no fone também. Mudo, não participou de nada daquilo, apenas passou a preparar a camiseta para eu vestir.

Ficou em pé e quando ia enfiando-a pela minha cabeça, o impedi e apertei uma de suas mãos.

- Não vai... Você não precisa, Aron. É o chefe, tem que ficar protegido como todos os chefes fazem. Tem que proteger sua vida.

Suas mãos caíram; ele parecia estar se rendendo, cansado.

- Realmente não preciso se eu não quiser, mas eu quero, Lia. Não posso ficar aqui sendo feliz enquanto o mundo tá se acabando em bala lá fora. Eu tenho que ser exemplo, sacou? - me mira, ternura notável no semblante. Em seu rosto algum sinal de felicidade estava implícito por me ver.

O chamam no fone; me pareceu a voz do Bazuca perguntando por ele. Perguntando aos berros.

- Tô aqui. Tô descendo já, segura ai. - Aron falou, apertando o pequeno botão do microfone, me examinando prolongadamente.

Não posso deixar ele sair daqui... Não sei bem porque, mas não posso, nesse momento pelo menos, permitir que ele abra aquela porta e vá debaixo de chuva enfrentar seja la o que lhe espera.

Será que consigo impedir? Eu posso?

- Veste essa camisa, depois tu troca a calcinha e o sutiã. Tem algum seco na sua... - ele pausou seus movimentos e sua fala ao perceber o que eu estava fazendo.

Regressei um passo, retorcendo as mãos nas minhas costas, deixando meu olhar perdido junto ao seu.

Soltei o fecho do sutiã e tirei as alças pelos ombros, permitindo que a peça caísse no chão.

Ele não se mexeu, mas não resistiu por muito tempo e teve que olhar meus seios - os olhos mudaram de direção numa só piscada. Encaravam agora meus mamilos enrijecidos. Ele parecia pasmo. Pego desprevenido. Atormentado e estagnado.

- Você mesmo disse que não precisa. Por que não avisa que vai demorar um pouco? - empurrei as laterais da calcinha para baixo com os polegares, vagarosamente, enquanto ele seguia observando vidrado.

- Não posso... - ele queria se negar, só que seus olhos me comiam viva.

Ele ia se privar do prazer para manter sua honra de homem?

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