71 - Meu coração sussurra

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Tive que dar explicações em casa, como era de se esperar. Minha avó e meu pai (aleluia) ouviram os gritos, mas não entenderam o contexto.

Eles foram cuidadosos comigo quando contei que eu e a Fabi brigamos pra valer e que eu não queria falar sobre o assunto naquele momento.

Me tranquei no quarto, a janela fechada.

Como aquilo aconteceu?

Minha cabeça parecia um campo minado com várias bombas explodindo ao mesmo tempo.

Dormi o resto do domingo. Quando foi a noite, minha avó me chamou para ir á missa. Não quis correr o risco de encontrar a Cibele antes do tempo necessário. Na segunda eu saberia as proporções do que aconteceu com o Júlio e se ela estaria zangada comigo.

Fiquei deitada na sala vendo tv e devorando um pote de sorvete de chocolate com pedaços crocantes. Para brindar meu dia, minha menstruação desceu.

Papai trouxe um x- tudo para mim, que me entregou com um copo de coca após beijar minha cabeça, logo que chegaram da missa. Ele e vovó me mimaram, me deram carinho e atenção por um tempo, tentando me animar enquanto víamos um filme antigo (Malditas aranhas) na sala. Acolhi os conselhos sobre amizade, e ligamos juntos pra minha mãe. Ela percebeu meu olho inchado do choro(todos estavam preocupados e cheios de dengo comigo, porque era sempre assim quando algo me chateava) e meu pai contou o que houve. Ela não acreditou que eu e Fabi, tão unidas desde sempre, tínhamos brigado nesse nível. Nem eu acreditava. Eu amava ela. Amava mesmo.

O motivo que dei foi banal, o que tornava tudo pior. A mentira era uma droga que viciava. Como eu poderia julgar a Fabi, não é mesmo? Quem era eu? Ainda assim eu sentia raiva de imaginar ela mentido sobre aquilo. De pensar nos dois juntos.

Ele me ligou. Eu nem atendi.

***

Segunda, encontrei a Cibele na cozinha de casa pela manhã. Ela me tratou normalmente, embora estivesse um pouco assustada, pois, disse que Júlio nunca havia se envolvido numa briga antes. A informação também preocupou a vovó, que coava café pra todos nós. Cibele contava mais e limpava os armários. Através dela eu soube que Júlio escondeu a verdade e inventou uma briga para justificar os ferimentos.

Ignorando firmemente a mensagem do Aron desde domingo de manhã, abri o whatsapp. Como ele não era de insistência com mulher, não mandou mais nada até então. Digitei um texto gigante para o Júlio, tentando acrescentar o máximo de palavras que coubessem no meu sincero pedido de desculpas. Ele visualizou e não respondeu, como eu fiz com as mensagens do meu irmão e amigas.

Léo era mais insistente, me ligou para saber detalhes. Contei logo tudo, porque com ele e com minha avó eu podia desabafar. Vovó saberia de tudo no momento certo, ele saberia naquele momento errado mesmo, porque eu precisava falar sobre com alguém ou explodiria.

Meu irmão disse o mesmo que eu já sabia - eu precisava sair fora logo disso. Se nossos pais descobrissem, toda a família seria afetada - eles iam me querer longe daqui e teriam de resolver de outras formas a questão do mercado. Fechar e magoar minha avó? Nos mudar e destruir a carreira política da minha mãe? Meu pai vir sozinho e eles ficarem separados? Por gente estranha para cuidar do nosso legado?

Inferno...

Eu estava daquele jeito quando fui trabalhar à tarde, né? Uma bela de uma TPM, amargurada com a vida e borocoxô pela Fabi, Jc, Aron. Tudo. Tudo que deu errado junto. Quanta sorte...

Fiz as tarefas mal feitas, comi vários doces e nada de o Aron mandar mais mensagem ou Fabi aparecer, ou Jc responder. Eu estava ansiosa, agoniada, aflita, com medo de tudo e muito melancólica.

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