Entro no banheiro e ligo — não estou com paciência para esperar ele responder.
Ele recusa a ligação.
Não acredito!
Ai, meu ego... que golpe.
Sento no vaso e deito as costas na parede atrás de mim, cobrindo o rosto.
Eu não tô bem... não vou ficar bem nunca!
Estou louca, sentindo ciúmes de uma garota falar sobre ele... No fim, sei que briguei com a Fabi por ciúmes também. Se ele soubesse o quanto está me deixando doente, não teria tanta insegurança!
O problema é que se eu me sentir menosprezada não consigo admitir meus sentimentos como faço quando ele é gentil. Tenho mania de ter que ser superior em todas as situações e querer provar que gosto menos que ele ao me sentir ameaçada quando, na realidade, acho que gosto mais. Sou a principiante, despreparada, namorei uma vez e um menino que era quase de dentro de casa. Um gay que me usou para disfarçar sua sexualidade. José me proporcionou o relacionamento mais sem graça e sem sal que uma mulher pode ter. Ai vem o Aron, cheio de tempero baiano e pimenta calabresa, botando fogo em tudo, me mostrando o que é um homem de verdade. Me viciando em sua pegada, seu beijo e até em seus mínimos gestos e detalhes, como ser cheiroso pra caramba. Gostoso pra caramba. Macho pra caramba.
Dono de mim pra caramba!
Eu te entendo, Melissa... Estou a ponto de quebrar seu pescoço de ciúmes, mas eu te entendo.
Quando estamos bem, eu sempre me declaro para ele, permitindo que meu lado romântico se aflore, vivendo as mais diversas emoções, todas de uma vez só. Como foi ontem, quando fiquei bêbada e me peguei mandando mensagem. Eu nem sabia que era assim. Eu não me conhecia. Ele está me fazendo descobrir nuances da minha personalidade que antes estavam adormecidas. Despertas pelo fogo consumidor da paixão, essas minhas novas características me levam a ser egoísta, cruel, ciumenta, volúvel, renegando meus princípios e valores.
E ele não acredita em mim!
Por que é mais fácil ele considerar as ofensas que solto na hora da raiva do que minhas declarações sinceras?
Anseio por ser dele, que ele seja meu. Na condição em que me encontro não duvido de que tenho potencial para ser um fantoche em suas mãos. E ele ainda acha que é o contrário...
Sorte a minha que consigo disfarçar bem, ou estaria agora mesmo ligando novamente igual uma dependente emocional. Bem, é minha real vontade.
Se eu não soubesse que ele deve ter recusado devido a estar ao lado da Yara, até ligaria de novo. Mas eu não vou me sujeitar!
Bato os dedos na tela do celular, exacerbada, escrevendo uma mensagem.
" Ok, não precisa atender, mas não me procura NUNCA mais! "
Aperto em enviar, puta, a cólera invadindo minha corrente sanguínea.
Quando, vencida, eu ia abrindo a porta para sair do banheiro, o celular vibrou. Eu agora deixava sempre no silencioso por precaução.
Era ele, e eu senti a raiva recuando um pouco em meu sangue, como um efeito reverso num filme, as plaquetas e os leucócitos retrocedendo.
Enfim, de cara amarrada, atendi.
Eu mantinha a pose de superior mesmo sabendo que nunca estive tão vulnerável. E mesmo sabendo que ele não me via do outro lado da linha.- Que foi? - falei logo assim.
- Ou, calma ai... Eu não podia atender aquela hora. Tô retornando agora, o que você precisa?
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Pique Al-Qaeda
RomanceEle é uma bomba, um perigo. Ela sabe que não deve se arriscar tão perto, que pode se ferir com uma iminente explosão. Lia tem 19 anos, e uma perda a levou para o morro do Sol. Ajudar a família vem em primeiro lugar, até mesmo antes de seus desejos...