48 Carícias

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Minha revelação provocou certo prazer nele.

- Claro que te notei. Acho que tu deve lembrar quando eu e o Ninja passamos de moto na frente da mercearia e tu tava atrás do caixa com esses olhos brilhantes observando curiosa o movimento. Lembra que eu passei na garupa dele e fiquei te olhando? - indaga.

- Lembro... mas achei que estava me olhando como que dando um aviso, tipo:" Para de me olhar, pirralha! Perdeu alguma coisa aqui?" - engrosso a voz.

Ele nega, o olhar concentrado. Meu coração faz tum-tum mais rápido no peito.

- Na moral? Eu tava pensando: " ela tá mesmo me dando moral?" " Essa princesa?"

- Eu não estava te dando moral. - finjo arrogância.

Ele parece lisonjeado com a constatação da mentira em meu rosto.

- Só te achei muito gato, só isso. Deve ser normal pra você. - emendei.

- Normal era antes de eu cair na tranca. Aquele dia lá fazia pouco mais de vinte e quatro horas que eu tinha ganhado a rua. Muitos anos sem ver uma mina diferente me olhando daquela forma. Lá dentro, tu só enxerga tua visita. A visita dos irmãos, são homens pra gente. Tinha quatro anos... e a primeira que me olha é justo você. Uma bonequinha. Toda assustada... ingênua... - roda meus cabelos mais uma vez em torno de sua mão. Minha cabeça se desloca um pouco, mas não doi. O que dói é essa vontade de senti-lo mais intimamente em todos os lugares.

Preciso me distrair desses pensamentos. Decido isso quando ele volta a me beijar com toda sua energia máscula e entusiamo.

Sua outra mão me espreme; seus lábios molhados descem pelo meu pescoço. Me encolho, e ele sussurra:

- Não vou te deixar marcada... jamais faria isso sabendo que tu não pode - passa a barba de levinho, me causando muito desespero.

Quando aquilo entre suas pernas começa a ficar muito mais enrijecido do que estava, e ele me joga de costas na cama, apertando aquela rigidez entre minhas pernas abertas, tomo ar, consciência e o empurro com as mãos em seu peitoral liso. Ele se apoia e paira sobre mim, a corrente em seu pescoço balançando.

Ele é irresistível, mas preciso resistir.

- Não estou preparada para passar dos beijos ainda. - ele se afasta, porque percebe que quero sentar.

Senta ao meu lado, que arrumo o cabelo e passo a mão no rosto, me controlando. Controlando a fera que vive dentro de mim e quer fazer todas as loucuras sexuais que não fez uma vida inteira.

Olho de lado pra essa tentação. Ele parece tão compreensivo que me irrita. Queria que ele fosse esses caras que não param quando... espera, tô pensando merda. Adorei a atitude dele de se afastar quando pedi. Ele tem tanto autocontrole que sinto inveja.

- Acho que teríamos que ter mais intimidade pra isso. E você teria de ser solteiro.

Ele bufa, coça o alto da cabeça.

- Quase dando esse papo na Yara por celular mesmo, sem neurose. - faz que não, mostrando por um segundo que é de carne e osso, que está maluco também para ir adiante.

- De todo jeito eu... minha avó disse... mas só que... - eu gesticulava, aflita.

Ele pareceu entender.

- Vou te respeitar, Talia. - aquelas poucas palavras inflaram meu coração. Mais ainda.

Peguei a mão dele e me ajoelhei no colchão, nas roupas que me deixavam parecendo uma sapatão.

- Obrigada. Obrigada, porque já ouvi casos de amigas minhas que não queriam e os caras ficavam putos. Alguns até forçavam uma situação desagradável. Você poderia fazer isso se quisesse, poderia tudo que quisesse, mas me surpreende cada vez mais. - abri tudo que pensava. Estava orgulhosa dele e queria, achava que ele precisava saber.

Seu semblante se transformou numa carranca que me assustou.

- Eu jamais tocaria numa mulher sem a permissão dela. Porra, isso aqui na minha favela é considerado como estrupo, ta maluca? Eu odeio estuprador. O-de-io! Se eu pudesse caçava todos e... - ele se interrompeu, o rosto vermelho, o maxilar tensionado. Ele não era fácil de se abalar, mas estava bem abalado diante dos meus olhos.

Devia existir um motivo grave...

- Aron, desculpa. Eu não quis...

- Deixa isso pra lá. - recobrou a paciência de monge típica, sorriu e me abraçou. Seu sorriso ainda era meio nublado de raiva, e fiquei me roendo pra saber o que motivava isso, mas não tive audácia de perguntar.

Ficamos de chamego gostoso, nos beijando, fazendo carinhos no outro e conversando sobre um monte de coisas, deitados, de boa, em sua cama confortável. Lá em baixo, parecia estar acontecendo uma festança. Num momento, me esquivei da cama, contra a vontade dele e fui espiar pelo vidro. Tava lotado de mulher de todas as cores de cabelo e tipos diferentes. De homens, só Bazuca, com uma loira maravilhosa no colo e o Ninja, quase transando com outra em cima do Flamingo. Então, vi também alguns dos seguranças que andava com eles sorrindo e batendo papo com umas novinhas mal vestidas, porém, bonitinhas de corpo. Não pude ver bem os rostos.

Alcaida me abraçou por trás. A mão numa cordinha, fez a persiana cair, nos mantendo reclusos nesse quarto, o que não era nada mal. O quarto era fodastico.

- Sempre tem essas festinhas aqui? - perguntei, rindo dos beijos que ele dava no meu ombro, porém sentindo certo incômodo com a verdade de que, quando eu não estava, ou a namorada dele — era nojento pensar nisso e eu queria evitar para não me odiar mais —, ele participava dessas orgias loucas.

Eu não estava com ciúmes, né?

Bem...

Foi o que pareceu quando ele desconversou e meu sangue talhou.

- Isso é coisa deles... - me girou de frente para ele e me pegou no colo como antes, segurando minhas pernas. - Não queria que a madrugada acabasse, papo reto. Não quero te levar embora.

O olhar caidinho nos cantos era sincero, me causando arrepios na nuca. A fúria foi de ralo.

Esqueci as ideias erradas e me pendurei nele, como se ele fosse um tronco de árvore. Na boa? Era mesmo, com toda aquela força e músculos. Se ele quisesse me imobilizar, faria com uma das mãos e de olhos fechados.

Mas a real, é que ele me tratava como se eu fosse de louça. Hora ou outra um puxão de cabelo, uma mordida no lábio e uma apertada mais violenta. Fora isso, ele tinha muito cuidado para não me marcar ou machucar. Cacara... eu estava me apaixonando de verdade! Era insano!

Disse a ele, que me levando antes das seis estava de bom tamanho, pois era o horário que minha avó acordava para fazer café e varrer a calçada lá fora. Ele olhou no relógio e voltou a me beijar ao garantir faltar algum tempo ainda.

Sua boca era perfeita!

Pedi para pentear e secar os cabelos, então ele me levou ao seu closet. Lá, além de roupas de qualidade e ainda com as etiquetas de marcas caras exibindo preços exorbitantes, também tinham coleções de bonés, relógios, tênis, muitas joias que ele não usa, mas que pagariam apartamentos na Barra da Tijuca. Algumas eram simples como ele gostava, outras mais exageradas e bregas. Um dos cordões tinha uma bomba de rubi como pingente, e o cordão era da grossura do meu pulso. Era absurdamente feio, mas absurdamente caro também. Pesava pra caramba! Ouro puro! Rubis!

Contei umas oito dedeiras e brinquinhos pequenos de diamante — porque ele tinha orelha furada. Me contou que suas jóias ficaram na posse do Ninja durante seu período na prisão. Agora retornaram a ele, mas ele já não tinha o mesmo gosto de quatro anos atrás.

- Ainda bem, né? - brinquei. Ele riu e me girou no ar. A gente se implicava e se tocava o tempo todo, porque era muito novo pra nós essa liberdade com o corpo do outro. Antes era só toques de mão, abraços e olhares. Agora a gente podia beijar de língua, sentir o gosto, o cheiro e o calor da pele e não economizávamos carícias.

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