20 - Conselho, lágrimas e resposta

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Hoje é segunda. Não sai para comer com o Júlio ontem.

Assim que chegamos da praia, no final da tarde, combinamos de passar em nossas casas e tomar um banho antes de nós encontrarmos para procurar um x- tudão que matasse nossa fome monstruosa. Até parecia que eu tinha fumado um baseado com ele... meu estômago estava roncando!

Acabei de sair do banho, os cabelos molhados e a pele sensível do sol, então fui passar um hidratante. Tenho dificuldade em pegar marquinha. O sinal ficou só nos seios mesmo, bem vermelhinho, mas hoje quase não tem mais nada.

Voltando, enrolei a toalha no cabelo e abri as portas do meu guarda-roupa em busca de uma opção confortável e leve a qual vestir. A cabeça da vovó apareceu flutuando pela fresta da porta.

A convidei para entrar.

Ela não estava ali atoa, queria saber como foi minha tarde. Porém, mais que isso, descobrir se eu havia feito as pazes com o Júlio.

Vesti uma calcinha enquanto ela passava a ponta do dedo na minha cômoda, conferindo se eu a estava mantendo limpa.

- Sim, vó, fizemos as pazes. Vamos até sair hoje para comer x-tudão. – procurei um sutiã na gaveta, sentindo sua atenção em mim. Ela disfarçou, dobrando uma blusa minha que achou jogada em meio às tranqueiras sobre a cômoda.

- Se beijaram? – a pergunta que me pegou desarmada, tinha um tom despretensioso, ainda que não fosse.

- Isso é pergunta que se faça, vó? – aumentei, ultrajada, minha voz.

Acabamos rindo, e vesti meu sutiã.

- Beijou, né? Olha ai sua carinha... tá coradinha de sol, mas também de sem-vergonhice. – segurava a blusa pendurada no braço junto a barriga, me sondando.

Continuei desenrolando a alça do meu sutiã, sem olha-la.

- Tenho a pior família do mundo... – murmurei. Ela sabia que eu não falava sério.

Andou do seu jeitinho, arrastando os chinelos, até mim. Ergueu meu queixo com o dedo, e nos olhamos.

- Você cresceu muito depressa, Lia... é uma mulher agora. Em breve vai se casar, ter filhos... Por isso, quero que escolha bem a quem entregar seu coração e seu corpo. Você tem família, tem pai, mãe, irmão, avós que te amam, se importam e que não vão deixar sujeito nenhum te fazer sofrer. Quero que seu futuro casamento seja feliz como o meu foi, como o do seu pai é. – a boquinha um pouco flácida se comprimiu num mini sorriso. – E com este corpinho de violão, vai ser moleza de arrumar um marido... – abaixou os olhos atrevidos, recuando para uma checagem.

- Ah não, vó! Começou! – dei as costas e enfiei os olhos em meus cabides, ganhando um tapinha na bunda.

- Bundinha durinha, olha só... Ah, meus dezenove anos... Eu era assim, como você. Colocava aqueles vestidinhos bem coladinhos, sabe? – deslizou a mão pelo seu corpo.

Por sobre o ombro, olhei incrédula em sua direção, desenrolando a toalha do meu cabelo.

- É... eu me vestia bem bonita. Não gostava de roupa muito larga nem muito cumprida. Meu cabelo era escuro, liso. Sempre muito liso e brilhante, porque eu passava muita babosa. – empurra o óculos, inclinando a cabeça para mim em tom confidente. – Eu era uma gostosura! Seu avó ficou de quatro assim que me viu.

- AH, MEUS DEUS! – gargalhei, reclinando a cabeça. – Socorro, vó!

- Ué, e você acha que veio de onde? Se eu não tivesse feito muito amor com o Natanael, não existia Liazinha nenhuma. – ela ri, fechando os olhos e meio que se balançando diante das lembranças.

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