55 Mulher do chefe

389 27 7
                                    

- Jc avisou que vai esperar a gente lá na rua do baile. Aaaaaaaa! Não tô acreditando ainda que você, justo você, vai comigo ao baile, mano! - Fabi faz uma festa enquanto me assiste terminar de colocar meu brinco.

Está pronta há uns dez minutos, muito feliz por, com o Jc, terem convencido o meu pai a me deixar ir. Obviamente isso só foi possível após algumas tantas cervejas. Ainda assim ele relutou, mas o truque final foi eu ligar pra minha mãe. Bastou eu fazer drama pra ela convencê-lo de que sua filha, que abriu mão de tudo em sua cidade Natal para vir cuidar dos negócios da família e se sacrifica tanto e só trabalha, merece se divertir um pouco. Disse que sou nova e que quando ele era da minha idade ia em todos os bailes. Minha avó confirmou na hora. Pronto, bastou. Amoleceram o coração dele. Fui autorizada, desde que não deixasse o celular desligado.

Meu irmão mandou mensagem, cheio de inveja, me acusando de ser a filha preferida. Eu respondi que era mesmo, só pra pilhar ele ainda mais. A gente se amava muito. Ele me deu dezenas de recomendações sobre como me comportar. Ele achava que sabia porque via vídeos sobre o assunto.

Viemos para a casa da Fabi nos arrumar com mais privacidade. Irei dormir aqui também.

- É, mas se meu pai estiver acordado e ver que a luz aqui da sua casa ainda está acesa, já vai implicar por eu estar saindo tão tarde. - digo, verificando no celular que já são duas da madrugada.

Ela pega um vidro de perfume em cima de sua cômoda de sucupira, espirrando no corpo inteiro, me fazendo tossir.

- Seu pai, assim como minha mãe, devem estar em coma alcoólico há essa hora, gata. Eles beberam três fardinhos de latão. Três. - responde ela, confiante.

- Isso é verdade. - me afasto em direção a porta de seu quarto para não morrer sem ar, e ela ri.

Me olhando com superioridade de quem conhece tudinho sobre o assunto, diz:

- Vida, o baile só bomba mesmo depois das duas. E tá marcado pro Chefinho subir no palco às três, então amor, esquece, as pessoas mais importantes vão estar chegando juntinho com a gente.

Ela está soltando fogos porque hoje tem show do Chefin. Foi o que a fez pedir a minha avó e meu pai por mim.

Sigo até sua cama e tiro meu perfume Chance Chanel da bolsa que trouxe com minhas coisas. Também espirro bastante no ponto abaixo das orelhas, pulsos, joelhos, abaixo do umbigo, e umas duas borrifadas no ar para eu cair sob uma chuva cheirosa.

Agora eu quem faço uma pose de mulher sensual e sorrio, mastigando o Trident que ela me deu. E ela corre pra porta, tossindo exageradamente.

- E quem seriam essas pessoas importantes? - pergunto com essa tranquilidade, porque ativei meu modo " amiga-traidora-falsa-mentirosa". Não vou deixar transparecer que fiquei com alguém muito "importante" no morro, cujo nome não preciso dizer qual é - todos já sabem quem são as três figuras mais famosas do lugar. Dentre eles, o que mais se destaca também não é nenhum mistério.

Ela, Jc e minha família. Absolutamente nenhum deles pode saber do meu deslize. Eu meio que sinto vergonha. Não pelo Aron ser bandido ou um cafajeste, ou um maníaco canalha, mas sim, por ser casado e por eu acreditar que ele terminaria tudo.

Fabi, ainda na piscina de casa, me levou pro cantinho e mostrou o twitter de notícias do morro: Babados do Sol.

Numa publicação, estavam informando a chegada da Yara ontem à noite, o que confirma minha teoria sobre os motivos de ter levado um bolo.

Contudo, não tenho do que reclamar, tenho?

Quando foi que ele mentiu para mim? Eu sabia que existia outra mulher. Melhor, eu sabia que eu seria a outra.
Ele, provavelmente, não a ama, mas tem uma responsabilidade com ela, que esteve firme e forte ao seu lado nos piores momentos e devia conhecê-lo melhor do que eu jamais poderia.

Pique Al-Qaeda Onde histórias criam vida. Descubra agora