67 Dose diária

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Ele trouxe uma garrafinha d'água, uma coca, copos e uma caixa grande de pizza.

Eu quis beber coca-cola, ele bebeu a água dele mesmo. Era tão saudável... por isso era sarado e eu, não.

Enfim... comemos cada um dois pedaços, quando, na verdade, eu queria comer três, mas fiquei meio que fazendo tipinho. Se arrependimento matasse...

Ele come muito pouco, gente. Ódio!

Ele me deu uma escova. Bem... jogou a escova na cama e me chamou pro banheiro.

Eu era preguiçosa, mas com essas coisas eu não brincava. Aproveitei para perguntar se tinha toalha: eu precisava de um banho, se é que vocês me entendem.

Ele arranjou duas, disse que ia tomar também.

Antes, escovamos os dentes, porque já estávamos ali mesmo e... acho que queríamos fazer algo juntos.

Fiquei implicando com ele pela escova rosa que estava usando. É, eu tinha um espírito de quinta série que ainda habitava em mim. Ele se justificou, dizendo que só tinha aquelas duas escovas rosas novas na gavetinha. Fiz careta brava, para insinuar que ele mentiu quando disse que não trouxe mulheres ali.

Ele cuspiu espuma na pia.

- A coroa que da uma geral aqui quem compra os bagulhos. Vou levar um teti a teti com ela, pode deixar. - ele ria enquanto eu fazia cena, virando a cabeça para o outro lado, como se estivesse emburrada, a mão na cintura e a boca entupida de espuma.

- Sai a i nhambém, entiroso. - eu disse fanha por causa da boca cheia, empurrando ele com quadril e usando a água da torneira aberta para enxaguar. - A cara não arde não? - perguntei, olhando para ele pelo espelho.

Ele não parava de rir de mim. Ódio de novo. Meu ciúme não era teatro. Eu queria aquele homem só para mim, o que era patético se considerando as circunstâncias.

- Humm... ciumentinha, é? - beijou meu pescoço com a boca molhada, circulando minha cintura com as mãos e me espremendo na pia. - Será mesmo que posso acreditar em tu e nesse papinho mandado ai?

- Como assim? - sequei a boca numa das toalhas brancas que ele havia pegado, me virando.

- Posso botar fé na tua história? - ele pergunta, meio que querendo levar pro lado da zoação, mas falando sério ao mesmo tempo.

- Não vale se eu falar que sim. Melhor você mesmo descobrir. - me pendurei em seu pescoço; ele me jogou facilmente em cima da pia, que não parecia suportar muita coisa, embora tenha suportado meus cinquenta e dois quilos.

- Quero ver tua cara enquanto tu diz. - ele agora não estava brincando.

Eu me intimidei, corando.

- Dizer o quê, por exemplo? Que eu tô apaixonada? Que eu dormiria com você até num colchão velho, num barraco caindo aos pedaços, se fosse o caso? Não vou dizer, meu querido. Você vai ter que tirar suas próprias conclusões. - arrebitei uma sobrancelha.

Ele ficou em silêncio, como fazia quando eu dava um fecho. Parecia estar procurando a verdade ou mentira na minha cara.

Trocamos aqueles mesmos olhares do começo, que dizem tanto sem absolutamente nada.

- Que foi, hein? - faço patinhas de aranha com os dedos, andando com eles pelo seu ombro e pescoço.

Estreito o olhar, bancando a misteriosa que nem ele, de fato, é.

- Mania de ficar calado, me olhando assim... - fiz aranha com a outra mão agora. "Fazer aranha" era como eu falava com o daddy na infância.

Aron balançou a cabeça. Havia uma expressão de contentamento em sua face.

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