Capítulo 5 - Peculiar

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Dumbledore foi conversar e se despedir dos aurores, Aberforth olhou para a garota carrancuda.
- As ataduras que invocou não estão segurando o sangramento. Retire-as, eu vou cuidar disso.

- Eu já disse que feitiços de cura não funcionam comigo. - disse ela revirando os olhos.

- Sim, você me explicou. Mas eu posso limpar o ferimento, e fazer um curativo como os trouxas fazem, ou estes também não funcionam? - disse ele calmamente.

- Funcionam. - ela engoliu em seco parecendo vulnerável. - Eu só não quero que ninguém me toque, você... Você não entenderia se eu explicasse...

- Eu entendo mais do que você imagina menina. - disse ele com seriedade - eu vou começar cuidando desse corte que você tem na testa, e depois quando você estiver mais calma, poderemos cuidar da sua perna, o que acha? - ele olhou para ela arqueando a sobrancelha.

- Como você..? - ela piscou algumas vezes e balançou a cabeça para si mesma. - Não importa, acho que você pode me ajudar com minha testa, mas deixe que eu cuido da minha perna, e se eu me afastar de você não force a situação. - o lábio dela tremia de leve, mas ela se forçava a se manter controlada.

Ele a levou ao segundo andar do bar, onde tinha um buraco gigante no assoalho, ele apontou a varinha e concertou rapidamente, eles entraram numa saleta onde tinha uma mesa e dois sofás encardidos e uma poltrona rasgada. Ele abriu um armário empoeirado e retirou uns frascos e algodão de lá, então molhou um chumaço de algodão com um unguento e começou a limpar o corte na testa dela. De início ela recuou algumas vezes ao toque, mas Aberforth era calmo e compreensivo, não de uma forma forçada, ele apenas esperava o tempo dela, e não a olhava com pena, era como se ele tivesse todo o tempo do mundo. Aquilo a tranquilizou, e logo seu rosto estava limpo, Aberforth retirava alguns estilhaços do couro cabeludo dela quando Alvo Dumbledore entrou na sala com sua capa azul escura salpicada de estrelas.

- Eu não vou trabalhar em Hogwarts se quer saber. - disse ela sem olhar para Dumbledore.

- Acredito que saiba diversos feitiços de defesa não?

Ela encarou o diretor e deu um suspiro irritado.
- Não gosto de crianças.

- Porque não usa feitiços de cura para os ferimentos? - perguntou Alvo se sentando no sofá a frente deles.

- Por que não funcionam nela. - disse Aberforth rabugento.

- E quais outros feitiços não funcionam? - perguntou o diretor se abaixando para olhar para a garota que estava com a cabeça baixa e o cabelo todo pra frente tapando o rosto, seria uma cena cômica, se Ella não estivesse tão desconfortável em responder.

- Não é o momento para você saber. - disse ela hesitante.

- Diga logo o que ele quer saber, antes que ele use legilimencia em você. - disse Aberforth.

- Legilimencia não funciona nela - disse Alvo se endireitando e cruzando as mãos a frente do corpo.

Ela suspirou com irritação.
- Não uso oclumência como Snape. Como eu já disse, não consigo usar magia sombria. E tampouco sou legilimens, é mais... Complicado.

  Aberforth usou um feitiço de limpeza para limpar o sangue grudado nos cabelos dela, e começou a aplicar unguento no couro cabeludo dela. Alvo olhava para ela com curiosidade.

- Me conte, adoraria entender como consegue desvendar alguns pensamentos meus e de bruxos poderosos como Alastor Moody.

- Não leio mentes, eu leio... Emoções. Por isso o seu uso de oclumência não funciona comigo, porque não é a sua mente que estou desvendando, mas sim a forma como se sente.

- Incrível! Você consegue saber o que uma pessoa sente no momento que fala com você? - perguntou Alvo interessado.

Aberforth parou o que estava fazendo e se sentou no banquinho ao lado da garota, parecendo interessado também. Ela arrumou seus longos cabelos pretos num coque frouxo e encarou os dois bruxos com um ar desconfiado.

- Consigo desvendar qualquer sentimento que a pessoa já sentiu durante sua vida, e isso me leva a deduções que quase sempre estão corretas, consigo deduzir de acordo com a intensidade do sentimento, o tempo que se sentiu, se foi reprimido ou não, entre outros fatores. Mas só adquiri a habilidade que tenho hoje com o tempo, quando criança era mais sutil, com o passar dos anos fui aperfeiçoando meus poderes.

- É por isso que aquele cara estava atrás de você? - perguntou Aberforth preocupado.

- Sim e não. É mais complicado do que parece. Mas por favor, não quero falar sobre ele. - disse ela abaixando a cabeça e trocando as ataduras da perna pela terceira vez, mas o sangue não estancava.

- Feitiços de cura não funcionam em você, e feitiços das trevas você não consegue realizar, e o que mais? - perguntou Alvo parecendo distraído.

- Não consigo bloquear feitiços, consigo desviar feitiços com a varinha mas dificilmente faço, para não ferir ninguém ao redor, mas tem um lado bom nisso, nenhum feitiço de proteção me afeta, e consigo aparatar e desaparatar onde quiser, consigo entrar em sair de lugares protegidos sem ser notada. - Aberforth deu um assovio de surpresa e Alvo continuou distraído. - não consigo realizar nenhuma das maldições imperdoáveis, e nem feitiços das trevas, e eles me afetam muito mais do que a outros bruxos, mas em compensação não seres trevosos como dementadores, mortalhas vivas e bichos papão não me afetam, e consigo os repelir com facilidade.

- Com que facilidade? - perguntou Alvo que agora encarava a garota.

Ela deu de ombros, fez um movimento acima de sua cabeça e sussurrou com elegância "Expecto Patronum", da ponta de sua varinha saíram um após o outro, Qilins filhotes saltitantes, foram 7 ao todo, eles brincavam ao redor da sala, e um sentimento maravilhoso tomou conta dos irmãos Dumbledore que sorriram sem tirar os olhos dos patronos como se estivessem hipnotizados, os Qilins não eram apenas azulados como um patrono comum, eram resplandecentes, e a luz que emanavam trazia emoções boas, como felicidade genuína, esperança de que tudo iria melhorar, e um sentimento diferente que faria qualquer coração partido se tornar inteiro, era o oposto do que os dementadores faziam, a emoção atrelada a luz daqueles patronos trazia a sensação de redenção, e quando se dissiparam haviam lágrimas nos olhos dos dois irmãos, que se encararam como se acordassem de um sonho.

Aberforth saiu do quarto de supetão, e Alvo Dumbledore secou seus olhos discretamente, e encarou o chão por alguns segundos, antes de respirar fundo e olhar para a garota com um sorriso triste no rosto.
- Bom, isso realmente foi alguma coisa. Podemos ir ao meu escritório para discutir sua magia?

A Princesa Mestiça e a Ordem da FênixOnde histórias criam vida. Descubra agora